Por Raquel Passos
Quem diria que Daniel Ramos, um aspirante a missionário, após assumir sua orientação sexual, se tornaria adepto de religião de matriz africana, influenciado pelo seu namorado, Pábulo Henrique. Mas até o livro da história desse casal chegar nesse capítulo, a vida tratou de dar algumas idas e vindas para os elos desse amor se fortalecer ainda mais.
Antes de cursar Odontologia na Universidade Tiradentes, a profissão de sua vida, Daniel Ramos chegou a cursar Jornalismo também na Unit. Nessa época, a estrutura da boca ainda não servia para aprender sua anatomia e a dos dentes, mas era por meio dela que Daniel soltava a voz quando se tratava da disciplina de Telejornalismo. “Cheguei a fazer um curso em São Paulo, na Faculdade Cásper Líbero”, lembra.
Na mesma sala de aula, estava Pábulo. Hoje ele diz que nessa época já percebia que Daniel tinha um brilho especial, mas conta de uma forma inusitada, típica de quem ama: “Ele vivia querendo se aparecer só porque se portava bem diante da câmera, aff, era um chato. Todo mundo gostava dele, e eu que era do Unit Notícias na época, ficava comentando sobre essa sua chatice com minha galera porque chamou atenção de como ele gostava de falar bastante”.
Poderia ser, mas não foi o telejornalismo que os uniu. E sim os livros.
Depois de sua temporada no curso de Comunicação Social, Daniel resolveu que iniciaria o curso de Odontologia. Como sempre investiu em bons livros para os estudos, sabia que seu acervo poderia ser útil para os então ex-colegas que permaneceriam no curso. “Quando ele trancou a disciplina, montou um grupo no Whatsapp para distribuição de seus livros de Jornalismo. o grupo era para saber quem tinha interesse em alguns de seus títulos e lá estava eu, fui adicionado ao grupo! Ainda que ele fosse muito chato, ele tinha os melhores livros e eu queria muitos! (risos)”, relembra Pábulo Henrique.
Mas se não fosse o poder de conexão de Daniel, será que essa história de amor vingaria? “Na hora que eu fui agradecer, ele começou a me paquerar, pedindo ‘algo’ em troca, sabe? Foi quando começamos a conversar, mas ele se ausentou, sumiu por um ano e de repente ele voltou. Iniciamos nossos papos de novo, nessa época brigamos muito, eu me formei e depois de um ano e meio, retomamos o contato. Já estamos juntos há quase dois anos, morando juntos, e construindo uma família com nossas duas filhas (cachorras), Lupita e Lua; e hoje ele é meu sócio na área de Comunicação”, conta Pábulo.
A ausência foi justificada. Daniel precisou tirar um tempo para organizar sua vida espiritual. “Acabei me afastando para orar. Quando voltei, assumi quem eu realmente era, porque era isso que me faltava. Ser quem você é não quer dizer se você tem Deus ou não. Mas a realidade da religião nós é bem diferente. É como Gil do Vigor, do BBB, falou em um de seus discursos sobre como sofria na igreja para se portar do jeito ‘certo’. Eu e muitos jovens se reconhecem nessa fala dele. Como eu tinha o desejo de doar minha vida aos pobres como missionário, hoje meu sonho é ter uma boa vida financeira para continuar fazendo filantropia com meu projeto @superdentinhos, construindo mais sorrisos por aí”, relata emocionado Daniel Ramos.
Enquanto Daniel era devoto da Igreja Católica, Pábulo percebia sua conexão com religião de matriz africana. “Estava descobrindo que eu era candomblecista. E então eu comecei a desconstruir diversos preconceitos formados sobre o candomblé a Daniel. De repente, ele estava dentro do candomblé, mais macumbeiro que eu!”, conta satisfeito.
Depois de uma jornada de autoamor e aceitação, os planos dos dois é casar. “ Na cerimônia, tenho muita vontade que seja no terreiro de candomblé, que é um local com muito significado pra mim, pra Daniel e pra nossa união. Mas minha mãe só vai deixar quando ele tiver um diploma”, lamenta Pábulo. “Em 2023, chega já”, promete Daniel.
“Sou como uma onda muito gigante no mar e Daniel é aquele rio mais calmo. Mas sempre tem aquele encontro do rio com o mar, onde a magia acontece, e costumo dizer que somos a união da tempestade com aquela chuva serena. Ele me completa, me representa, só aprendo todos os dias e esse amor só vai se fortalecendo. Se tem uma coisa que acredito é na força do amor”, declara Pábulo.
O amor que a Unit uniu
Para o casal, não tem como não lembrar da Unit. “Se não fosse o curso de Jornalismo em si, não teríamos nos conhecido. Eu não ia nem fazer jornalismo, porque meus pais não me deixaram fazer o curso que me sinto bem, que é Odontologia. Então fui para o Jornalismo que era minha segunda opção, para conhecer Pábulo, que é sim minha metade, o amor da minha vida, não tenho dúvida. Sou apaixonado por ele. Claro que temos nossos b.o.’s, quem não tem? Mas Pábulo está comigo em todos os momentos da minha vida, nos bons e ruins. E hoje eu curso a profissão da minha vida na Unit, que é a Odontologia”, afirma Daniel Ramos.
Pábulo reforça: “Se não fosse a Unit, não nos conheceríamos. Nossas realidades são muito opostas. Eu achava que já éramos diferentes, de forma superficial, em sala de aula; mas quando nos conhecemos profundamente, vemos como somos parecidos, de fazer o bem ao próximo, de empreender, ter liberdade financeira, vontade de crescer, apesar das nossas particularidades”.
Hoje os dois são sócios de uma agência de Comunicação de sucesso em Sergipe, a Agô, colecionam boas histórias e, claro, Pábulo sonha com o tão merecido casório. Ainda bem que 2023 é logo ali.