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Violência contra trans e travestis é tema de pesquisa realizada no PPED 

A pesquisa apresentada na defesa de mestrado de Samuel Francisco faz uma análise das mulheres transexuais e travestis no campo dos estudos de gênero em educaçãO

às 21h15
Mestre em Educação, Samuel Francisco Rabelo
Mestre em Educação, Samuel Francisco Rabelo
Samuel e família
Samuel e convidados
Samuel e amiga
Samuel Francisco Rabelo e banca avaliadora
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A primeira pesquisa com foco à população transexuais e travestis, realizada em  nível de mestrado e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (PPED/Unit), é intitulada como “A Intolerável companhia que me faço: A presença das mulheres transexuais e travestis no campo da educação”. Trata-se da obra do egresso do curso de Letras Português e agora mestre em Educação pelo PPED, Samuel Francisco Rabelo, que aborda experiências de mulheres transexuais e travestis.

A dissertação foi defendida no dia 5 de setembro por Samuel, sob a orientação do professor doutor Gregory da Silva Balthazar. Ele conta que durante todo o processo de produção, trouxe uma análise sobre a presença de mulheres transexuais e travestis na educação, tomando como norte a solidão dessas experiências femininas no campo educacional brasileiro e na produção de suas potências éticas de vidas.

“Para realizar a pesquisa foi preciso fazer um estudo mais aprofundado. Para isso, recorri a uma pesquisa bibliográfica e documental, onde consegui verificar a presença de pesquisas sobre as experiências de pessoas transexuais e travestis no GT23 – Gênero, Sexualidade e Educação, que iniciou suas atividades em 2004, ainda como grupo de estudos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), criada em 1978, e se consolidou como o maior fórum de produção do saber no campo da educação”, explica. 

O pesquisador revela que teve dificuldade em descobrir se o conteúdo encontrado continha alguma veracidade. “Ao me questionar quem publicava sobre essas experiências, não encontrei nenhuma pesquisadora travesti e/ou transexual. Mesmo sabendo que  o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo e que 90% dessa população ainda é lançada à prostituição compulsória, enquanto que somente 10% se encontram em locais de controle social, e a academia é um deles”, ressalta.

O mestre em educação conta que durante as pesquisas recorreu a uma análise da Pós-Graduação no Brasil, realizando um apanhado histórico frente a necessidade do alcance de uma inteligibilidade de gênero para o avanço do contexto educacional. 

“Me despertou a curiosidade sobre como tem ocorrido a entrada de pessoas transexuais e travestis no âmbito da pós-graduação no Brasil, visto que, na graduação e na pós-graduação, já temos exemplos de universidades públicas que possuem Políticas de Ações Afirmativas para o ingresso da população de travestis, transexuais e transgêneros”, conta. 

Pesquisa

A partir desse estudo, Samuel realizou um levantamento de todos os programas de pós-graduação em Educação das Instituições de Ensino Superiores (IES) do Brasil com notas 5, 6 e 7 no âmbito do Sistema Nacional de Pós-Graduação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Devido ao pouco conteúdo encontrado, Samuel decidiu incluir na pesquisa outras vertentes. Trazendo para a cena as autoras LGBTQIAPN+ e cis-aliados ao estudo da causa. 

“Realizei um levantamento das teses e dissertações realizadas entre os anos de 2010 e 2021. Inicialmente, partimos para entender como estavam o foco de pesquisas sobre as experiências de transexuais e travestis no âmbito da CAPES no referido período. Foram encontradas 62 pesquisas, das quais, oito eram de autoria de mulheres transexuais e travestis. Assim, tive a honra de conhecer trabalhos de mulheres transexuais e travestis no âmbito da Pós-Graduação em Educação no Brasil”.

Samuel explica que iniciou a pesquisa para mostrar que a presença de mulheres transexuais e travestis em todos os espaços – sociais, políticos, econômicos e afetivos –, é mais do que necessária, é uma questão sobre vivências. Por isso, recorreu aos trabalhos de pesquisadoras trans e travestis do Ceará, Rio Grande do Sul, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro e Sergipe.  

Segundo o pesquisador, a sociedade se transforma gradativamente, mudando também as vidas de pessoas trans e travestis, por isso é tão necessário que dentro desse contexto, ocorra a liberdade e acesso a todos os direitos que as demais pessoas acessam. “O impacto que essa temática causa na sociedade segue um caminho de desmoronar achismos, preconceitos e violências. Partimos de locais em que precisamos ver transexuais e travestis existindo e não apenas servindo de objeto de estudos e pesquisas. Não nos conformamos com o mínimo. Estamos aqui para incendiar a academia e mostrar a realidade além dos muros da universidade”, afirma. 

O mestre em educação destaca a importância de usar textos de pesquisadoras sergipanas para compor seu trabalho. Samuel recorreu a textos da pesquisadora, professora e assistente social, Adriana Lohanna dos Santos, que dissertou sobre a formação de pessoas transexuais na Universidade Federal de Sergipe (UFS), e da Vereadora e Deputada Estadual Eleita para 2023, Linda Brasil, que pesquisou sobre Gênero e Sexualidade na Educação. 

“Acredito que para além de pesquisas, trilhamos caminhos a serem semeados. O campo dos estudos de gênero tem crescido nos últimos anos, mesmo diante de tantos desafios. Nossas pesquisas enfrentam o sistema e mostram outras vidas que precisam ser humanizadas em todos os espaços de controle social”, destaca.

Samuel afirma que irá continuar estudando e pesquisando sobre o tema em dissertações futuras. Entre os próximos planos está a publicação da pesquisa em periódicos da área e a participação na seleção para o Doutorado em Educação no PPED/Unit em 2023, onde irá abordar as Políticas de Ações Afirmativas para Travestis e Transexuais na Pós-Graduação.

 

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