Todo mês de janeiro o povo sergipano se une para guerrear. Entre cores e odores, lançam uns nos outros pequenas bolinhas de parafina coloridas cheias de água com cheiro para homenagear os Santos Reis e São Benedito. Não se sabe como a tradição começou, mas ninguém abre mão da causa: manter viva a Festa das Cabacinhas.
Segundo o professor doutor do curso de História da Universidade Tiradentes (Unit), Rony Rei do Nascimento Silva, a festa acontece nos municípios de Siriri, Santa Rosa de Lima e Japaratuba, mas não há registros de quando a tradição teve início. “Não é tarefa fácil datar com precisão o início de um festejo popular, mas sabemos que o objetivo da brincadeira tem passado por transformações ao longo do tempo, fato que, grosso modo, causa certo incômodo em parte da população, que teme a perda da tradição”, disse.
“O festejo, que se consolidou nesses municípios do antigo Vale do Cotinguiba, possui um artefato em sua performance e que dá nome à festa: a cabacinha, instrumento feito com uma fina camada de cera que possui água em seu interior e cujo objetivo é molhar e, sobretudo, divertir os brincantes. A chamada guerra das cabacinhas consiste no disparo dessas bolinhas, o que causa adrenalina em quem participa da brincadeira”, contou.
Além da tradição cultural, a festa movimenta a economia no município. Dias antes, a população se une para fabricar as próprias cabacinhas e também vendê-las. Para três dias de festa, um artesão confecciona 4 mil bolinhas de cera. Mais de 10 mil pessoas vão às ruas de Japaratuba a cada noite de festa para guerrear e aproveitar as bandas que movimentam ainda mais as lutas.
Como ficou mais conhecida na cidade de Japaratuba, tornou-se marca registrada do município. “O universo simbólico da festa revela sua importância para a formação da identidade cultural de Japaratuba e para a manutenção das chamadas tradições, que são continuidade de costumes antigos, bem como a sua ressignificação na temporalidade”, enfatizou o professor.
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