Com o crescimento da abertura de concursos no governo federal e em outras repartições públicas, cresce também a procura por conteúdos e dicas de preparação para os processos seletivos. Muitos deles vêm exigindo questões discursivas, sobretudo em cargos das áreas de Saúde e Direito, e outros incluem uma redação, assim como ocorre nos vestibulares de universidades e no próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Entre os mais recentes que recorreram à redação, estão os concursos das polícias militares do Distrito Federal e da Paraíba. E existe a possibilidade de que ela entre no edital do Concurso Nacional Unificado, chamado de “Enem dos Concursos”, a ser publicado no próximo dia 20 de dezembro.
De acordo com a professora Ana Cláudia de Ataíde Mota, doutora em Letras e assessora pedagógica da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Tiradentes (Unit), as repartições públicas têm adotado a redação como critério de avaliação para verificar a habilidade de cada candidato em elaborar documentos e relatórios, exercitando quesitos como argumentação e domínio da língua portuguesa.
“Tem sido cada vez mais comum você ter questões discursivas para responder, porque tem habilidades de competência que você não consegue mensurar através de uma questão objetiva. Exemplo: se um profissional de saúde vai atuar no âmbito da urgência e emergência. Eu tenho que entender de fato se ele sabe ressuscitar um paciente em uma parada cardiorrespiratória. E ele tendo de externalizar isso passo-a-passo, o procedimento que deve ser adequado, exige uma competência e um conhecimento que é diferente de você apenas analisar uma questão objetiva que tem ali alternativas para você selecionar a correta”, diz ela.
Ana Cláudia destaca também que a redação ou as questões discursivas podem ser decisivas na escolha de um candidato, que poderá ficar em vantagem maior de tiver notas ou pontuações mais altas nas questões escritas. “Normalmente, isso varia de edital para edital. Não necessariamente na primeira etapa tem questão discursiva ou redação, mas quando isso existe, ela tem um peso significativo e é um fator que desempata um candidato em relação ao outro. Ter uma produção textual que de fato apresente uma resposta adequada ao que foi proposto faz toda diferença no sucesso do candidato”, frisa, citando o próprio Enem como exemplo.
Leitura e escrita
Para aprimorar as qualidades mais consideradas pelos avaliadores nas redações e nas questões discursivas, como argumentação sólida, organização das ideias e domínio da norma culta da língua portuguesa, a professora indica uma prática constante da leitura e da escrita. Uma recomendação é reservar um tempo médio de 10 a 30 minutos por dia para a leitura de sites, jornais, revistas, livros e artigos, que podem ser preferencialmente sobre temas diferentes da sua área de atuação. “É a gente aprender o que é diferente. É natural que a gente acabe lendo o que nos interessa, o que é mais fácil pra gente compreender pelo nosso histórico intelectual. Mas quanto mais eu amplio o meu repertório, o meu arcabouço, mais eu tendo a ter um embasamento para que eu traga diferenciais na minha produção textual”, afirmou Cláudia, destacando igualmente a importância de ler e acompanhar os noticiários do dia, buscando ficar mais inteirado sobre fatos, assuntos e discussões da atualidade.
Ela recomenda ainda que o candidato, ao estudar para a redação ou para as discursivas, escreva textos simulando como seria a sua resposta ou artigo sobre determinado tema. E que em seguida, ele leia o texto para outra pessoa, que pode sugerir melhorias. “Leitura e escrita estão de mãos dadas. É um eterno exercitar e retroalimentação. Não adianta somente eu decorar partes, artigos, o que quer que seja, e não ter autonomia para, na hora que me trouxerem um problema, um desafio para resolver no concurso, eu não tenha o letramento necessário para fazer”.
Um terceiro ponto de atenção é aprimorar ainda mais o domínio do português, obedecendo a regras de escrita e gramática, ortografia, pontuação, sintaxe e semântica. “É a partir dessa estrutura, que ele vai poder dar sustentação no seu discurso, no seu texto. Organizar as ideias, ter o encadeamento correto… Para isso, é imprescindível que ele tenha um repertório intelectual do que está sendo tratado bem aprofundado, até para que aquilo se torne um diferencial para a banca examinadora”, conclui a professora.
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