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O que é a Síndrome de Tourette e como ela pode ser tratada

Transtorno neuropsiquiátrico provoca tiques involuntários e exige tratamentos para controle dos sintomas; canabidiol vem sendo usado como alternativa, mas sua real eficácia ainda é estudada

às 13h13
O médico neurologista Helton Benevides, professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Divulgação)
O médico neurologista Helton Benevides, professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Divulgação)
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Uma doença incompreendida, que muitos associam ao comportamento humano, e que exige um tratamento especializado em muitos casos. Trata-se da Síndrome de Tourette, que afeta aproximadamente 1% da população, segundo estimativas do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Entre as pessoas que têm a síndrome, uma dos mais conhecidas é o lutador de MMA “Antônio Cara-de-Sapato”, que em 2023, durante sua participação no reality show Big Brother Brasil, da TV Globo, admitiu fazer tratamento contra a doença usando o canabidiol, um medicamento à base de substâncias encontradas na planta cannabis sativa, também utilizada na produção de maconha.  

O nome é uma referência ao médico francês Georges Gilles de la Tourette (1857-1904), que descobriu a síndrome por volta de 1884. Trata-se de um transtorno neuropsiquiátrico que acomete indivíduos jovens e tem como marca principal a presença de tiques motores e vocálicos. “Esses tiques são quadros neurológicos em que a pessoa realiza movimentos ou sons involuntários, estereotipados, conseguindo em alguns momentos suprimir esses movimentos ou sons, porém com sensação de necessidade de realização para aliviar uma tensão que surge caso fique muito tempo sem realizar o movimento”, explica o neurologista Helton Benevides, professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).

Alguns estudos apontam que a Tourette pode ser causada por predisposições genéticas, anomalias em neurotransmissores ou mesmo lesões de traumatismo em determinadas áreas do cérebro, que serviriam de “gatilhos” para os tiques. Entre os mais comuns, estão a repetição explosiva e involuntária de palavrões e xingamentos (também chamada coprolalia), repetições de palavras ditas por si ou outras pessoas, ou mesmo gestos como movimento de braços e pernas, piscadas de olho, caretas, tossidas, gemidos e cusparadas. 

De acordo com Benevides, este quadro afeta tanto a funcionalidade, principalmente pelos movimentos involuntários, como também as relações sociais e interpessoais. A síndrome pode se associar a outros transtornos de saúde mental desenvolvidos por esses pacientes. A literatura médica atesta que ela não tem cura, mas pode ser controlada com tratamentos. “O tratamento é simplesmente sintomático, a ponto de melhorar os movimentos e diminuir os sons involuntários. Faz-se também necessário, em grande parte dos indivíduos, o acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico por associação de doenças como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e a ansiedade com a Síndrome de Tourette. A terapia cognitivo-comportamental ajuda bastante nesses casos”, orienta Helton.

O professor ressalta que o acompanhamento com especialistas é crucial para orientações sobre cada sintoma, tratamento específico, planejamento e prognóstico. “Existem muitos estudos em andamento, inclusive com terapias cirúrgicas neurofuncionais, para controle dos tiques nesses indivíduos. O neurologista especializado em transtornos do movimento, assim como o psiquiatra, ajudam nesse segmento”, completa. E outras atividades também podem colaborar para a minimização dos sintomas, como exercícios físicos e práticas de relaxamento como yoga, tai-chi-chuan e meditação. 

Canabidiol dá certo?

O uso de medicamentos para o controle de sintomas da Tourette, a exemplo do canabidiol usado citado por “Cara-de-Sapato”, também é objeto de muitos estudos e discussões, inclusive entre os especialistas. Até pouco tempo, ele não era regulamentado no Brasil e seu uso era apenas via importação ou através da distribuição por cooperativas. Recentemente, a medicação foi liberada com restrições pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda é considerada de alto custo e sua venda exige receita controlada do tipo A (entorpecentes e psicotrópicos).

De acordo com Benevides, o canabidiol age em receptores endocanabinoides (neurotransmissores presentes no sistema nervoso), que têm ação de modulação de muitas tarefas como humor e atividade cerebral. Algumas evidências de eficácia no controle dos sintomas já foram citadas em artigos científicos de revistas americanas. No entanto, a comprovação dessa eficácia ainda depende de mais pesquisas aprofundadas. 

O mesmo se aplica a outros medicamentos baseados no THC (tetrahidrocanabinol), outra substância da cannabis. “Até o momento, poucas doenças neurológicas e psiquiátricas têm comprovação através de estudos robustos de eficácia e indicação do uso da cannabis medicinal no tratamento adjuvante. Alguns exemplos seriam síndromes epilépticas como Lenox-Gastaut e Dravet, e quadros de depressão crônica grave e dor refratária. Para a Síndrome de Tourette não há estudos robustos que indiquem como uma opção terapêutica. Pode ser sim uma opção, até baseado na experiência do médico que acompanha, mas não devendo ser optado como terapia única, nem como opção para retirada das terapias já comprovadas de benefício”, pondera o professor. 

com informações de UOL e ge.com

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