Imagine ser atacado pelos seus próprios exércitos de defesa, a partir de um estímulo equivocado. Esta é a situação dos pacientes que possuem doenças autoimunes, como lúpus, diabetes tipo 1, artrite reumatoide, tireoidite de Hashimoto, esclerose múltipla, vitiligo, doença de Crohn e doença celíaca, entre outras. Juntas, elas afetam cerca de uma em cada 10 pessoas no mundo, de acordo com estimativa de uma pesquisa publicada em junho de 2023 em um artigo da revista científica britânica The Lancet.
Nela, cientistas de cinco universidades do Reino Unido e uma da Bélgica estudaram os registros eletrônicos de saúde de 22 milhões de pessoas no país britânico e constataram que, entre os anos 2000 e 2019, houve aumento da incidência de algumas das 19 doenças autoimunes mais frequentes, como doença celíaca, síndrome de Sjogren e anemia reumatoide, entre outras. A mesma pesquisa sugere, a partir dos dados, que essa variação de casos pode ser atribuída a fatores ambientais, como disparidades socioeconômicas, sazonais e regionais, aliados a outros fatores de ordem genética.
A professora Maria Fernanda Malaman, do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), explica que as doenças autoimunes são aquelas desencadeadas por uma desregulação do sistema imunológico, levando o corpo a atacar os seus próprios tecidos. “Diversos fatores estão envolvidos no desenvolvimento destas doenças, desde a predisposição genética do indivíduo, até fatores ambientais: exposição a vírus, agentes ambientais, etc”, explica ela, destacando que não existe nenhum sintoma comum ou “padrão” entre essas doenças. “Elas podem se manifestar de diversas maneiras, desde lesões em órgãos isolados como pele, tireoide, até quadros onde existem vários órgãos e tecidos acometidos, como na artrite reumatoide e lupus”, completa.
A exemplo das doenças crônicas como fibromialgia, mal de Alzheimer e o próprio lúpus, abordados anualmente na campanha Fevereiro Roxo, as doenças autoimunes ainda não têm cura descoberta ou confirmada, mas exigem que cada paciente receba tratamentos paliativos, que lhe permitam levar uma vida com menos dificuldades. “Não há cura para as doenças autoimunes, mas com o tratamento específico, podemos controlar as fases de atividade da doença e contribuir para uma melhora da qualidade de vida dos pacientes”, orienta Malaman.
Estas doenças autoimunes também não têm nenhum tipo de prevenção específica contra o surgimento delas ou contra ataques do próprio organismo. No entanto, a professora considera ser importante que o nosso corpo esteja sempre saudável, o que pode evitar danos maiores e permitir que cada paciente se recupere mais rapidamente caso haja algum problema. “Oode parecer repetitivo, mas manter bons hábitos alimentares, praticar atividades físicas com frequência, dormir bem, manejar o stress no nosso dia a dia, estar com as pessoas que amamos, fazer atividades ao ar livre…Isso pode fazer uma enorme diferença na resposta ao tratamento de uma doença autoimune”, conclui Maria Fernanda.
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