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A importância de preservar e cuidar dos rios e bacias de Sergipe

O estado conta com oito bacias hidrográficas, que são bastante relevantes para a vida da população, mas enfrentam problemas e desafios causados pela poluição e pela degradação ambiental

às 19h46
Pesquisas em andamento nas praias do litoral sergipano, junto às bacias costeiras: ameaça da poluição (Divulgação/Unit)
Pesquisas em andamento nas praias do litoral sergipano, junto às bacias costeiras: ameaça da poluição (Divulgação/Unit)
A preservação e a recuperação dos rios e afluentes passa pela aplicação de uma série de políticas públicas, além das boas práticas da sociedade (Arthuro Paganini/Semac)
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Sergipe é fortemente marcado pela presença dos rios. Destes, cinco desaguam no Oceano Atlântico após passarem pelo nosso território e, por isso, estão retratados pelas cinco estrelas da bandeira estadual: são o Sergipe, o Real, o Vaza-Barris, o Japaratuba e o São Francisco. Cada um deles forma a sua bacia hidrográfica e soma-se às outras três presentes aqui: a do rio Piauí e as costeiras Sapucaia e Caueira-Abaís. Todos eles cumprem um papel fundamental para a vida da população, fornecendo água para higiene e consumo, através do abastecimento, e alimentos, através da pesca e da irrigação. 

Tamanha importância também levanta a preocupação com o estado de preservação e conservação destes mananciais. Um relatório de conjuntura de recursos hídricos feito em 2023 pela Agência Nacional de Águas (ANA), a qualidade da água dos mananciais de água superficial de Sergipe varia de boa a regular, dentro de uma escala que vai da ótima à péssima. No entanto, de acordo com a professora Maria Nogueira Marques, do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) da Universidade Tiradentes (Unit), algumas áreas dos rios de cada bacia, tanto os principais quanto os afluentes, são diretamente impactadas pela ação do homem, enquanto outras permanecem preservadas. 

“O estado de Sergipe possui oito bacias hidrográficas, das quais apenas três estão inteiramente dentro de seu território. É necessário analisar as bacias em sua totalidade, considerando tanto os rios principais quanto os afluentes. Mas, certamente, os nossos mananciais superficiais são impactados pelo lançamento de esgotamento doméstico e industrial sem tratamento em alguns locais, pelo aporte das pluviais contaminadas tanto das áreas urbanas como rurais, ausência de mata ciliar, etc”, diz Nogueira, que representa a Unit no Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conerh) e nos comitês de bacias hidrográficas do rio Sergipe e do rio Japaratuba. 

A professora explica que essa poluição causada pelo despejo do esgoto e dos efluentes não-tratados, bem como o escoamento de fertilizantes, agrotóxicos e outras substâncias pela água da chuva, são responsáveis pela contaminação dos rios e afluentes por substâncias prejudiciais à saúde, tanto do ecossistema quanto dos seres humanos. Já a presença de mata ciliar preserva a fauna local e ajuda a reduzir o carreamento de água da chuva para os rios, prevenindo a erosão das margens e o assoreamento. 

Como preservar

A preservação e a recuperação dos rios e afluentes passa pela aplicação de uma série de políticas públicas previstas formalmente, como as Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico (Lei 11.445/2007), a padronização do lançamento de efluentes (Resolução 430/2011 do Conama) e o Código Florestal (Lei 12.651/2012), que estabelece uma série de normas e regras para preservação das florestas e dos mananciais. E mais recentemente, uma lei estadual aprovada pela Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) institui a Campanha de Incentivo à Preservação e Recomposição das Matas Ciliares em todo o território sergipano.

Para garantir que tais políticas sejam aplicadas e respeitadas, existem os comitês de bacias hidrográficas, espaços consultivos de discussão e deliberação sobre a gestão dos recursos hídricos de uma determinada região, com a participação de representantes do poder público, de usuários dos recursos hídricos e da sociedade civil. Por ter essa característica, os comitês também são mais conhecidos como “Parlamentos das Águas”. 

“Seu principal objetivo é promover o diálogo e o consenso entre os diferentes atores envolvidos na gestão da bacia hidrográfica. Dessa forma, os representantes enfrentam o desafio de lidar com visões e interesses diversos, buscando encontrar soluções que atendam às necessidades de todos os envolvidos. Assim, o trabalho realizado pelos comitês é fundamental para garantir uma gestão sustentável dos recursos hídricos, promovendo o uso racional e a preservação dos mananciais, em benefício de toda a comunidade e do meio ambiente”, frisa Maria Nogueira. 

A própria população, como um todo, também pode contribuir com a preservação dos rios, adotando boas práticas no consumo da água e no descarte do lixo. “No âmbito doméstico, é fundamental evitar o desperdício de água potável, como por exemplo, fechando a torneira enquanto ensaboamos os utensílios, evitando “varrer” quintais e calçadas com mangueiras, entre outras práticas. Além disso, é importante realizar a separação do lixo reciclável dos resíduos orgânicos, descartar medicamentos vencidos e embalagens nos pontos de coleta das farmácias, e utilizar de forma consciente produtos como xampus, sabonetes líquidos e detergentes”, orienta a professora.

Já nas áreas rurais, a principal dica é evitar o uso indiscriminado de agrotóxicos, seguindo a dosagem adequada prescrita por um engenheiro agrônomo, devolvendo as embalagens vazias nos pontos de comercialização designados. “Além disso, é recomendado utilizar métodos de irrigação que minimizem o consumo de água, contribuindo assim para a preservação desse recurso vital, acrescenta ela”.

Pesquisas na Unit

O PSA/Unit, em conjunto com o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), já vem desenvolvendo estudos relacionados à situação dos rios e afluentes de Sergipe. “Desde o meu doutorado, tenho direcionado minha linha de pesquisa para a avaliação dos recursos hídricos, com o objetivo de gerar informações que contribuam para a gestão dos recursos hídricos, bem como o serviço de abastecimento público de água”, explica Maria Marques. Entre os projetos que já tiveram a participação ou foram orientados por ela, estão: 

– Avaliação de metais e elementos-traço em águas das bacias hidrográficas dos rios Japaratuba, Sergipe, Vaza-Barris, Piauí e Real; 
– Caracterização e aspectos socioambientais da Bacia Costeira do Sapucaia;
– Risco de contaminação da água de poços no entorno de cemitérios clandestinos na zona de expansão de Aracaju; 
– Plano de segurança da água – um estudo de caso no sistema de abastecimento de água de Rosário do Catete (SE);
– Qualidade da água como fator de saúde em comunidades quilombolas;
– Estudo integrado da poluição por plásticos no estuário do rio São Francisco. 

Atualmente, a principal pesquisa em andamento tem como foco o impacto do descarte inadequado de resíduos plásticos nas praias de Aracaju, com a participação da mestranda Ayla Maria Dias Monteiro (PSA) e de Débora Iris dos Santos, graduanda do curso de Farmácia, além de seis alunos de Ensino Médio orientados pela professora Rose Mary de Azevedo Correia, do Colégio Estadual Tobias Barreto, em Aracaju. Essa participação foi possível a partir de bolsas de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Em nível de doutorado, a tese de Carina Siqueira de Souza, professora do Instituto Federal de Sergipe (IFS), analisou a influência da urbanização sobre a qualidade ambiental no município de Aracaju e foi defendida recentemente. Outro projeto, em fase inicial, é o do pesquisador Anderson Ezequiel Silva, que vai estudar a degradação do polímero poli (tereftalato de etileno) – PET com ação enzimática. A tese será orientada em parceria com a professora Cleide Mara Faria Soares, das pós-graduações em Biotecnologia (PBI) e em Engenharia de Processos (PEP)

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