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Inovações e tradições consolidam a cultura das quadrilhas juninas

Derivadas dos tradicionais bailes da aristocracia europeia, a dança junina incorporou muitos elementos populares e ganhou força em Sergipe com o surgimento de concursos e festivais

às 14h57
Com simplicidade e criatividade, as quadrilhas juninas ganham ares de espetáculo e grandiosidade artística, com suas demonstrações de beleza, luxo, musicalidade e vibração (Divulgação/Prefeitura de Lagarto)
Com simplicidade e criatividade, as quadrilhas juninas ganham ares de espetáculo e grandiosidade artística, com suas demonstrações de beleza, luxo, musicalidade e vibração (Divulgação/Prefeitura de Lagarto)
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Elas são definidas pelo forrozeiro e compositor sergipano Luiz Paulo como a “alegria sem igual”, uma “cultura e tradição imortal” que pode ser vista “na praça, no clube e no arraial”, e sem a qual “o São João perde seu brilho”. Já o folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, descreve-a como “a grande dança palaciana do século XIX, protocolar, abrindo os bailes da corte, em qualquer país europeu ou americano, tornada preferida pela sociedade inteira, popularizada sem que perdesse o prestígio aristocrático, vivida, transformada pelo povo que lhe deu novas figuras e comandos inesperados, constituindo o verdadeiro baile em sua longa execução de cinco partes, gritadas pelo ‘marcante’, bisadas, aplaudidas, desde o palácio imperial aos sertões” 

São as quadrilhas juninas, que se tornaram um símbolo das festas juninas no Brasil e se consolidaram ainda mais nos estados do Nordeste, onde mesmo com a simplicidade de seus gestos, movimentos e adereços, ganham ares de espetáculo e grandiosidade artística, impressionando a todos pelas demonstrações de beleza, luxo, musicalidade e vibração de seus componentes em seus cantos e danças.  

Por incrível que pareça, as quadrilhas juninas têm uma origem nos bailes da aristocracia europeia, nas quais os casais dançavam paramentados ao som de valsas, polcas e mazurcas. Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, no começo do século 19, estes bailes passaram a ocorrer nos palácios e logo foram reproduzidos ou imitados por pessoas de outras classes sociais, mas incorporando outros elementos mais presentes em comunidades rurais, como as roupas remendadas, as sanfonas, as violas e as marcações de dança. Além das músicas típicas de cada região, como o xote, xaxado, baião, rancheira e marchinhas juninas. 

Segundo o professor Rony Rei do Nascimento Silva, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED), a formação das quadrilhas juninas atuais veio de muitas adaptações das antigas danças europeias. “Destaco a importância da família e, por sua vez, da direção das quadrilhas. Eles são vistos como os responsáveis por manter a unidade do grupo frente às mudanças ocorridas ao longo dos anos no processo de reconfiguração das quadrilhas juninas. Ou seja, mesmo adaptando seus figurinos em função das demandas dos jovens, mudando sua estética, modernizando sua aparelhagem tecnológica e respeitando as orientações sexuais, se mantém a tradição”, diz ele. 

Ao mesmo tempo em que cumprem a função de manter elementos tradicionais da cultura junina, as quadrilhas acabam incorporando outros elementos novos, como outros tipos de tecidos, ritmos e danças mais urbanas voltadas ao público jovem. Elas também incluem personagens ligados ao típico casamento junino (padre, beatas e noivos) e os alusivos ao cangaço (Lampião, Maria Bonita e cangaceiros armados), que se misturam aos enredos contados nas apresentações. 

Para Rony Rei, essa possibilidade de inovação e incorporação se torna, às vezes, contraditória. “As quadrilhas, em geral, aceitam a inovação relacionada às questões de novas músicas, vestimenta, adereços, por exemplo e, em contrapartida, criticam o uso de determinados tecidos, passos e instrumentos musicais que compunham o cenário das quadrilhas que consideram fora do contexto”, afirma. 

Tradição sergipana

Um fator que ajudou a tornar as quadrilhas juninas nordestinas mais diferenciadas e sofisticadas, em relação ao modo como elas são dançadas no restante do país, foi a criação de concursos e festivais locais e regionais. Entre os principais eventos do tipo realizado em Sergipe, estão o Arraiá do Arranca-Unha (no Centro de Criatividade) e o do Gonzagão, ambos promovidos pelo Governo do Estado; além do Concurso Arrasta Pé (da Liga de Quadrilhas Juninas de Sergipe) e do Levanta Poeira (da TV Sergipe). 

Isso motivou o surgimento de grandes quadrilhas juninas do Estado, que foram ganhando destaque nas últimas décadas, como a Século XX, Unidos em Asa Branca, Meu Sertão, Pisa na Brasa, Pioneiros da Roça, Cangaceiros da Boa, Xodó da Vila, Rala-Rala, Assum Preto, Retirantes do Sertão e Balança Mais Não Cai. Algumas delas já chegaram a ser classificadas e premiadas em edições regionais e nacionais destes concursos, como o Arraiá Brasil, em Brasília, e o Festival da Globo Nordeste, em Pernambuco. 

“A criação dos concursos e festivais de quadrilhas juninas ajudaram a consolidar essa tradição: os brincantes se caracterizam conforme o tema da dança; coreografia, os grupos são obrigados a executarem, no mínimo, quatro passos tradicionais nos concursos promovidos pelos órgãos públicos, os brincantes precisam ter um ótimo desempenho na dança, porque estão sendo avaliados e competindo com outros grupos; na música, é necessário que cada grupo apresente letra inédita e tema a ser desenvolvido durante a evolução da quadrilha, e no processo de organização social, os grupos de quadrilhas se tornaram empresas, possuindo Cadastro Nacional Pessoa Jurídica (CNPJ)”, detalha Rony. 

Na visão do professor, as quadrilhas representam muito a identidade nordestina e sergipana, pois insere as pessoas no “universo” da cultura popular local. As quadrilhas juninas em Sergipe são elementos de destaque quando o assunto são as manifestações culturais relacionadas ao período junino. Em nosso estado, elas possuem lugar de destaque, chegando a atrair visitantes com o intuito de vivenciar as apresentações nos concursos e campeonatos que acontecem durante todo o mês junino em muitas cidades do Nordeste.

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