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Alunos de Medicina participam de ação de combate à hanseníase no Copemcan

Projeto de extensão do curso de Estância, que fez a avaliação médica de cerca de 1 mil detentos, foi criado a partir de uma atividade da disciplina Medicina de Família

às 17h54
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Alunos do internato de Medicina no Campus Estância da Universidade Tiradentes (Unit) desenvolveram neste mês um projeto de levantamento e triagem de pacientes com hanseníase no Complexo Penitenciário Manoel Carvalho Neto (Copemcan), em São Cristóvão. A atividade, dentro da disciplina Medicina de Família e Comunidade (MFC), aconteceu em dois momentos, nos meses de junho e outubro deste ano, e envolveu cerca de 40 estudantes do penúltimo ano de Medicina, além de professores e residentes. Ao todo, mais de 1 mil detentos passaram por exames e avaliações médicas. 

A ação se tornou um projeto de extensão do curso de Medicina e vem sendo tocada a partir de uma equipe multidisciplinar, que além de envolver os estudantes de graduação e de residência médica, tem ainda a participação de profissionais de saúde do próprio Copemcan, do Departamento Estadual do Sistema Penitenciário (Desipe) e das secretarias municipais de Saúde de São Cristóvão e de Estância. 

De acordo com o professor Rômulo Rodrigues, orientador do projeto e responsável pela disciplina MFC no curso de Medicina em Estância, o projeto consistiu em uma busca ativa de casos de hanseníase dentro do presídio, já que o local que favorece a transmissão da doença em razão da aglomeração de indivíduos em ambiente fechado e com limitação de espaço. “O objetivo desse projeto é diagnosticar os casos de hanseníase dentro do referido presídio, com o intuito de trazer cura aos portadores da referida patologia; de cessar a transmissão da doença, além de evitar com que os pacientes venham a ter sequelas incapacitantes em seu corpo, quanto mais precoce for o diagnóstico e tratamento”, explica. 

A avaliação médica foi realizada em todos os detentos, para encontrar os casos de hanseníase e de outras doenças que não estavam em tratamento. A quantidade de casos detectados ainda não foi contabilizada, pois o banco de dados do projeto ainda está em construção, mas os pacientes foram encaminhados imediatamente para o tratamento nas unidades de saúde. Para o médico Gabriel Lima e Meira, residente de Medicina da Família na Unit, a atividade dos alunos despertou uma atenção maior às chamadas “doenças negligenciadas”, além de dar um maior estímulo à educação continuada em saúde. 

“Graças ao trabalho em equipe e a colaboração da gestão de segurança interna, foi possível organizar o atendimento de forma fluida e confortável para todos. Os internos passaram por uma breve entrevista/anamnese, seguida da avaliação dermatoneurológica, onde o acadêmico de medicina, acompanhado de algum dos médicos da equipe, avaliavam a possibilidade/confirmação diagnóstica e em seguida eram liberados para seguir a rotina habitual. Encontrar e tratar da forma adequada cada caso, envolvendo uma equipe multidisciplinar, é um excelente exemplo de boas práticas em saúde pública”, diz Meira.

A hanseníase é uma das 11 doenças transmissíveis mais frequentes no sistema prisional brasileiro. Segundo dados do Relatório de Informações Penais, relativo ao primeiro semestre de 2024 e divulgado recentemente pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), 543 pessoas presas em celas físicas estavam com hanseníase em 30 de junho deste ano, quando os dados foram coletados. Deste total, 23 estavam em penitenciárias de Sergipe. Em geral, a transmissão se dá através do contato íntimo e duradouro com paciente portador de hanseníase multibacilar que não esteja em tratamento, através das gotículas que saem através da fala, tosse ou espirro. Rômulo ressalta que a hanseníase é uma doença de grande importância para a saúde pública, devido ao seu alto poder incapacitante, quanto mais tardio for seu diagnóstico e tratamento. 

Conhecendo a realidade

Uma das alunas que participaram do projeto foi Milena Melo de Castro, do 9º período de Medicina, que atuou na triagem dos detentos, aplicando o exame físico e fazendo perguntas sobre sintomas específicos. “Fizemos exames de reflexo, força muscular, palpação de nervos e teste de sensibilidade com o estesiômetro. Aprendi bastante sobre triagem para hanseníase e pude ver na prática as diferentes apresentações da doença, além do aprendizado social de quebra de estigmas. Foi bem proveitoso”, relembra ela. 

O próprio residente Gabriel Meira também considerou a experiência no Copemcan como enriquecedora e responsável pela abertura de novas visões sobre a saúde. “Conhecer a realidade do sistema prisional e atuar como parte de uma equipe coesa nos mostra que ações bem coordenadas podem e devem ser organizadas no intuito de alcançar cada vez mais a integralidade do acesso e a longitudinalidade do acompanhamento em saúde. A equipe gestora do Copemcan demonstrou de forma clara e prática a viabilidade do diálogo e desenvolvimento de ações em saúde no contexto prisional”, pontua. 

O professor Rômulo Rodrigues considera que, ao participarem desse projeto, os alunos de Medicina passam a ter uma maior noção teórico-prática no diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hanseníase, além de vivenciar uma realidade diferente da que estão habituados. “A importância desse projeto é mais uma estratégia de ação no combate à hanseníase; além de levar saúde à população carcerária e oferecer aos alunos uma vivência na área profissional que eles nunca irão esquecer, pois foram peças importantes no cuidado da saúde desta população”, definiu.

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