ESTUDE NA UNIT
MENU

Conscientização sobre o Parkinson destaca sinais iniciais e importância do diagnóstico precoce

Em abril, mês dedicado à causa, neurologista alerta para sintomas pouco percebidos e reforçam a necessidade de cuidados multidisciplinares para qualidade de vida dos pacientes

às 21h20
Helton Benevides- Médico neurologista e professor da Universidade Tiradentes
Helton Benevides- Médico neurologista e professor da Universidade Tiradentes
Compartilhe:

Uma pequena dificuldade para abotoar a camisa, o passo que parece arrastado, o tremor que chega enquanto o corpo está em repouso. São sinais aparentemente sutis, mas que podem indicar o início de uma longa jornada com a Doença de Parkinson, um distúrbio neurológico progressivo que afeta cerca de 220 mil pessoas no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No mundo, estima-se que mais de seis milhões de pessoas convivam com a condição, que, embora ainda sem cura, tem ganhado destaque em pesquisas e em estratégias de suporte à qualidade de vida dos pacientes.

Conforme explica o médico neurologista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Helton Benevides, o Parkinson é uma doença neurodegenerativa complexa e com causas ainda não totalmente esclarecidas. “Temos várias hipóteses em estudo. Algumas associam a doença a quadros inflamatórios ou infecciosos prévios, e outras apontam fatores genéticos. O fato é que os casos vêm aumentando globalmente nos últimos anos”, alerta o especialista.

O diagnóstico costuma surgir a partir da observação da lentidão dos movimentos, conhecida como bradicinesia, geralmente de forma assimétrica, que deve vir acompanhada de um ou mais sintomas como tremor (principalmente no repouso) e rigidez muscular, onde a pessoa tem a sensação de peso no membro. “Alguns sintomas não motores associados podem e ajudam a definir se realmente é um quadro de Doença de Parkinson: constipação, dificuldade em sentir cheio (hiposmia ou anosmia), alterações no sono com movimentações durante o sonho e falatórios constantes, depressão, dor e fadiga”, destaca.

A ideia de que o tremor é o principal sinal da doença também precisa ser revista. Segundo Helton, nem todo paciente com Parkinson apresenta esse sintoma, e nem todo tremor significa Parkinson. “Os desafios motores são amplos: dificuldade para escrever (tendo que escrever mais lento e com redução do tamanho da letra), dificuldade para abrir garrafas ou fazer tarefas manuais corriqueiras. Alguns pacientes também podem observar além do tremor dificuldade para caminhar como se estivesse desequilibrado ou arrastando mais um dos pés, com passos mais curtos e posturas mais encurvada”, pontua.

Impactos na rotina e bem-estar

A evolução da doença traz impactos diversos na rotina e no bem-estar. Além de toda dificuldade motora, principalmente para realização de movimentos finos ou mais sutis de mobilidade de maneira global, a presença de alguns sintomas não motores como dor (que pode ser tanto articular, ou uma dor mais difusa, ou dor noturna), além de quadro depressivo, fadiga que junto com o diagnóstico com estigmas de uma doença neurodegenerativa leva piora de índices de qualidade de vida, que podem ser mensurados através de escores específicas para qualidade de vida na doença de Parkinson (PDQ-39).

“Fatores ambientais (Exposição a herbicidas ou pesticidas, metais pesados como chumbo, manganês e solventes industriais), idade avançada principalmente em indivíduos sedentários, além Histórico familiar de Parkinson que pode aumentar o risco principalmente se quadro Parkinsoniano precoce, visto que algumas variantes genéticas podem predispor, mesmo sem causar diretamente a doença”, exemplifica Helton.

Diagnóstico e tratamento

Mesmo com os avanços científicos, o diagnóstico do Parkinson continua sendo majoritariamente clínico. “Não há, até o momento, um exame específico. O que temos é a observação médica, o histórico do paciente e a resposta positiva ao uso da levodopa no início do tratamento. O Diagnóstico precoce auxilia a um melhor controle tanto dos sintomas motores e não motores visando uma melhor qualidade de vida dos pacientes desde os primeiros anos de doença, assim como estabelecer melhor as terapias necessárias para poder prover melhora de quadro motor e, por conseguinte, de qualidade de vida”, ressalta Helton.

Hoje o campo da pesquisa no diagnóstico da Doença de Parkinson acontece na busca de biomarcadores para um diagnóstico mais precoce, sendo a semeadura de alfanucleína. “Outra novidade que deve chegar no Brasil, já tendo alguns locais já em uso como Japão, Canadá e mais recentemente os EUA a opção do uso da dopamina (a levodopa) de forma injetável, a foslevodopa, trazendo benefícios como redução de picos e vales das tomadas orais, reduzindo efeitos de encurtamento das doses, além de melhorar a aderência”, elenca.

O tratamento, por sua vez, exige uma abordagem abrangente. “O arsenal terapêutico para o Parkinson é vasto, com destaque para medicamentos dopaminérgicos, que ajudam a controlar os sintomas. Mas não basta só medicação: fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional são igualmente cruciais. As medicações acabam sendo necessárias desde o diagnóstico sempre se avaliando caso-a-caso para melhorar principalmente a redução dopaminérgica nesses indivíduos, observando melhora de sintomas”, defende o especialista.

Mês de Conscientização

Celebrado em abril, o Mês de Conscientização sobre o Parkinson se torna cada vez mais necessário para ampliar o conhecimento da sociedade sobre a doença e combater estigmas. “É uma oportunidade de dar visibilidade às dificuldades enfrentadas por pessoas com Parkinson e seus cuidadores, incentivando a criação de grupos de apoios e de acolhimento, reforçando também a importância do cuidado multidisciplinar. Promove também a educação sobre fatores de risco e o papel de hábitos saudáveis na prevenção e para a não progressão dos sintomas”, elenca.

Para Helton Benevides, a conscientização também é fundamental para pressionar políticas públicas que garantam maior inclusão. “Precisamos de investimentos em pesquisa, centros de apoio comunitário, infraestrutura urbana acessível e um olhar mais humano para esses pacientes. Promover atividades como aulas de música, sessões de fisioterapia em grupo e rodas de conversa são exemplos concretos de ações que transformam realidades”, sugere.

Qualidade de vida

Ainda que o Parkinson não tenha cura, há muito o que pode ser feito para garantir mais bem-estar. A prática de atividades físicas regulares e uma alimentação rica em fibras têm efeitos comprovados na redução dos sintomas. “Melhoram desde a constipação, comum em pacientes, até a biodisponibilidade das medicações. Além disso, pessoas mais ativas tendem a ter um melhor prognóstico e evolução da doença”, afirma.

Por isso, a mensagem que abril deixa vai além do laço da campanha: trata-se de um convite para escutar os sinais do corpo, quebrar preconceitos e construir um ambiente mais acolhedor para quem enfrenta a Doença de Parkinson. “Conscientizar é o primeiro passo para transformar a realidade de quem vive com Parkinson”, finaliza.

Leia também: Burnout: quando o trabalho suga mais que energia, suga saúde, ânimo e sentido da vida

Compartilhe: