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Ciclo de debates aborda contradições da política externa dos EUA e seus reflexos na América Latina

A palestra ministrada pela pós-doutoranda em Direitos Humanos na Unit, Lívia Milani, discutiu a seletividade e interesses geopolíticos por trás do discurso norte-americano

às 20h31
Lívia Peres Milani- Pesquisadora de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (Unit). Doutora em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP)
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A política externa dos Estados Unidos, marcada por um discurso de promoção da democracia e dos direitos humanos, tem sido constantemente atravessada por contradições e interesses geopolíticos. No contexto pós-Guerra Fria, essas tensões ganharam novos contornos, especialmente com a ascensão de lideranças como Donald Trump, que intensificaram o questionamento interno e externo à própria democracia norte-americana.

Essa complexa relação entre discurso e prática foi o foco do Ciclo de Debates sobre Direitos Humanos na América Latina, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (Unit). Conduzida pela doutora em Relações Internacionais e pós-doutoranda em Direitos Humanos da Unit, Lívia Peres Milani, a palestra “Política Externa e Democracia: Limites e Contradições da Agenda dos EUA no Pós-Guerra Fria” discutiu como os EUA utilizam sua influência global sob a justificativa de defender valores democráticos, muitas vezes de forma seletiva. 

“A política externa norte-americana é permeada por contradições estruturais. Há uma ênfase em denunciar violações em certos países, enquanto se mantém o silêncio em relação a outros. Essa seletividade não é algo recente, ela está presente de forma estrutural na política externa norte-americana há muito tempo. O que vemos atualmente é um agravamento dessa postura, especialmente com a eleição de um presidente que passou a questionar não apenas a democracia interna nos Estados Unidos, mas também as ações de promoção dos direitos humanos e da democracia no exterior”, explica Lívia.

Nuances do excepcionalismo americano 

Durante a apresentação, Milani contextualizou o chamado “excepcionalismo americano”, conceito segundo o qual os Estados Unidos se percebem como uma nação destinada a liderar o mundo pela via democrática. Segundo ela, essa retórica existe desde a fundação do país e se fortaleceu ao longo do século 20, especialmente durante a Guerra Fria. No entanto, ela alertou para a incoerência entre o discurso e as ações. “Enquanto defendiam a liberdade no discurso, apoiavam regimes ditatoriais na prática inclusive na América Latina, como vimos no caso brasileiro”, destaca a pós-doutoranda.

Lívia ainda explica que depois do fim da Guerra Fria, a agenda de política externa dos EUA passou a incorporar de forma mais clara os chamados “programas de assistência” ou seja, apoio financeiro voltado ao fortalecimento da democracia em outros países. “Esses programas de assistência internacional passaram a ser vistos como instrumentos de política externa, funcionando tanto como ferramentas diplomáticas quanto como meios de difundir a influência norte-americana sob o pretexto de promover a democracia”, aponta mais uma contradição.

Ao abordar a atual conjuntura, Milani ressaltou que há uma transformação política global que traz ameaças concretas aos direitos humanos. Para ela, é imprescindível que estudantes e pesquisadores reflitam sobre esse cenário. “O que acontece nos Estados Unidos influencia diretamente a política brasileira. Há articulações entre forças políticas dos dois países, e compreender isso é crucial para o debate sobre a defesa dos direitos humanos”, disse.

Ciclo de debates e suas contribuições 

O Ciclo de Debates sobre Direitos Humanos na América Latina, promovido pelo PPGD é uma iniciativa consolidada desde 2018. A cada semestre, são realizados três ciclos, totalizando seis palestras por ano, com a participação de pesquisadores nacionais e internacionais. Temas anteriores abordaram desde a justiça de transição na Argentina, com a professora italiana Marzia Rosti, até questões ambientais e políticas públicas na América Latina. O professor do PPGD Fran Espinoza, coordenador do ciclo, destacou a urgência do tema abordado nesta edição. 

“Diante das recentes transformações políticas globais e dos desafios à democracia, consideramos essencial trazer à discussão as contradições da política externa dos EUA e seus impactos na América Latina. Eventos como esse ajudam a formar profissionais mais conscientes e conectados com os desafios do mundo contemporâneo” reforça.

Embora seja promovido pelo programa de pós-graduação de mestrado e doutorado, o ciclo de debates atrai também estudantes da graduação de Direito. A aluna do 1º período, Ana Sofia Pimentel destacou que participar do debate foi uma oportunidade de ampliar o senso crítico. “Discutir política externa é essencial para entender como as decisões de grandes potências impactam nossa realidade. Isso nos ajuda a formar uma visão mais crítica como futuros profissionais do Direito”, afirmou.

Já Brenda Andrade, mestranda em Direitos Humanos, conta que valoriza debates que envolvam política internacional. “Acho fundamental porque muitas pautas de direitos humanos aqui na América Latina estão interligadas com o restante do globo. No caso do Brasil, existe uma necessidade real de articular esse debate com os demais países latino-americanos, por exemplo”, ressalta. O tema em questão teve relação direta com sua pesquisa acadêmica. “Minha dissertação trata da racialidade, e debates como esse ajudam a expandir nossa visão, conectando o que estudamos em sala com as realidades de outros países latino-americanos. Essa troca internacional é essencial para enriquecer a produção de conhecimento e buscar soluções que também sejam aplicáveis no Brasil”, avaliou.

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