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Como a ciência levou egressa da Unit ao doutorado-sanduíche em Harvard

Ailma Paixão, que fez Biomedicina, está prestes a concluir uma tese na USP, com parte dos trabalhos realizados na instituição americana; curiosidade e interesse pela saúde firmaram a base para a trajetória acadêmica da egressa

às 14h06
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A paixão pela ciência e pela saúde humana levou uma egressa da Universidade Tiradentes (Unit) às salas e corredores da maior universidade da América Latina, e de lá para uma das maiores do mundo. Ailma Oliveira da Paixão, que fez o curso de Biomedicina na Unit entre 2011 e 2015, está prestes a defender a sua tese de doutorado em Estudos Biodinâmicos da Educação Física, na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP). Em regime de doutorado-sanduíche, ela teve parte de seu trabalho realizado na Harvard Medical School (HMS), escola médica da Universidade de Harvard, em Boston (Estados Unidos).

A defesa da tese, prevista para agosto, coroa uma trajetória acadêmica que começou no Campus Farolândia, já no primeiro período da graduação, quando entrou como voluntária em um projeto de iniciação científica no Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), e logo conquistou a primeira bolsa. O projeto, orientado na época pela professora Margarete Zanardo Gomes, pesquisou os efeitos terapêuticos e medicinais de substância presentes na apitoxina, um veneno produzido pelas abelhas. Os resultados desses trabalhos levaram Ailma a participar de congressos científicos pelo Brasil e fora dele. Em 2014, ela participou do 11º Congresso Latinoamericano de Apicultura, em Puerto Iguazú (Argentina), em sua primeira experiência internacional. 

“Foi um momento marcante, onde percebi que a Unit já estava me preparando para o mundo”, relembra a pesquisadora, que também atuou em projetos de extensão do curso de Biomedicina. “Esses projetos foram fundamentais para a minha formação, eles me permitiram desenvolver senso crítico, aprender a trabalhar em equipe, lidar com desafios reais da pesquisa científica e aprimorar minha comunicação. Além disso, tive contato direto com a prática científica desde cedo, o que fez toda a diferença para eu descobrir minha vocação e construir uma base sólida para os passos seguintes da minha carreira. Mais do que conhecimento técnico, essas experiências despertaram em mim um olhar curioso, crítico e comprometido valores que carrego até hoje em tudo o que faço”, diz Ailma. 

Ela conta que, desde cedo, sempre teve uma grande paixão por ciências e pela área da saúde, e que encontrou na Biomedicina a profissão ideal para unir esse interesse à possibilidade de impactar diretamente a vida das pessoas. “Escolhi a Universidade Tiradentes porque, além de ser uma instituição reconhecida pela qualidade do ensino, ela oferecia um ambiente estimulante que me proporcionaria crescer profissionalmente. A Unit foi o ponto de partida fundamental que me preparou para os desafios futuros e me deu o suporte para buscar novos horizontes”, destaca a doutoranda, ao lembrar principalmente da “dedicação e entusiasmo” dos professores. “O que mais me marcou foi esse ambiente repleto de possibilidades e pessoas que realmente acreditavam no nosso potencial”, define.

Uma das professoras de Ailma na Unit foi Patrícia Almeida, coordenadora operacional do curso de Biomedicina, que a acompanhou desde o início do curso, em disciplinas como Biologia Celular, Genética, Embriologia, Histologia e Citologia Clínica. Ela lembra que a ex-aluna sempre demonstrou um perfil muito diferenciado: curiosa, disciplinada, questionadora e profundamente apaixonada pela ciência. “Era evidente seu talento e vocação para a pesquisa e a docência. Ailma sempre esteve cercada por colegas com o mesmo entusiasmo pela investigação científica, e muito cedo se envolveu com iniciação científica, participações em congressos e apresentações de trabalhos, onde já se destacava pela segurança, domínio dos temas e brilho nos olhos ao falar sobre ciência”, lembra.

E essa paixão fez a então aluna transitar por diferentes áreas de pesquisa ao longo de sua trajetória acadêmica, indo das Neurociências e passando pela Farmacologia até chegar à Oncologia. Apesar dessas mudanças, ela diz que todas tinham algo em comum: a presença forte da biologia molecular, cujo interesse foi despertado em sua iniciação científica. “Foi na Unit que eu tive meu primeiro contato com a pesquisa científica e onde desenvolvi as habilidades que me permitiram explorar essas diferentes áreas. Além disso, minha formação em Biomedicina foi fundamental para que eu descobrisse esse interesse por investigar os mecanismos moleculares das doenças”, afirmou.

De Sampa para o mundo

Antes mesmo de terminar a graduação na Unit, em 2015, a sergipana fez um estágio final de estudos na USP e decidiu abraçar de vez a carreira científica. Concluiu o curso, voltou em definitivo para São Paulo, onde mora e estuda hoje, e ingressou diretamente no mestrado em Farmacologia, pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da instituição paulista. Uma semana depois de concluir o mestrado, foi para um intercâmbio voltado ao aprimoramento do inglês, em Toronto (Canadá). Foi o passo decisivo que deu para o doutorado-sanduíche, cujos planos já incluíam a própria USP e a temporada em Harvard.  

“A oportunidade surgiu como resultado da minha dedicação contínua à pesquisa e dos vínculos acadêmicos fortalecidos ao longo da minha trajetória científica. Com o amadurecimento do projeto e o apoio da minha orientadora no Brasil, identificamos a possibilidade de realizar parte dos experimentos em um laboratório de referência internacional”, conta Ailma, que morou em Boston entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025. “Foi um ano de imersão intensa. Lá, tive acesso a tecnologias de ponta e vivi um ambiente científico colaborativo e multicultural. Foi uma experiência profundamente transformadora, que ampliou minha visão sobre ciência, reforçou minha autonomia como pesquisadora e reafirmou meu propósito de contribuir para uma ciência com impacto real na vida das pessoas”, completou.

Para além da vivência científica e acadêmica, a pesquisadora também considera a experiência nos EUA como enriquecedora do ponto de vista pessoal e cultural, que lhe proporcionou muito mais do que a prática diária do inglês. “Confesso que os três primeiros meses foram bem desafiadores. Era tudo muito diferente: uma nova cultura, outro idioma, pessoas com costumes distintos, e o fato de estar sozinha, longe da família e dos amigos, exigiu bastante de mim emocionalmente. Mas, com o passar dos meses, fui me adaptando, criando conexões e descobrindo que era capaz de superar esses desafios. Pequenos choques culturais também fizeram parte do aprendizado e me fizeram enxergar o mundo com mais empatia. Foi sem dúvida um período de intenso amadurecimento”, relatou ela.

A pesquisa

A tese de doutorado, que deve ser apresentada na USP em agosto e está atualmente na fase final de análises e redação do artigo científico, investiga os benefícios do exercício físico sobre a enzima Heme oxygenase-1 (HO-1), no contexto da caquexia associada ao câncer. De acordo com Ailma, a caquexia é uma síndrome metabólica complexa, caracterizada principalmente pela perda de massa muscular e peso corporal em pacientes com determinados tipos de câncer. E o foco está em saber como os efeitos da atividade física podem contribuir na recuperação física e até mesmo no tratamento dos pacientes oncológicos que a desenvolvem. 

“Buscamos responder: será que a modulação da HO-1 pelo treinamento físico aeróbio seria capaz de reduzir o crescimento tumoral e atenuar o processo de perda de massa muscular? Nosso objetivo é contribuir para a compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos na relação entre exercício e câncer e explorar estratégias complementares que possam melhorar a qualidade de vida de pacientes oncológicos”, explica Ailma, que já conseguiu resultados promissores a partir do uso de camundongos de laboratório, que foram submetidos a exercícios de esteira antes e depois de serem inoculados com células tumorais para induzir a caquexia. 

Estas etapas foram realizadas nos laboratórios da EEFE/USP, em São Paulo, e no Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC), um dos principais hospitais afiliados à HMS, em Boston. “No Brasil, observamos que a modulação da enzima HO-1 pelo treinamento físico aeróbio foi capaz de atenuar um dos parâmetros associados ao processo de caquexia induzida pelo câncer. Já nos Estados Unidos, utilizando modelos animais geneticamente modificados para não expressarem a HO-1 especificamente no músculo esquelético (“animais knockout”), identificamos que os efeitos benéficos do exercício físico na caquexia foram completamente abolidos. Esses achados reforçam a importância da HO-1 na mediação dos efeitos protetores do exercício, evidenciando seu papel crucial no enfrentamento da perda muscular associada ao câncer”, detalha a pesquisadora. 

Próximos passos

Na reta final do seu doutorado, Ailma Paixão acredita que sua carreira está desenhada no objetivo de fazer seu conhecimento gerar impactos fora dos laboratórios, conectando ciência e prática clínica. Ela pretende seguir carreira na indústria farmacêutica, especialmente em áreas que valorizam a comunicação científica estratégica e o relacionamento com os profissionais da saúde. “Quero continuar contribuindo para a ciência, agora conectando os avanços da pesquisa com as necessidades do dia a dia médico apoiando decisões clínicas e ampliando o acesso à informação de qualidade”, confirma, citando que uma destas funções é conhecida no mercado como Medical Science Liaison (MSL, ou gerente médico-científico). 

Para Patrícia, ver a egressa concluir o doutorado em duas instituições de altíssimo renome, como USP e Harvard, lhe traz uma imensa alegria pessoal e institucional, além de representar um grande orgulho e inspiração para o curso de Biomedicina. “A história da Ailma é um exemplo vivo de que é possível sonhar alto e concretizar esses sonhos com esforço, foco e amor pelo que se faz. Ela representa a força transformadora da educação e serve de inspiração para que outros alunos acreditem no próprio potencial. É sempre emocionante ver uma trajetória como a dela florescer — e mais ainda poder ter feito parte desse caminho, mesmo que no início. Ailma é uma egressa de sucesso do curso e tenho certeza que ouviremos muito sobre suas pesquisas na ciência”, prevê a coordenadora. 

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