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Entenda a “Escala de Bristol”, que pode mostrar como está o seu intestino

Classificação do estado e da consistência das fezes humanas pode revelar se há ou não problemas do sistema digestivo; os sete tipos podem indicar se há ou não necessidade de uma mudança na alimentação (ou mesmo de procurar o médico)

às 18h53
A escala identifica sete tipos de formato e consistência das fezes, indicando se o intestino está em constipação, diarreia ou estado normal (Macrovector/Freepik)
A escala identifica sete tipos de formato e consistência das fezes, indicando se o intestino está em constipação, diarreia ou estado normal (Macrovector/Freepik)
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Existe uma utilidade bastante relevante no embaraçoso (e necessário) ato de ir ao banheiro e fazer o que muitos preferem chamar de ‘fazer cocô”, “fazer o 02” ou “o número 2”, entre outras gírias e expressões engraçadas (ou nem tanto). O estado das fezes pode revelar como está o funcionamento do intestino e de outros órgãos do aparelho digestivo, indicando se ele está perfeito, se está com alguma disfunção ou até mesmo se existe algum problema mais grave, como cânceres ou lesões. Isso pode ser constatado através da chamada “Escala de Bristol”, surgida em 1997 com o objetivo de classificar a forma e a consistência das fezes humanas. 

Essa escala, criada a partir de uma pesquisa dos médicos britânicos Kenneth Heaton e Stephen Lewis, da Universidade de Bristol (Reino Unido), é uma ferramenta visual e gráfica, que define sete tipos de formatos de fezes, que variam de constipação severa a diarreia severa, conforme o tempo de trânsito intestinal e a saúde do trato digestivo de uma pessoa. “O principal objetivo [dos pesquisadores responsáveis] era criar uma ferramenta padronizada e de fácil compreensão para auxiliar profissionais de saúde e pacientes na comunicação sobre a consistência das fezes”, contextualiza a professora Tatiana Palmeira dos Santos, do curso de Nutrição da Universidade Tiradentes (Unit). 

Ela detalha os sete tipos de fezes classificados pela Escala de Bristol, que são os seguintes:

  • Tipo 1: fezes endurecidas e separadas (constipação grave): Caroços duros e separados, como nozes (difíceis de passar). Essa consistência reflete um trânsito intestinal lento e dificultado, o que pode tornar a evacuação dolorosa e desconfortável.
  • Tipo 2: fezes em formato de salsicha e com nódulos (constipação moderada): Em forma de salsicha, mas granulosa e irregular. Essa configuração indica um trânsito intestinal lento, levando a uma consistência endurecida que pode dificultar a evacuação. Embora seja mais fácil de eliminar do que as fezes do Tipo 1, ainda pode causar desconforto e exigir esforço significativo durante a evacuação.
  • Tipo 3: Em forma de salsicha, mas com fissuras na superfície. Suas rachaduras na superfície indicam que a digestão e absorção dos nutrientes estão ocorrendo adequadamente.
  • Tipo 4: Em forma de salsicha ou cobra, lisa e macia (considerado o ideal). As fezes apresentam formato cilíndrico e superfície lisa, indicando um bom funcionamento intestinal, equilíbrio na microbiota e hidratação adequada.
  • Tipo 5: Bolhas macias com bordas claras (fáceis de passar). Embora ainda mantenham alguma forma, diferem das fezes normais por serem separadas em pedaços distintos, indicando que o intestino não teve tempo suficiente para reabsorver a água antes da evacuação.
  • Tipo 6: Pedaços macios com bordas irregulares, uma pasta. Esse padrão ocorre quando o intestino não consegue absorver água de forma eficaz, resultando em evacuações mais moles e frequentes.
  • Tipo 7: Aquosa, sem pedaços sólidos, completamente líquida. A reposição hídrica é essencial nesses casos para evitar a desidratação.

Ainda de acordo com a professora, a escala pode indicar diversas situações, a depender dos seus níveis. Os tipos 1 e 2 geralmente indicam constipação (prisão de ventre), porque as fezes permanecem muito tempo no intestino, perdendo água e tornando-se duras, difíceis de eliminar. Os tipos 3 e 4 são considerados saudáveis e ideais, pois apontam um trânsito intestinal normal e boa hidratação. E os tipos 5, 6 e 7 sugerem o quadro de diarreia, pois as fezes se movem muito rapidamente pelo intestino e não têm tempo suficiente para a absorção de água, resultando em fezes moles ou líquidas.

“Diretamente, a escala de Bristol não previne doenças, mas é uma ferramenta valiosa para o monitoramento da saúde intestinal, o que, por sua vez, pode levar à detecção precoce e, consequentemente, à prevenção de complicações. Ao identificar padrões de fezes anormais, uma pessoa pode procurar atendimento médico mais cedo, o que é crucial para o tratamento eficaz de condições como: colite ulcerativa, constipação, diarreia infecciosa, síndrome do intestino irritável, desidratação e câncer colorretal”, orienta Tatiana.

O estado das fezes indicado pela Escala de Bristol pode também ajudar a diferenciar o que é um simples “desarranjo” e o que é a uma suspeita de doença grave. A alteração intestinal simples é geralmente passageira, durando um ou dois dias, e pode ser acompanhada de sintomas leves como dor abdominal branda, inchaço ou gases que melhoram após a evacuação. Já a doença grave se manifesta com alterações persistentes nas fezes (que duram mais de alguns dias ou semanas), frequentes ou que se tornem um padrão crônico.

Ajustes necessários

Cada tipo de fezes da escala também pode ajudar a indicar algum tipo de ajuste ou mudança na alimentação e na atividade física. A professora explica que, nos casos de constipação (tipos 1 e 2), deve-se aumentar a ingestão de fibras e a hidratação. “Para prevenir e reverter esse quadro, recomenda-se aumentar a ingestão de fibras solúveis e insolúveis, presentes em alimentos como frutas, vegetais e grãos integrais. A hidratação também desempenha um papel fundamental na regulação do trânsito intestinal. Além disso, a prática regular de exercícios físicos estimula a motilidade intestinal, favorecendo a formação de fezes com consistência adequada”, detalha.

Em caso de diarreia (tipos 5, 6 e 7): deve-se reduzir a ingestão de alimentos que podem irritar o intestino e priorizar alimentos que ajudem a solidificar as fezes. “Aumente a hidratação para repor líquidos e eletrólitos perdidos. Deve-se evitar alimentos irritantes da mucosa intestinal, como cafeína, álcool, alimentos gordurosos e picantes, laticínios (se houver intolerância à lactose), e alimentos com alto teor de açúcar. É importante aumentar o consumo de fibras solúveis e avaliar o uso de probiótico e aumentar a hidratação”, completa Palmeira. Para as fezes saudáveis (tipos 3 e 4), deve-se manter uma dieta equilibrada com boa ingestão de fibras, proteínas, carboidratos complexos e gorduras saudáveis, além de uma hidratação adequada. 

Além da alimentação e da prática de atividade física, existem outros fatores que devem ser levados em conta para a melhoria da qualidade das fezes. O principal deles, conforme Tatiana, é a saúde mental. “O nervo-vago, que conecta o cérebro ao intestino, evidencia a relação entre transtornos como ansiedade e depressão e o funcionamento intestinal. Quando o estado emocional está comprometido, é comum observar irregularidades intestinais, destaca. 

Nos casos considerados mais sérios, é recomendado procurar um médico, que pode ser um gastroenterologista ou um proctologista. Isso deve ser feito caso a pessoa tenha alterações persistentes na consistência ou frequência das fezes; presença de sangue vivo ou oculto, fezes escuras e pegajosas, dor abdominal intensa e persistente mesmo após a evacuação, perda de peso sem mudanças na dieta ou estilo de vida; fadiga extrema ou anemia; febre, calafrios ou vômitos persistentes. Deve-se considerar também o histórico familiar de doenças gastrointestinais, como inflamações (DII) ou câncer colorretal.

É possível também prevenir estas situações, mantendo a boa saúde do sistema digestivo, adotando cuidados que refletem no bem-estar geral. Além da hidratação e da dieta equilibrada, eles incluem mastigar bem os alimentos; evitar alimentos processados e ricos em gordura; reduzir o estresse com técnicas de relaxamento (como yoga, meditação ou exercícios físicos); evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool; não segurar a vontade de ir ao banheiro (evitando a constipação); e lavar bem as mãos e os alimentos para prevenir infecções gastrointestinais.

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