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A grota que transformou Poço Redondo na 'Capital Sergipana do Cangaço'

A Grota do Angico foi o local onde Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros foram mortos em 1938; local é mantido como espaço de preservação da natureza local e da memória relacionada à cultura do cangaço

às 21h01
Cruzes e uma lápide marcam o exato local onde Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos em 1938, na Grota do Angico, em Poço Redondo (Erick O'Hara/Governo de Sergipe)
Cruzes e uma lápide marcam o exato local onde Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos em 1938, na Grota do Angico, em Poço Redondo (Erick O'Hara/Governo de Sergipe)
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Com mais de 1.220 quilômetros quadrados e cerca de 33,4 mil habitantes, a cidade de Poço Redondo é uma das mais importantes do sertão sergipano e se destaca por sua importância turística e histórica. Desde agosto de 2023, o município detém o título de Capital Sergipana do Cangaço, concedido através da Lei 9.247/2023, aprovada na Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Fábio Mitidieri. É a cidade onde fica a Grota do Angico, local onde, em 28 de julho de 1938, aconteceu o confronto que resultou na morte de 11 cangaceiros ligados ao grupo liderado por Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, incluindo ele próprio.

A concessão do título foi justificada pelo projeto de lei como “uma maneira de fortalecer, ainda mais, a rica cultura em torno do cangaço em Poço Redondo”, preservando todos os acontecimentos históricos e também a rica diversidade ecológica e cultural do sertão sergipana. 

A própria região da Grota se transformou em um local de visitação pública para sergipanos e principalmente para turistas, por preservar fatos e aspectos culturais e históricos do cangaço, um fenômeno político-social baseado no banditismo, que proliferou no sertão do Nordeste entre o final do século 19 e a primeira metade do século XX. Na época, grupos armados faziam saques e assaltos contra fazendas e pequenas cidades do sertão nordestino. Vítimas, autoridades e a imprensa da época viam no cangaço um mal a ser combatido e exigiam uma repressão mais violenta. 

Por outro lado, os cangaceiros eram apoiados por camadas sociais mais pobres, que os enxergavam como herois capazes de enfrentar a miséria e a opressão das classes dominantes. E não foram apenas tais camadas. Pesquisas historiográficas apontam que alguns fazendeiros, autoridades e até líderes políticos regionais da época, como o ex-governador e ex-interventor Eronides Ferreira de Carvalho, forneciam apoio, proteção e recursos a Lampião e seus cangaceiros. 

Muitos destes traços deixados pelo cangaço foram deixados em Sergipe, a partir de incursões e ataques de Lampião e de outros bandos em cidades como Capela, Carira, Simão Dias, Frei Paulo, Propriá, Aquidabã, Canindé de São Francisco e a própria Poço Redondo, onde Lampião e sua companheira Maria Gomes de Oliveira, a “Maria Bonita”, fizeram uma de suas aparições mais conhecidas, em abril de 1929. Na ocasião, segundo relato do pesquisador Rangel Alves da Costa, eles chegaram até a jantar com o então vigário da cidade, antes de assistirem a uma missa. 

Nove anos depois, Lampião acabaria sendo encontrado na Grota do Angico, dentro de uma fazenda situada no então povoado Curralinho, que à época fazia parte do território de Porto da Folha. Ali, ao final da madrugada, o grupo foi cercado por uma “volante”, tropa formada por policiais da Força Pública de Alagoas (atual Polícia Militar). Após um violento tiroteio, 11 cangaceiros foram mortos, incluindo Lampião e Maria Bonita, e tiveram seus corpos decapitados, antes de serem levados para Maceió (AL). O episódio repercutiu nacionalmente através de jornais e revistas da época, como O Cruzeiro, O Globo, A Noite, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco e até o francês Paris-Soir

Cenário preservado

O local da morte dos cangaceiros passou a ser preservado por iniciativa de pesquisadores, admiradores do cangaço e de familiares, incluindo a jornalista Vera Ferreira, neta de Lampião e Maria Bonita. Foi dela a iniciativa de criar, em 1997, a Missa do Cangaço, celebrada todos os anos, sempre no dia 28 de junho, para relembrar os fatos relacionados àquele dia e a própria cultura do cangaço. A área também é tombada como Patrimônio Histórico-Cultural de Sergipe e reconhecida como sítio arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O acesso à Grota pode ser feito por três trilhas de acesso, sendo duas que saem de Poço Redondo e uma de Canindé. Perto dali, a antiga sede da Fazenda Angicos também foi preservada e transformada em um museu, onde podem ser encontrados objetos, armas, roupas, fotos e artigos pessoais dos cangaceiros. Um Centro de Convivência também montado no local, com apoio e orientação prestada a quem for visitar a região. 

Em 2007, o Governo de Sergipe criou a Unidade de Conservação de Proteção Integral- Monumento Natural Grota do Angico (MONA), com o objetivo de preservar as belezas cênicas das diferentes fisionomias da Caatinga e sua biodiversidade. Ela guarda em si os mais variados tipos de cactos, bromélias e árvores nativas, além de vistas espetaculares para o Rio São Francisco, o “Velho Chico”. Por isso, recomenda-se que o visitante esteja acompanhado por um guia de turismo especializado ou agente florestal. 

com informações da Alese e do Governo de Sergipe

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