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As óperas que retratam a violência contra a mulher

Relacionamentos abusivos e crimes contra a mulher, como o feminicídio, já eram retratados em óperas produzidas no Século XIX

às 14h02
Encenação de 1915 da ópera Carmen, de Bizet, uma das óperas que retratam a opressão e a violência contra mulher (Bettman/Getty Images)
Encenação de 1915 da ópera Carmen, de Bizet, uma das óperas que retratam a opressão e a violência contra mulher (Bettman/Getty Images)
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O poder da música e do teatro já eram usados no século XIX para denunciar a violência e a opressão contra as mulheres. Enredos de grandes óperas, que até hoje ecoam nos grandes espetáculos mundo afora, trazem consigo toda a carga dramática que o estilo pede e também um retrato cruel da intolerância e de crimes como o feminicídio.

A ópera Carmen, escrita pelo francês Georges Bizet e estreada em 1875, na Opéra-Comique, em Paris, é um dos exemplos. Entre os assuntos polêmicos evidenciados pela trama, está o fato de Carmen ser uma libertária, mulher de personalidade forte, livre sexualmente, e assim, completamente fora dos padrões para a época em Sevilha, na Espanha do século XIX.

A cigana de rara beleza e sensualidade causa um alvoroço em uma fábrica de cigarros onde trabalhava e acaba presa por Don José. O militar, que era noiva de Micaela, logo se apaixona por ela e tempos depois a liberta da prisão, mas acaba sendo preso por isso. Ao ser libertado dois meses depois, ele deserta do exército ao reencontrar Carmen e os dois vivem um intenso e possessivo amor. Cansada do ciúme de Don José, a cigana termina o relacionamento. Neste momento, a ex-noiva Micaela o convence a voltar para casa, já que a mãe de Don José estava morrendo.

Em uma arena de Sevilha, ele então reencontra Carmen, que aguardava o novo amor, um toureiro. Don José implora para que a cigana fuja com ele, mas ela recusa e diz para ele a matar ou a deixar livre. É desta forma, que Carmen acaba morta, esfaqueada, vítima de feminicídio por simplesmente não poder ser o que ela era: uma mulher livre e de personalidade forte.

Comédia trágica

Outra ópera é I Pagliacci, do italiano Ruggero Leoncavallo, apresentada pela primeira vez no Teatro dal Verme, em Milão, no dia 21 de maio de 1892, com a orquestra sob regência de Arturo Toscanini. Ela tem sua história igualmente marcada por traições, vingança, relacionamentos abusivos e feminicídio.

A trama se passa em Montalto, uma cidade da região da Calábria, na Itália. Em um período de festejos pela Assunção da Virgem, uma celebração tradicional católica, apresenta-se um grupo circense composto por Canio, Nedda (esposa dele), Tonio e Beppe. A intenção era que eles animassem o público local com seu espetáculo, mas uma confusão amorosa ocorre, e além disso, há uma grande mistura de realidade do grupo de artistas com a ficção da apresentação que encenavam.

A esposa de Canio se apaixona por Silvio, um espectador que estava na plateia, e decide fugir com ele. Com ciúmes, Tonio revela as intenções da colega de companhia a Canio, que nos bastidores flagra Nedda com outro homem, mas não consegue identificá-lo. Canio ofende e tenta matar a esposa, mas é impedido por Beppe.

Depois do ocorrido, eles entram em cena e, na peça, Nedda era Colombina, Tonio virou Arlequim e Canio, o Pagliacci. Durante o espetáculo, há a encenação de traição, fato que perturbou ainda mais Canio, que em um momento de loucura cobra da esposa explicações e o nome de seu amante. Com ofensas, ele diz que se Nedda não dizer em vida, dirá o nome do outro na morte. Em seguida, ele dá duas facadas na esposa, que agoniza chamando por Silvio, revelando assim o nome de seu amante.

Ao correr para salvar a amada, Silvio, que assistia ao espetáculo, também acabou morto. O público, confuso, fica então sem entender o que era real e o que era ficção, até que Canio, após cometer os crimes, exclama a última frase da ópera, que ficou célebre: “A comédia terminou!”. 

Asscom | Grupo Tiradentes

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