A desigualdade social permanece como um dos grandes desafios a serem enfrentados pelo Brasil. É o que se conclui da divulgação recente do Relatório de Desenvolvimento Humano 2023-2024, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O estudo mostra que, entre 2021 e 2022, o país teve uma ligeira melhora em seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): saindo de 0,756 para 0,760, número que o coloca na categoria de “alto desenvolvimento humano”.
Mesmo com esse crescimento, a posição brasileira no ranking caiu da 87ª para a 89ª posição, de um total de 193 nações. Se comparado com os relatórios anteriores, o Brasil ainda não voltou ao lugar que ocupava em 2020 (84ª colocação), nem ao 0,764 de IDH que tinha em 2019, antes da pandemia de Covid-19. Por outro lado, entre 1990 e 2022, o índice brasileiro cresceu 22,6%, registrando quedas apenas nos anos de 2015, 2020 e 2021. No mesmo período, a expectativa de vida ao nascer aumentou em 7,4 anos; o tempo médio de escolaridade mudou em 4,6 anos; e a renda per capita aumentou em cerca de 44,3%
O IDH é um indicador estipulado pelas Nações Unidas, que varia de 0 a 1 e mede o desenvolvimento humano e o bem-estar social de um país a partir de critérios como a expectativa de vida ao nascer, a educação e a renda per capita. Quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano do país. O professor Diogo Calasans, professor do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGD) da Universidade Tiradentes (Unit), explica que esse índice, para além de fornecer uma comparação internacional, representa um indicador de bem-estar e um parâmetro para o monitoramento do progresso e a formulação de políticas públicas.
Segundo ele, os critérios do IDH também estipulam o cumprimento de algumas metas de crescimento estipuladas pelo PNUD. Em cada nação, a expectativa de vida ao nascer deve ser aumentada para 80 anos até 2030, e a renda per capita deve passar dos US$12 mil (em torno de R$60,5 mil). No mesmo período, os países também deverão alcançar a educação universal de qualidade em todos os níveis, da educação infantil ao ensino superior.
E por quê o Brasil caiu no ranking global do IDH, mesmo com a melhoria no índice em 2022? Calasans diz que esse resultado pode ser explicado por uma combinação de fatores como melhoria nos indicadores de expectativa de vida e renda per capita, crescimento de outros países, desigualdade social e a pandemia de COVID-19.
“Em termos absolutos, o Brasil apresentou um avanço em seu IDH em 2022, com a melhora nos indicadores de expectativa de vida e renda per capita. No entanto, o país caiu duas posições no ranking global, o que indica um retrocesso relativo em comparação com outros países. O Brasil apresentou um avanço em seu IDH em 2022, mas ainda há muito a ser feito para que o país alcance um desenvolvimento humano mais justo e sustentável. É necessário que o governo implemente políticas públicas que visem a reduzir a desigualdade social, melhorar a qualidade da educação e da saúde, e promover o crescimento econômico”, disse o professor.
Em comparação com outros países da América Latina e do Caribe, o Brasil ficou na 17ª posição, atrás de países como México, Equador, Cuba e Peru. O topo da lista dos latino-americanos e caribenhos é formado por Chile, Argentina, São Cristóvam e Neves, Uruguai e Antígua e Barbuda. Já os piores IDHs da região estão no Haiti, em Honduras, na Guatemala, na Nicarágua e em El Salvador. Globalmente, os piores indicadores foram alcançados por Somália, Sudão do Sul, República Centro-Africana, Níger e Chade. E os melhores ficaram com Suíça, Noruega, Islândia, Hong Kong, Dinamarca e Suécia.
Causas da desigualdade
Diogo Calasans avalia que a desigualdade existente no Brasil é provocada por diversos fatores históricos, socioeconômicos, institucionais e geográficos. Entre os principais, ele destaca a escravidão, a concentração de terras, a falta de políticas públicas, práticas discriminatórias como racismo e sexismo, e as desigualdades de renda, de acesso à educação e de oportunidades. E tudo isso, segundo ele, afeta o acesso da população a direitos como justiça, educação, saúde, segurança pública, moradia e participação política.
“O combate à desigualdade social no Brasil é um desafio complexo que exige um esforço conjunto do governo, da sociedade civil e do setor privado. Diversas medidas podem ser tomadas para combater ou minorar os fatores de desigualdade, como ações do setor privado, ações da sociedade civil e políticas públicas abrangendo diferentes áreas”, pontua o professor.
com informações da Agência Brasil
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