Um dos grandes desafios enfrentados hoje pelas mulheres é ampliar e firmar seu espaço no mercado de trabalho, mas garantindo também mais igualdade de salários em relação aos homens e uma divisão mais harmônica das tarefas escolares e familiares. Esses desafios estão postos principalmente às mulheres que ocupam cargos de liderança, cujo percentual vem crescendo em praticamente todo o mundo. Segundo a edição recente da pesquisa Women in Business, da multinacional britânica de consultoria Grant Thornton, 83% dos 29 países que participaram da pesquisa superaram a média global de cargos de liderança e gestão ocupados por mulheres em empresas e organizações.
No ano passado, essa média global alcançou 31%, 2% a mais que a do relatório de 2020, quando a média global era de 29% e foi superada por 55% dos países. O Brasil saltou do oitavo para o terceiro lugar no ranking global de mulheres líderes, que agora 39% do empresariado nacional, crescendo 5% em relação à pesquisa passada. Os cargos de gestão e liderança mais ocupados pelas mulheres no Brasil, com 43% de ocupação cada, são as diretorias Financeiras (CFO) e de Recursos Humanos. Os cargos de direção geral, executiva ou CEO têm 36% de profissionais mulheres que estão presentes ainda em 40% das diretorias de marketing, 28% das de operações e 25% das de vendas.
Este quadro no mercado de trabalho é um reflexo direto do acesso das mulheres à Educação. “A mulher estuda mais. Se nós vermos nossos índices nas universidades, temos mais mulheres do que homens. E ela ainda estuda mais anos do que o homem. Isso consequentemente reflete o mercado de trabalho”, define a gerente do Tiradentes Carreiras, Janaína Machado Tavares, referindo-se ao que é atestado em dados do Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG), divulgado em 2019 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). ele aponta que as mulheres têm 15,8 anos esperados de escolaridade e a média de 8,1 anos de estudo, enquanto os homens possuem respectivamente 15 e 7,6 anos.
A ampliação da presença feminina no mercado de trabalho se deve ainda a um melhor desenvolvimento das habilidades socioemocionais em características mais peculiares das mulheres. De acordo com Janaína, elas são preparadas desde cedo para entender e lidar com conflitos, pessoas e situações mais difíceis, ganhando capacidades de ler cenários e entender variáveis. “Os homens ainda têm uma educação extremamente machista, muito mais cartesiana do que as mulheres. Elas são muito mais treinadas nas habilidades e competências socioemocionais. Para ser um bom líder, é necessário ter autoconhecimento, controle emocional e empatia”, afirma, pontuando que as profissionais vêm estudando mais e se preparando para ocupar cargos e espaços dentro das empresas.
Ainda de acordo com a gerente, essas competências socioemocionais vêm sendo cada vez mais exigidas pelo mercado de trabalho, sobretudo devido a desdobramentos da pandemia e de conflitos globais “A pandemia chegou e mostrou a necessidade de essas empresas lidarem com conflitos, com flexibilidade cognitiva e aprendizagem. Isso não é só para as mulheres, é solicitado para que todos nós possamos ajudar a superar os desafios do Século 21, que são grandes. Nós saímos de uma pandemia, o mundo já está num processo de guerra [Ucrânia x Rússia] que pode envolver muitos países, sanções, negociações internacionais… Isso requer muito equilíbrio emocional para que a gente possa lidar com todos esses desafios. E depois da guerra, serão outros e sempre outros, e a gente precisa estar preparado”, acrescentou Janaína.
Desafios
A consolidação das mulheres no mercado de trabalho, principalmente em cargos de liderança, traz consigo obstáculos que ainda precisam ser superados, como a dificuldade de conciliar a carreira com a casa e a família. Muitas profissionais se queixam de ter uma sobrecarga maior de trabalho em relação aos homens, pois além de cumprir jornadas e funções no trabalho, elas precisam cuidar da casa e dos filhos – e várias acabam tendo que escolher qual caminho seguir para preservar sua qualidade de vida. “A mulher precisa de ajuda. Não adianta ela chegar apenas no cargo de liderança, ocupar os espaços nas empresas e estar esgotada, e chegar a um momento em que ela tem que optar, ou se sentir culpada por não dar tanta atenção ao lar, à casa, à família, etc”, alerta a gerente do Tiradentes Carreiras.
Ela defende que as empresas façam uma mudança organizacional, permitindo que os homens tirem um tempo de licença-paternidade após o nascimento dos filhos e que pais e mães tenham direito a optar trabalhar em casa. “Mulheres que têm filhos poderiam optar por um home office ou por uma forma híbrida. Os homens também, para que eles possam ajudar em casa. As empresas precisam entender a diversidade para que as pessoas possam estar bem, e inclusive produzindo. Uma mãe com filho doente não produz bem, mas o homem sim. Por quê? Porque ele não está lá cuidando dela criança. Então, a gente tem que ter uma mudança que começa com certeza pelas empresas. É muito importante que um pai chegue pro seu chefe e diga: ‘Meu filho está doente, hoje eu vou ficar em casa’. Isso é muito importante, não é só para a mulher”, propõe Janaína.
Outra questão importante é a igualdade dos salários. Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisados pela consultoria IDados a pedido do site G1, aponta que as mulheres ganharam em média 20,50% menos do que os homens no 4º trimestre de 2021, contra 19,70% a menos no final de 2020. Já o estudo Global Gender Gap Report 2021, do Fórum Econômico Mundial, atesta que as mulheres ainda demorarão 267,6 anos para conseguir uma equiparação igualitária com o salário dos homens. “O que a gente pede hoje no mercado de trabalho é uma igualdade salarial. Se nós trabalhamos e produzimos igual a um parceiro, a um homem, por que não ganhar a mesma coisa?”, considerou a gerente.
Asscom | Grupo Tiradentes