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Dez anos de marco civil da internet: impactos e perspectivas futuras

Uma década após sua promulgação, lei segue fundamental para garantir direitos na internet, mas precisa se adaptar às novas realidades digitais

às 17h55
Diogo Calasans- Professor do mestrado e doutorado em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes
Diogo Calasans- Professor do mestrado e doutorado em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes
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Em 23 de abril de 2014, o Brasil promulgou o Marco Civil da Internet, um conjunto de princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no país. Celebrando seu décimo aniversário, essa legislação pioneira tem sido fundamental na proteção dos direitos dos usuários e na regulação do ambiente digital, enfrentando questões desde a privacidade dos dados até a neutralidade da rede.

O Marco Civil da Internet de lei nº 12.965/2014 foi uma resposta à necessidade de um marco regulatório que assegurasse a liberdade de expressão, a privacidade e a proteção dos dados pessoais dos usuários. Segundo o professor do mestrado e doutorado em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (Unit), Diogo Calasans, o Marco Civil trouxe uma série de impactos significativos na proteção dos direitos dos usuários da internet, destacando-se a proteção da privacidade e dos dados pessoais, a neutralidade da rede e a liberdade de expressão.

“Inúmeras mudanças substanciais foram notadas na forma como as empresas de internet operam no Brasil, especialmente em termos de transparência e responsabilidade; guarda e proteção de registros; responsabilidade por conteúdos de terceiros; neutralidade da rede; transparência nas políticas de uso; participação e consulta pública e relatórios de transparência”, pontua o professor.

Desde a promulgação do Marco Civil da Internet, várias decisões judiciais importantes têm sido baseadas nesta lei, refletindo seu impacto significativo na regulamentação do uso da internet no Brasil. Algumas das decisões judiciais mais relevantes são:

  • Bloqueio do WhatsApp (Caso: Bloqueio do WhatsApp em 2015 e 2016)
  • Remoção de Conteúdo (Caso: Xuxa Meneghel vs. Google)
  • Responsabilidade Civil por Conteúdos de Terceiros (Caso: Daniela Cicarelli vs. YouTube)
  • Proteção de Dados Pessoais (Caso: Concessionária de Energia vs. Consumidor)
  • Direito de Resposta Online (Caso: Direito de Resposta de Políticos)
  • Retirada de Conteúdo sem Ordem Judicial (Caso: Fotos Íntimas sem Consentimento)

Desafios e adaptações às mudanças tecnológicas

Apesar dos avanços, a aplicação do Marco Civil enfrenta diversos desafios. A manutenção da neutralidade da rede e a proteção de dados pessoais são questões que demandam constante atenção. “A dificuldade em monitorar e coibir práticas abusivas por parte de provedores de internet, bem como a necessidade de harmonização com outras legislações internacionais de proteção de dados, como o GDPR na Europa, também representam obstáculos significativos”, explica Calasans.

Nos últimos dez anos, a legislação no Brasil e em muitos outros países precisou se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas e aos desafios que elas trouxeram. “Algumas das principais formas pelas quais a legislação se adaptou incluem: proteção de dados pessoais, segurança cibernética, economia digital e tributação, direitos autorais e propriedade intelectual, inteligência artificial e automação, proteção ao consumidor, combate às fake news e desinformação, e privacidade e vigilância”, elenca.

Entretanto, apesar de ser um marco importante na regulamentação da internet no Brasil, precisa ser atualizado para acompanhar as novas demandas e desafios da era digital. “Algumas áreas que podem necessitar de atualização incluem: inteligência artificial e automação, proteção de dados pessoais, neutralidade da rede, direitos autorais e conteúdo online, desinformação e fake news, segurança cibernética, economia digital, privacidade e vigilância, e inclusão digital”, enumera o professor.

Comparação internacional e futuro da regulamentação

Comparando com legislações de outros países, o Marco Civil se destaca pela forte proteção à neutralidade da rede, similar às normas da União Europeia e do Canadá. Em termos de proteção de dados, a combinação do Marco Civil com a LGPD coloca o Brasil em um patamar semelhante ao da GDPR europeia. “Enquanto nos Estados Unidos a proteção da neutralidade da rede foi enfraquecida, o Brasil manteve uma postura rigorosa, o que é crucial para uma internet justa e acessível”, afirma Calasans.

O futuro da regulamentação da internet no Brasil será influenciado por uma variedade de fatores, incluindo avanços tecnológicos, mudanças na sociedade e pressões políticas e econômicas. “É importante que as políticas digitais sejam adaptáveis e equilibradas, buscando promover a inovação, proteger os direitos dos usuários e garantir uma internet aberta, livre e segura para todos. A colaboração entre o governo, o setor privado, a sociedade civil e a comunidade internacional será fundamental para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades apresentadas pelo ambiente digital em constante evolução”, finaliza. 

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