Estender o braço, para além de receber a proteção contra o coronavírus, é um gesto que também serve para oferecer chances de cura e de vida para muitos. Trata-se da doação de sangue, demandada principalmente por vítimas de acidentes e pacientes com doenças mais complexas, como cânceres, hemofilia e outros distúrbios hematológicos. O gesto, contudo, ainda não é tão disseminado entre a população brasileira. Dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde revelam que 2,95 milhões de doações voluntárias de sangue foram feitas ao longo do ano passado em todo o país. Em relação a 2019, a queda foi de 20%, por força da pandemia do coronavírus.
Essa queda se reflete principalmente em problemas no próprio funcionamento dos serviços de saúde, como alerta o hematologista Clemente Tagliari Filho, professor de Clínica Médica da Faculdade Tiradentes (Fits). “A falta de estoque de sangue em hospitais pode refletir no cancelamento de cirurgias e de procedimentos. Pacientes que realizam quimioterapia também são prejudicados, uma vez que, quando não recebem transfusão sanguínea, podem não resistir ao tratamento. Em relação aos grandes procedimentos cirúrgicos, a maior preocupação e prejuízo recaem sobre as cirurgias cardíacas, transplantes de fígado, transplantes renais e transplante de medula óssea”, explica.
Ainda de acordo com Clemente, que também atua no Instituto de Hematologia do Nordeste (Ihene), em Recife, o tratamento para algumas dessas doenças depende exclusivamente do sangue e de seus componentes. “Infelizmente, ainda não há produtos que possam agir como substituto ao sangue humano. Logo, determinadas ocorrências médicas dependem exclusivamente de estoques de componentes sanguíneos. Quando é necessário retardar uma transfusão sanguínea, soluções temporárias incluem o uso paliativo de produtos sintéticos”, disse.
Além do próprio sangue, processado e catalogado conforme o tipo sanguíneo e o fator RH, são extraídos ainda os hemocomponentes, obtidos por meio de processos físicos como centrifugação, extração e congelamento; e os hemoderivados como imunoglobulinas e fatores de coagulação obtidos a partir do fracionamento do plasma por processos físico-químicos.
A crença de que o sangue humano pode ser usado nos tratamentos de saúde já existia desde a Grécia Antiga, onde alguns nobres, para tentar curar doenças, costumavam beber o sangue de gladiadores mortos em combate. As primeiras pesquisas neste sentido começaram no Século XVII, com tentativas de usar sangue de animais em humanos, que causaram mortes e levaram a prática a ser proibida. No entanto, a transfusão de sangue entre animais da mesma hipótese se comprovou eficaz e abriu caminho para a primeira transfusão entre humanos, no fim do Século XIX.
O sucesso das primeiras transfusões se aperfeiçoou após o desenvolvimento de tecnologias de transfusão indireta, com uso de equipamentos e substâncias que aumentaram a segurança do procedimento, evitando problemas de contaminação e coagulação, tornando a doação de sangue mais segura. “Não existe nenhum risco de contrair uma doença infecciosa doando sangue. Todo material utilizado é descartável e possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]”, ressalta Clemente.
Cuidados e requisitos
O hematologista explica ainda que é comum a ocorrência de reações adversas durante, ou logo após a doação, como dor no braço, hematomas e a chamada reação vaso-vagal, que traz sensação de desmaio, palidez, suor frio, hipotensão, formigamento das mãos e pés, visão embaçada, náusea, vômito, desmaio e, raramente, convulsão. Estas reações podem ser controladas com o atendimento médico no próprio banco de sangue e com alguns cuidados, como beber bastante líquido, evitar bebidas alcoólicas e esforço físico, ou praticar esportes, por no mínimo, 12 horas.
Os doadores de sangue têm direito a um dia de folga por ano, mediante a apresentação de atestado médico, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Podem doar sangue as pessoas entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos. Os menores de 18 anos precisam de autorização por escrito do responsável legal. Eles ainda precisam pesar mais de 50 quilos, ter boas condições de saúde, estar descansados e alimentados sem gorduras.
Se você quer aderir a esse gesto de solidariedade, consulte os hemocentros do seu estado:
Aracaju (SE)
Centro de Hemoterapia de Sergipe (Hemose)
Endereço: Rua Quinze, s/n – Capucho
Telefone: (79) 3225-8039 / 8000 / 3259-3195
Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Sergipe (IHHS)
Endereço: Rua Guilhermino Rezende, 187 – São José
Telefone: (79) 3013-1115
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