O trabalho desenvolvido na iniciação científica também pode ser uma forma de levantar discussões importantes para a realidade da nossa sociedade. Uma delas é a questão da educação sexual e reprodutiva entre os adolescentes e jovens. O assunto foi trabalhado na pesquisa ‘Estratégia para reflexão e conhecimento compartilhado com adolescentes sobre saúde sexual e reprodutiva’, realizada entre entre 2017 e 2018 pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente da Universidade Tiradentes (PSA/Unit) junto a 250 estudantes de escolas da rede estadual de ensino em Sergipe. Uma de suas participantes foi a pesquisadora Magna Kelly Barbosa dos Santos, que na época era aluna do curso de Biomedicina da Unit e atuou como bolsista de iniciação científica.
A pesquisa, orientada pela professora Cláudia Moura de Melo, do PSA, se desdobrou num artigo científico publicado em setembro de 2023 na revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente, editada pela Editora Universitária Tiradentes (Edunit), e rendeu um prêmio recente para Magna Kelly: o terceiro lugar do XII Prêmio João Ribeiro na categoria Jovem Cientista, dentro da subcategoria Cientista Júnior. A premiação foi entregue nesta segunda-feira, 26. E além do João Ribeiro, ela também recebeu menção honrosa na VII Feira de Ciências do Estado de Sergipe, promovida em 2017 pela Associação Sergipana de Ciência (ASCI).
O convite para participar da pesquisa surgiu na época em que estudava o Ensino Médio, e partiu da professora Cláudia, que já atuava junto ao Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LDIP), do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), e perguntou na escola se algum aluno gostaria de participar de pesquisas em laboratório. “Na época, eu não conhecia muito a respeito, mas tive interesse, pois sempre soube que queria trabalhar com algo relacionado à saúde. Com isso, fui apresentada à professora, respondi algumas perguntas e comecei a acompanhar a rotina dos pesquisadores do laboratório. Em seguida, fui incluída para ajudar em um projeto de mestrado, o qual deu origem ao artigo que foi premiado”, lembra Magna.
O projeto era uma atividade de sensibilização de adolescentes e jovens sobre temas como prevenção de IST’s, gravidez na adolescência não planejada, zika vírus e riscos para a saúde materna e do bebê. Ela envolveu 250 alunos de escolas da rede estadual nos municípios de Carmópolis e Nossa Senhora do Socorro, e contou com uma equipe de pesquisadores do Núcleo de Educação Básica (NEB), do qual Magna fez parte juntamente com as pesquisadoras Herifrânia Tourinho Aragão (que era aluna de mestrado do PSA), Caline Santos Cavalcante (também aluna de iniciação científica da época) e Jéssy Tawanne Santana (egressa de Enfermagem e atual doutora do PSA).
Cláudia Moura afirma que a pesquisa vem sendo desenvolvida desde o período de uma epidemia de zika vírus que se propagou com expressivas consequências para a saúde infantil no Brasil, como a microcefalia. “As evidências científicas trouxeram à tona a heterogeneidade da transmissão viral, dentre elas, a via sexual. Neste sentido, ressalta-se a importância de incluir no controle de arboviroses (casos suspeitos e confirmados), estratégias de promoção à saúde sexual e reprodutiva para mulheres, inclusive meninas e adolescentes. Justamente em função dos escolares residirem em áreas de renda média/baixa que podem ser fatores que influenciem negativamente no acesso a conteúdos informativos e confiáveis” destaca ela.
Atividades e aprendizados
Magna ajudava os pesquisadores na rotina do laboratório, na entrega de relatórios, nas pesquisas bibliográficas sobre o tema, na confecção de materiais para o projeto (banner, material lúdico, cartilhas) e na apresentação em eventos científicos. Para ela, um aspecto que mais chamou a atenção no projeto foi a vulnerabilidade da sociedade em relação à falta de conhecimento e tabus impostos às mulheres sobre a gravidez.
“Na época da pesquisa, existiam muitas adolescentes grávidas sem ter o planejamento e o índice de Infecções sexualmente transmissíveis era altíssimo. Muitos dos adolescentes sequer sabiam que o uso de preservativo diminuía muito as chances de contrair infecções, pensavam que o preservativo era utilizado apenas como meio de evitar uma gravidez”, lembra ela, que hoje também atua como pesquisadora da Rede Sergipana de Mulheres na Ciência (Rede SEMCI) e participa de outras pesquisas científicas em andamento na UFS.
O desempenho da então bolsista se destacou na condução das atividades. “A Magna Kelly é uma garota inteligente e focada nas atividades da pesquisa. Seu Plano de Atividades foi muito bem executado, especialmente com relação aos espaços e estratégias de diálogo/socialização com os adolescentes, na confecção e aplicação dos materiais didáticos lúdicos e na construção de trabalhos científicos (resumo e artigo científico). Fico feliz que a sua atuação na pesquisa premiada a incentivou na inserção ao mundo da ciência, na graduação durante o curso de Nutrição desenvolvendo projetos de pesquisa de Iniciação Científica e ainda mais saber o quanto ela deseja realizar seu mestrado após a graduação”, elogia Cláudia.
Atualmente no curso de Nutrição da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Magna Kelly conta que a experiência da iniciação científica na Unit foi importante para os rumos da sua carreira como acadêmica e pesquisadora. “Essa primeira iniciação abriu mais minha mente para continuar pesquisando e me atualizando, nas áreas que eu gosto. Ela me ensinou muita coisa em relação a como pesquisar, onde pesquisar e qual melhor forma de pesquisar para encontrar respostas coerentes e principalmente confiáveis para assim obter resultados. Me fez ter mais curiosidade e me dedicar mais aos estudos, me dando oportunidade de bolsa em iniciação científica, inclusão no meio acadêmico, antes mesmo de realizar algum curso superior”, descreveu ela.
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