O luto é uma das experiências mais desafiadoras da vida, um período de profunda tristeza e adaptação à ausência. Quando a dor se alonga e se intensifica, podendo evoluir para um quadro depressivo ou luto patológico, a busca por estratégias de enfrentamento se torna crucial. Nesse cenário, a atividade física surge não apenas como um benefício para o corpo, mas como um poderoso aliado da saúde mental, capaz de oferecer suporte e um novo sentido àqueles que enfrentam a fase mais sombria após uma perda.
Conforme explica o psicólogo Cleberson Costa, e professor da Universidade Tiradentes (Unit), o luto costuma se manifestar por tristeza, culpa, raiva e uma sensação de vazio. Porém, quando esses sentimentos se prolongam por meses, atrapalhando a vida cotidiana, trata-se de um luto patológico, uma condição que exige atenção especializada e caminhos que incluem suporte psicológico e, muitas vezes, o movimento do corpo. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 apontam que, entre adultos brasileiros, quem pratica atividade física no tempo livre tem 26% menos chance de apresentar sintomas depressivos. Ou seja: mexer o corpo pode ser um potente aliado na reconstrução emocional.
“O exercício físico é uma excelente estratégia de enfrentamento ao luto. Além dos benefícios psicossociais, ajuda a reduzir a ansiedade e a depressão ao liberar endorfinas, proporcionando alívio emocional e promovendo sensação de bem-estar e controle pessoal. Além disso, a atividade física estimula neurotransmissores como serotonina, dopamina e endorfina, que regulam o humor. Psicologicamente, promove sensação de conquista, distração saudável e rotina”, destaca Cleberson.
Terapia complementar
Para o psicólogo Cleberson Costa, a atividade física pode, sim, ser considerada uma ferramenta terapêutica complementar eficaz, especialmente quando integrada à psicoterapia. Ela atua na gestão emocional e auxilia na reorganização do cotidiano. Ao se engajar em uma rotina de exercícios, a pessoa enlutada pode até mesmo estabelecer novos vínculos sociais e descobrir novos propósitos no viver, facilitando o processo de ressignificação da perda.
“É recomendada sempre que houver disposição mínima para movimentar-se. É preciso, por exemplo, respeitar a fase inicial do luto, que é de tristeza profunda e indisposição para atividades simples. Forçar uma atividade física de maneira precoce pode gerar sensação de culpa no sujeito, por exemplo. Deve-se respeitar os limites físicos e emocionais, iniciando de forma gradual e sempre com orientação de um profissional de educação física”, pontua o psicólogo.
A recomendação para iniciar a atividade física é que haja uma disposição mínima para se movimentar. “É crucial respeitar a fase inicial do luto. Forçar a prática precocemente pode gerar culpa. O ideal é começar gradualmente, sempre respeitando os limites físicos e emocionais, e, preferencialmente, com a orientação de um profissional de educação física. Mesmo para quem não tem histórico de prática esportiva, os benefícios emocionais são notáveis, incluindo a redução da tristeza e ansiedade, melhora do sono e aumento da autoestima, além de um sentimento de estrutura e motivação em meio ao caos emocional”, orienta.
Em casos de perdas traumáticas, como assassinatos ou mortes repentinas, o impacto emocional é ainda mais intenso. Nesses cenários, a atividade física se mostra igualmente benéfica, ajudando a canalizar emoções intensas, diminuir sintomas de estresse pós-traumático e proporcionar alívio físico e mental. “Caminhadas, yoga e exercícios leves são boas opções iniciais, mas a escolha deve se alinhar à identificação pessoal e à disponibilidade de profissionais”, pontua.
Ferramenta de cura, não fuga
Embora extremamente benéfica, a atividade física pode ser mal utilizada, transformando-se em “fuga emocional” quando praticada de forma compulsiva para evitar o contato com a dor. Nesse caso, ela deixa de ser uma ferramenta de cura para mascarar sentimentos que precisam ser elaborados. O equilíbrio e a consciência emocional são indispensáveis.
“Antes de tudo, busque suporte psicológico na psicoterapia. A partir da avaliação do profissional de psicologia, você terá um norte sobre se seu luto está sendo saudável ou patológico. Diante disso, estando em um curso normal da elaboração do luto, é importante que você identifique em qual atividade física você se identifica fazer, observando as pessoas ao seu redor, para construir uma importante ponte social, enquanto movimenta o corpo e a mente, fortalecendo-se neste processo de retomada do sentido da vida”, recomenda Cleberson.
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