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Falar a respeito faz parte do luto e ajuda a lidar com a perda de um filho

Terapia é uma opção para quem busca falar sobre a sua perda e ver um sentido para a dor e o luto

às 23h31
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Não existe uma definição que comporte a dor de uma mãe ou pai que perde um filho. Assim como muitas coisas na vida também não têm um nome específico, o que não nos impede de buscar um sentido para elas. O luto ao qual muitas famílias estão expostas nesse momento, com tantas perdas de entes queridos, é um processo a ser vivido no uso das palavras, ainda que não sejam elas definidoras.

A morte de um filho é um exemplo dos mais fortes. Uma experiência inominável que inverte a ordem natural da vida. Comoveu os brasileiros o que ocorreu recentemente com o humorista piauiense Whindersson Nunes e sua companheira, Maria Lina, que tiveram seu primeiro filho de nascimento prematuro, seguido de seu falecimento. Para a psicóloga clínica Luciana Andrade, professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas), a brevidade no momento de contato com um filho pode se transformar em um longo tempo em suas memórias. 

“A chegada de um filho vem antes de seu nascimento. Vem no desejo de ser pai e mãe, na descoberta da gravidez, na gestação. Whindersson e Maria já eram pais antes de seu filho nascer. Mas talvez seja aí, nessa brevidade do tempo, que eles poderão descobrir como experienciar o sentimento da maternidade e paternidade nessa breve, mas longa caminhada.”, explica a psicóloga. 

Como lidar com o luto, mas especificamente de um filho ou filha, independentemente da sua idade? A profissional, mestre em Psicologia, observa que geralmente, quando uma pergunta como essa surge de fora, ou seja, quem generosamente pergunta sobre isso para entender a dor do outro, parece acreditar que o que o outro gostaria era de sofrer o menos possível e em um curto tempo possível. 

“Então, quando perdemos alguém, o que costumamos ouvir, de um amigo ou parente, é que a gente dê um jeito de se distrair e de esquecer logo o que aconteceu. Sobre isso eu penso que a direção é exatamente contrária: quanto mais tentamos esquecer, mais as lembranças surgem e, consequentemente, a sensação é que elas vêm como se fossem invasivas. Costumamos ouvir no consultório, das pessoas que procuram por terapia: “não consigo parar de pensar nisso”; “os pensamentos me tomam e eu não controlo”; “passei por uma perda e não paro de pensar sobre isso”. Mas é nesse ponto onde está a ideia central da história: para fazer o luto é necessário lembrar”, explica.

Terapia como auxílio

Frequentemente a pessoa enlutada sente-se sozinha ou perdida, sem ver sentido no mundo. Muitas vezes porque não tem com quem falar sobre a perda do ente querido. É nesse momento que alguns procuram por terapia, seja para falar sobre a sua dor, seja para tentar extirpá-la. Um ou uma terapeuta pode ser essa pessoa, que escuta com atenção e sem julgamentos.

“Sentir dor não é nada agradável e uma dor que parece que não passa pode ser desesperador. Os motivos podem ser vários, mas a saída pode ser única e que se aproxima do que sentimos: lembrar e falar do ente morto. Porque é quando falamos e endereçamos a nossa fala para alguém que a nossa dor pode fazer um novo sentido para nós. Primeiro, isso é devido ao tal endereçamento e, segundo, é porque temos a chance de reconstruir ou reinventar uma história”, relata Luciana Andrade. 

Ainda segundo a psicóloga, o luto deve ser elevado a seu estatuto de ato de palavra. Luto não se faz guardando a dor, tentando esquecer o ente querido, ou se distraindo porque não aguenta mais e se quer parar de pensar ou sentir saudades. 

“O luto é feito palavra por palavra, num percurso sem muita direção. Sim, no começo falar sobre o luto, ou melhor, da pessoa que morreu, parece sem sentido ou sem rumo, mas à medida que as palavras começam a sair da nossa boca, um sentido parece emergir. E não vem das profundezas dos nossos pensamentos. Vem do ato da palavra. Por este motivo, acredito que a terapia é uma opção para quem busca falar sobre a sua perda e ver um sentido para a dor”, conclui Luciana Andrade.  

Asscom | Grupo Tiradentes

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