No Brasil, o uso de agrotóxicos ainda é o principal método de controle de pragas e doenças das plantas, no entanto, o seu uso tem sido discutido por diversas entidades. Muitos inseticidas químicos proibidos em países da Europa e dos Estados Unidos ainda são utilizados no país, prejudicando o meio ambiente por meio da contaminação do solo, e a população, devido a intoxicações durante a aplicação dos produtos ou através dos resíduos nos alimentos. Por isso, os fabricantes e o setor agropecuário, que fazem uso destes produtos, enfrentam pressão para substituir os métodos convencionais por outros menos agressivos e tóxicos.
Segundo o professor Marcelo Mendonça, coordenador do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Industrial da Universidade Tiradentes (PBI/Unit) e pesquisador do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), a busca por alimentos saudáveis, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável têm gerado essa nova demanda para as empresas que produzem inseticidas químicos.
“Os agrotóxicos têm classificações toxicológicas, que variam de um a quatro, e de cores, que sinalizam o nível de toxicidade desde extremamente tóxico a pouco tóxico. Hoje, cresceu muito o número de agrotóxicos faixa verde, que têm uma toxicidade menor. O mercado vem buscando moléculas químicas que sejam mais seletivas, menos tóxicas ao ser humano, mas que sejam eficientes para as doenças, insetos ou pragas”, esclareceu o professor Marcelo.
Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 25% no uso de agrotóxicos, que somam cerca de 2.300 produtos registrados. A exposição de seres humanos a eles causa febre, vômito, dor de cabeça e diarreia.
Em alguns municípios de Sergipe há registros do uso excessivo de agrotóxicos, a exemplo do acidente ecológico que ocorreu no Riacho da Marcela, em Itabaiana. No local, foram identificados a presença de metais pesados e o lançamento de esgoto, ocasionando a morte de centenas de peixes, além da intoxicação de trabalhadores das plantações próximas e do aumento do número de câncer em famílias de agricultores. “No município de Itabaiana, em áreas cultivadas com hortaliças ainda é utilizada uma quantidade muito grande de agrotóxicos para se obter um produto com boa aparência, livres dos danos causados por pragas e doenças. Há relatos de problemas de contaminação do Riacho da Marcela, pelo uso excessivo de agrotóxicos na agricultura ao redor”, citou o pesquisador.
Ele explica que existem várias técnicas de controle de pragas e doenças para substituir ou minimizar o uso dos produtos químicos tradicionais. São métodos culturais, físicos e, principalmente, biológicos, dentre outros, que são aplicados baseados no conceito de manejo integrado, que possibilita a utilização de vários métodos de controle, inclusive o químico, mas somente em última instância, empregando-se produtos de baixa toxicidade, em subdosagem e na forma de aplicação seletiva.
“Entre os métodos de controle integrado, destacamos o método biológico, em que utilizamos organismos vivos para o controle de pragas e doenças das plantas. Este método de controle já ocorre naturalmente no campo, através de insetos predadores e parasitoides, fungos, vírus e bactérias, que são organismos que controlam as pragas. Porém, o método biológico pode ser manejado de forma a conservar estes organismos no campo ou mesmo aumentar, inclusive, pelo uso de produtos comerciais disponíveis no mercado”, exemplifica Marcelo.
Pesquisa
Nesse sentido, o Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Industrial (PBI/Unit) realiza pesquisas voltadas para a formulação de inseticidas biológicos e botânicos, que não causam danos ao aplicador, à população e também não provocam impacto ambiental. “Temos trabalhado basicamente em duas linhas: produção e desenvolvimento de produtos a partir de microrganismos, principalmente fungos entomopatogênicos, que causam doença em insetos pragas dos óleos essenciais de plantas”, explicou. Essas pesquisas têm contado com o apoio financeiro de agências de fomento (Capes, CNPq e Fapitec/SE) e do Banco do Nordeste (BNB).
“O trabalho é inovador, feito pelo grupo de pesquisa da Biotecnologia, por mim e, em parceria, com as professoras Patrícia Severino e Sona Arun, também integrantes do PBI. As pesquisas têm sido direcionadas para o desenvolvimento de tecnologias de produção dos micro-organismos de forma artificial, e também para a sua formulação, transformando-os em bioinseticidas para serem utilizados nas lavouras”, complementou o pesquisador Marcelo.
O tema é estudado por alunos de mestrado e doutorado do Programa. Os trabalhos são voltados para extratos de fungos entomopatogênicos, tema da tese de doutorado de um dos alunos, a confecção de um inseticida formulado com base nos óleos extraídos de plantas, e o encapsulamento de fungos entomopatogênicos para serem utilizados como inseticida microbiológico, realizados por estudantes de mestrado.
Para o professor Marcelo Mendonça, a ciência tem buscado opções para vários problemas enfrentados pela sociedade, neste caso, o uso de agrotóxicos. “Esta é uma das contribuições da pós-graduação da Unit: disponibilizar ao setor agrícola produtos inovadores e eficientes para o controle de pragas e que não causam impacto ao meio ambiente nem à saúde do produtor ou da população. Para nós, que somos pesquisadores, trabalhando aqui, na produção de conhecimento, interessa muito atingir o objetivo de trazer benefícios à sociedade. Toda a nossa sociedade será beneficiada. O produtor, produzindo alimentos livres de danos causados pelas pragas, e a população que consome estes produtos saudáveis, sem resíduos químicos”, concluiu.
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