Duas pesquisas desenvolvidas no âmbito da Universidade Tiradentes (Unit) e do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) estão entre os vencedores do XII Prêmio João Ribeiro de Divulgação Científica e Inovação Tecnológica, promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec). A entrega dos prêmios está prevista para acontecer ainda neste mês de agosto, em data ainda a ser confirmada pela fundação estadual.
Entre os trabalhos premiados, está o da professora Juliana Cordeiro Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) da Unit, com o título “Tratamento de feridas crônicas com membranas contendo extrato de barbatimão, uma possibilidade de desdobramento da bioeconomia no estado de Sergipe”. Ele ficou em primeiro lugar na categoria Pesquisadora/Inovadora, dentro da subcategoria “Inovação para o setor empresarial”. De acordo com Juliana, a pesquisa no PSA se estende desde 2014 e trabalha com duas espécies de plantas conhecidas como “barbatimão”: o Stryphnodendron adstringens, mais presente no Centro-Sul do Brasil; e o Stryphnodendron coriaceum, mais presente entre o Nordeste e o Centro-Oeste do país.
A etapa mais recente delas, que está em desenvolvimento e foi a premiada no João Ribeiro, concentra-se sobre as oportunidades econômicas do plantio e da extração sustentável do barbatimão em Sergipe para o fornecimento dos insumos à indústria. “Estamos trabalhando na parte de bioeconomia, que nada mais é do que a gente entender como esse recurso natural pode ser produzido em maior escala para gerar renda, impacto social, impacto ambiental positivo, extraído de maneira sustentável no país. A gente precisa criar uma cadeia produtiva, porque não se consegue produzir isso na indústria se não tiver um fornecedor dessa planta, desse extrato. É um projeto mais amplo, bem maior do que uma tese ou uma dissertação”, explica Juliana.
Outras duas etapas se concentraram nas propriedades cicatrizantes das substâncias presentes em cascas e folhas do barbatimão. A primeira, cujos testes confirmaram o potencial cicatrizante, teve a participação do professor João Carlos Palazzo, da Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR), que também estuda o tema, e resultou no desenvolvimento de uma membrana cicatrizante que foi patenteada em 2022 junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Já a segunda, apoiada pela Fapitec e pelo Ministério da Saúde através do programa Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), aprofundou os testes de cicatrização da membrana, utilizando-a no tratamento de lesões nos pés de pacientes com diabetes (pé diabético). De acordo com a pesquisadora, foi um projeto-piloto desenvolvido em postos da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, que teve resultados considerados promissores.
Juliana acredita que o estudo traz dois grandes impactos positivos para a sociedade, nas áreas ambiental, da saúde e da geração de emprego e renda para pequenos produtores. “Eu vejo o sofrimento de pessoas que têm feridas crônicas e não conseguem tratamento adequado. Uma vez que isso é colocado no mercado, a sociedade pode receber um material que efetivamente funcione para cicatrizar feridas crônicas. Do ponto de vista ambiental, se fizer o manejo adequado da coleta da casca, a gente pode ter um impacto ambiental positivo, que não vai degradar. A gente tem um impacto social, que a agricultura familiar pode estar sendo beneficiada, porque essas árvores existem no quintal de várias pessoas do interior. Se estabelecendo uma cooperação, um sistema de cooperativa, você pode ter esse produto sendo trabalhado, manufaturado de maneira conjunta”, argumenta.
Juliana se disse “lisonjeada e feliz” pelo reconhecimento e dividiu os méritos do prêmio com todos os alunos e pesquisadores que participaram do trabalho, além de agradecer às instituições que apoiaram a pesquisa. “Eles participaram junto comigo na construção e nas descobertas e também nas avaliações. É um momento de dividir esse mérito com todo mundo, porque pesquisa se faz em equipe e esse prêmio também tem que ser dividido com toda a equipe, que foi uma equipe bem grande”, comemora.
Trabalho da iniciação
A segunda pesquisa premiada foi um projeto de iniciação científica conduzido pela estudante Magna Kelly Barbosa dos Santos, que foi aluna do curso de Biomedicina da Unit entre 2017 e 2018, e hoje faz Nutrição na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ela ganhou o terceiro lugar da categoria Jovem Cientista, dentro da subcategoria Cientista Júnior, e participou, enquanto estava no Ensino Médio, da pesquisa ‘Estratégia para reflexão e conhecimento compartilhado com adolescentes sobre saúde sexual e reprodutiva’, orientada pela professora Cláudia Moura de Melo, também do PSA e do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LDIP/ITP).
O estudo desenvolvido entre 2017 e 2018 foi sobre a realização de oficinas temáticas sobre saúde sexual e reprodutiva, promovida por facilitadores do Núcleo de Ensino Básico do PSA (NEB) junto a 250 adolescentes da rede estadual de ensino. O objetivo era promover a sensibilização deste público sobre temas como prevenção de IST’s, gravidez na adolescência não planejada, zika vírus e riscos para a saúde materna e do bebê. “Na época, o Zika era um tema muito relevante, devido a associação deste vírus com o desenvolvimento de crianças com microcefalia, além disso o tema de prevenção de IST’s, gravidez indesejada sempre é pertinente no meio adolescente, pois é uma fase de descobertas, curiosidades sobre o corpo, sendo assim é de suma importância alertar sobre prevenção e riscos dessas doenças”, lembrou.
A pesquisa, que também teve a participação das pesquisadoras Herifrânia Tourinho Aragão (que era aluna de mestrado do PSA), Caline Santos Cavalcante (também aluna de iniciação científica da época) e Jéssy Tawanne Santana (egressa de Enfermagem e atual doutora do PSA), desdobrou-se num artigo científico publicado em setembro de 2023 na revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente, editada pela Editora Universitária Tiradentes (Edunit). Além do Prêmio João Ribeiro, ela também recebeu a menção honrosa na VII Feira de Ciências do Estado de Sergipe, promovida em 2017 pela Associação Sergipana de Ciência (ASCI).
Magna Kelly, que também atua como pesquisadora da Rede Sergipana de Mulheres na Ciência (Rede SEMCI), destacou a importância do prêmio e do trabalho para a sua carreira. “Foi muito gratificante, pois eram centenas de trabalhos sendo avaliados e todos com sua importância para a sociedade. Ganhar esses prêmios só mostrou que estamos indo no caminho certo nas pesquisas, mostrando as vulnerabilidades da sociedade e como podemos mudar e ajudá-los em meio às dificuldades de aprendizado que a sociedade possui”, ressalta.
A professora Cláudia Moura afirma que a equipe da pesquisa “sentiu honrada por ganhar o Prêmio João Ribeiro, em função do mérito científico e da relevância social” da pesquisa. E destaca que ela incentiva o fomento de jovens mulheres como cientistas, contribuindo para uma maior diversidade no setor. “São muitos os desafios para realizar Ciência no Brasil. As premiações são espaços de visibilidade e valorização do cientista e do seu papel de responsabilidade social como pesquisador e cidadão para mudar cenários e disseminar/difundir conhecimento por meio da ciência”, conclui.
O prêmio
O prêmio foi criado pela Fapitec em homenagem ao professor, jornalista e historiador sergipano João Batista Ribeiro Fernandes (1860-1934), imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e um dos pioneiros da divulgação do jornalismo científico nacional. Ele escolhe trabalhos de pesquisadores, bolsistas, profissionais de comunicação, estudantes e empresários que contribuem com o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação em Sergipe. O edital desta edição ofertou um total de R$ 89 mil em prêmios nas categorias Pesquisador Destaque, Pesquisador Inovador, Jovem Cientista, Profissional de Comunicação e Empresa Inovadora.
* Alterada em 13/08/2024, às 8h36, para correção de fotografia
Leia mais:
Unit se destaca no XI Prêmio João Ribeiro realizado pela Fapitec
PSA estuda as consequências da intervenção humana no meio ambiente
Pé diabético: pesquisa desenvolve medicamento que trata feridas de difícil cicatrização