De uma dieta que incluía produtos de origem animal e derivados do leite, a psicóloga Lidiane Drapala decidiu cortar carnes, derivados do leite, além de bebidas estimulantes como refrigerantes e café. O processo de transição alimentar começou em 2007, de forma experimental, quando iniciou os estudos de práticas meditativas.
“Em 21 dias de jejum parcial não consumi produtos de origem animal. Confesso que no início foi difícil na questão da carne e do café porque havia uma relação afetiva, uma ligação de momentos que envolviam esses alimentos e reuniões familiares. Após esse período de transição fiquei quase três anos sem ingerir carne de qualquer origem”, relata.
Apesar de uma dieta balanceada, a rotina diária do trabalho a fez perder peso, e sintomas, como fraqueza, começaram a aparecer. Nesse momento, Drapala reinseriu peixe na dieta. “Comer peixe tudo bem, mas veio junto o queijo e o apelo afetivo. Em 2010 voltei ao consumo eventual, mas ideologicamente esse hábito me incomodava. Finalmente em 2015 reorganizei o meu cardápio. A questão do cotidiano pesa na escolha e na operacionalização da alimentação. Não é fácil mudar toda uma rotina, mas é possível e viável. Inclusive esse período em home office me possibilitou pesquisar mais, descobrir novos sabores e o aprendizado sobre desperdiçar menos comida”, confessa.
Diferente do que muitos pensam o veganismo não é caro, há uma variedade de produtos e uma infinidade de possibilidades de preparar refeições. Segundo Isabelle Brito, coordenadora curso de Gastronomia da Unit, um dos maiores desafios encontrados na reprodução de receitas convencionais em receitas veganas está em aspectos como texturas e alimentos que possam dar liga às produções gastronômicas.
“Na gastronomia, o ovo é um insumo básico que tem essa função. Como fazer um bolo sem ovos? Nesse quesito entra em cena a alquimia da culinária, testando as propriedades de outros ingredientes para fazer as substituições. A chia entra como uma aliada incrível para conferir textura e fazer esse papel ligante. E os estudos são muitos para que as sensações gastronômicas no universo vegano sejam maravilhosas. É a mágica da arte de cozinhar. Podemos criar, inovar, sentir diversas sensações adaptando nossos hábitos culturais às mudanças de comportamento social”, revela.
Transição segura
A Profa. Dra. Tatiana Palmeira, docente do curso de Nutrição da Unit, chama a atenção para o cuidado e a necessidade de acompanhamento nutricional para realizar essa transição de forma segura, uma vez que, apesar desse estilo de vida buscar equilibrar seus princípios e a saúde, todo tipo de dieta mal planejada, pode ser prejudicial, ocasionando deficiências nutricionais.
“Qualquer indivíduo que adote o estilo vegano deve estar ciente da probabilidade de ocorrer alguma carência de nutrientes, pois nos casos de dietas mal planejadas, alguns nutrientes são alvos de atenção, como as vitaminas B12 e D, os ácidos graxos, ômega 3, o cálcio, o ferro e o zinco. Dessa forma, o acompanhamento de um nutricionista e o planejamento alimentar individualizado são de extrema importância para minimizar os riscos de possíveis deficiências nutricionais” alerta.
Segundo a Academia Americana de Nutrição (ADA), as dietas veganas bem planejadas e acompanhadas por um profissional podem ser adequadas a diversas fases da vida. “Algumas pesquisas relacionadas às dietas veganas revelam um melhor controle da pressão arterial, do colesterol e da diminuição de doenças cardíacas, diabetes mellitus tipo 2 e de alguns tipos de câncer. Isso por conta da característica dessa dieta em possuir baixo teor de ácidos graxos saturados e elevada quantidade de fibras alimentares, fitoquímicos, compostos fenólicos, carotenóides e flavonóides. Por isso, não esqueça que, antes da adesão de uma dieta vegana procure um nutricionista para realizar essa transição de forma segura, visando atender às necessidades individuais”, finaliza.
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