A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona muitos desafios. Mais do que isso, com as grandes descobertas, a importância da pesquisa científica nunca esteve tão evidenciada. O olhar voltado para pesquisadores em todo o mundo, que criam comprovações científicas a todo o tempo, além de buscar resultados para possíveis vacinas, carrega consigo a esperança de cura da Covid-19 e demonstra o comprometimento com a ciência.
Um desses grandes exemplos de envolvimento com a pesquisa durante este período é a egressa do curso de Biomedicina da Universidade Tiradentes, Mariene Amorim. Atualmente, Mariene é aluna de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, e integra a força tarefa contra a Covid-19, iniciativa da Unicamp para ajudar no diagnóstico e nas pesquisas sobre o novo coronavírus.
“Nesse momento, as pesquisas são extremamente importantes. Precisamos de respostas. Precisamos conhecer esse patógeno melhor, como nosso sistema imunológico reage frente à infecção, como poderíamos barrar a replicação viral, entre outros fatores. Todos esses estudos são essenciais para que encontremos uma maneira de melhorar a situação da pandemia. Cientistas em todo o mundo estão trabalhando arduamente nessas questões, e eu fico feliz em poder mostrar que no Brasil também é feita pesquisa de qualidade”, declara Mariene.
“Estamos vivenciando um momento muito delicado e de muito estresse para toda a população. Muitas pessoas estão morrendo. É muito triste. As medidas de isolamento adotadas no início da pandemia ajudaram a diminuir um pouco a disseminação, porém não foi suficiente, e o vírus se espalhou ao ponto a que chegamos hoje”, salienta.
O resultado e o reconhecimento dos esforços de diversos pesquisadores, entre eles Mariene Amorim, veio com a publicação do maior estudo de vigilância genômica da Covid-19 na América Latina na Revista Science, uma das publicações acadêmicas mais prestigiadas mundialmente, editada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência. Para se ter ideia da importância e do rigor da Science, apenas 7% dos artigos a ela submetidos são publicados.
O artigo intitulado “Evolution and epidemic spread of SARS-CoV-2 in Brazil” é o maior estudo focado sobre a dispersão do vírus no Brasil e sequenciou 427 genomas do novo coronavírus (SARS-CoV-2) de estados brasileiros. “O estudo foi resultado de um trabalho envolvendo várias universidades brasileiras e estrangeiras e liderado pelo professor Dr. Nuno Faria de Oxford e pela professora Dra. Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo – USP”, comenta Mariene.
“Foi um estudo genômico e epidemiológico que integrou dados de 427 genomas de SARS-CoV-2, incluindo 18 estados brasileiros e 85 municípios, com uma análise filogenética e dados de mobilidade da população”, explica a pesquisadora.
“Trabalhei na obtenção e processamento de amostras residuais, coletadas para o diagnóstico da Covid-19, que foram positivas. Em seguida, na realização do sequenciamento dos genomas, utilizando a plataforma MinION (Oxford Nanopore). Com a ajuda dos professores, do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus — CADDE — e do Hospital das Clínicas, conseguimos sequências de 66 genomas completos de amostras da cidade de Campinas e região. Esses dados foram incluídos no estudo”, acrescenta.
O artigo destaca que a maior parte das introduções do vírus no Brasil foi identificada nas capitais com maior incidência de voos internacionais, como São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro. Apenas uma pequena parcela dessas introduções resultou nas linhagens que se dispersaram no país por transmissão comunitária, ou seja, por transmissões cuja origem da infecção não é possível de rastrear e que circulam entre pessoas que não viajaram.
Além disso, os resultados também demonstram que intervenções como o fechamento das escolas e do comércio no final de março, embora insuficientes, ajudaram a reduzir a taxa de transmissão do vírus. Inicialmente, essa taxa foi superior à 3, o que significa que uma pessoa transmitia para três pessoas o vírus. Após as medidas, os valores caíram para entre 1 e 1,6, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro.
“Para mim, foi uma grande satisfação e um sentimento de gratidão enormes, pois esse trabalho traz informações valiosas para entendermos a propagação do novo coronavírus no Brasil, que atualmente está entre os mais afetados pela pandemia”, finaliza.
Outras publicações
Mariene Amorim, que é mestre em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, iniciou sua carreira na pesquisa ainda na graduação por meio do Programa de Iniciação Científica da Universidade Tiradentes no Laboratório de Biomateriais do Instituto de Tecnologia e Pesquisa, sob a orientação da Dra. Francine Padilha. Atualmente, Mariene está em doutoramento e realizando um estudo genômico epidemiológico e de multiômicas para a pesquisa de fatores associados ao desenvolvimento de doença grave em pacientes positivados para a Covid-19, em Campinas e Região, sob a orientação do professor Dr. José Luiz Proença Módena.
Além da Science, Mariene Amorim também já teve outros trabalhos publicados em revistas científicas de alto impacto. Em 2017, o artigo “Specific Biomarkers Associated With Neurological Complications and Congenital Central Nervous System Abnormalities From Zika Virus Infected Patients in Brazil” foi publicado no The Journal of Infectious Diseases. Em 2018, a Frontiers in Microbiology publicou o artigo “HU-Lacking Mutants of Salmonella enterica Enteritidis Are Highly Attenuated and Can Induce Protection in Murine Model of Infection“. No ano seguinte, os estudos sobre o Zika Vírus estavam no The Journal of Infectious Diseases com o título “ZIKV-Specific NS1 Epitopes as Serological Markers of Acute Zika Virus Infection“.
Já em 2020, o artigo intitulado “Oropouche Virus Infects, Persists and Induces IFN Response in Human Peripheral Blood Mononuclear Cells as Identified by RNA PrimeFlow™ and qRT-PCR Assays” foi publicado pelo Journal Viruses.
Com informações da Unicamp e Instituto de Tecnologia e Pesquisa.