No filme Tropa de Elite (2007), um dos personagens que é policial acompanha uma colega de faculdade a uma favela no Rio de Janeiro, onde fazem parte de uma ONG. Nessa visita, ela conversa com um menino e o questiona por que ele está tirando notas baixas na escola. O policial intervém e faz um teste com a criança, descobrindo que ela não consegue enxergar as letras miúdas e precisará usar óculos. Essa cena chama a atenção para problemas de visão que podem ser detectados ainda na infância e que podem interferir diretamente no desempenho escolar. Segundo estimativas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam algum problema de visão.
A oftalmologista Marina Viegas Ribeiro, professora e coordenadora pedagógica do curso de Medicina do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas), aponta que as mais comuns são as ametropias, erros de refração que distorcem a visão da pessoa, fazendo com que as imagens captadas não se formem corretamente nas retinas. Entre essas ametropias, estão a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. “É um caso que a criança vai ter que utilizar óculos ou lentes corretivas e isso pode atrapalhar na fase escolar, se não for detectado precocemente. Se a criança tiver um grau muito alto, uma miopia, hipermetropia ou astigmatismo, ele pode ter um desempenho ruim no aprendizado” afirmou ela.
Isso se explica porque, com os problemas de visão, a criança tem dificuldades de leitura e escrita. Elas podem ser percebidas em casa, pelos pais, ou na própria escola. “O professor às vezes detecta que a criança não está enxergando direito e não está rendendo. Aí avisa os pais e os pais levam ela ao oftalmologista. Geralmente, em muitos casos, a gente encontra um erro de refração”, explica Marina, acrescentando que, entre os sinais de alerta, estão queixas de dores nos olhos, olhos vermelhos ou dificuldade para enxergar.
Em geral, os erros de refração são amenizados com o uso de óculos e lentes especiais que são formatadas conforme o grau de distorção da visão do paciente, de modo a “corrigir” estes desvios. “Se a criança tiver um grau muito forte, que esteja impossibilitando ela de ler e escrever, a gente tem também os protocolos da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria, que vão determinar qual é o limite de grau que a gente vai ou não prescrever. Nesses casos, a gente prescreve óculos para a criança poder melhorar o aprendizado e ter uma qualidade de vida melhor”, pontua a professora.
Outras doenças oftalmológicas que afetam as crianças podem ser detectadas antes da idade escolar. Isso acontece graças ao chamado “teste do olhinho”, feito logo após o nascimento, ainda na maternidade, e repetido periodicamente ao longo da primeira infância. Nele, o médico observa o reflexo no fundo dos olhos do bebê. Marina Viegas explica que este exame detecta doenças consideradas mais sérias, como retinopatia da prematuridade, catarata congênita, descolamento e retinoblastoma. O “teste do olhinho” é obrigatório na rede pública de saúde.
Asscom | Grupo Tiradentes