A campanha nacional de imunização contra o coronavírus avança casa-a-casa no Brasil, à medida em que novas doses das vacinas chegam aos aeroportos ou saem das fábricas autorizadas a produzi-las no país. No entanto, um novo obstáculo vem se postando no meio do caminho com mais constância, a ponto de preocupar as autoridades de Saúde: um comportamento conhecido como “sommelier de vacina”. São pessoas que percorrem os postos de vacinação em busca de uma marca específica de imunizante, a Pfizer/BioNTech, e caso lhe ofereçam a Coronavac ou a Oxford/Astrazeneca, se recusam a receber a dose.
A atitude de escolher imunizantes é atribuída, principalmente, às reações causadas pouco após a aplicação da dose. “A população, devido aos efeitos colaterais da Astrazeneca, que ocorrem principalmente nas primeiras 48 horas pós vacinal, ficam receosos de tomar a vacina e começam a fazer peregrinação entre as unidades de saúde para poder encontrar a Pfizer, que seria a vacina que no momento tem mais disponibilidade e com menos efeitos”, explica a infectologista Gilmara Carvalho Batista, professora assistente do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit). Outro motivo está nas campanhas de desinformação e de notícias falsas que questionam a real eficácia das vacinas, dentro do chamado “movimento antivacina”.
Esses casos têm se tornado comuns em muitas cidades brasileiras. Um exemplo é Balneário Camboriú (SC), onde a prefeitura local começou recentemente uma campanha apelando à população para que aceite qualquer dose da vacina contra o Covid-19, e reiterando que todas são seguras e eficazes. A medida veio após a apresentação de vários atestados médicos nos quais os profissionais determinavam qual marca de vacina deveria ser tomada. A medida deve ser adotada ainda pelos estados de Santa Catarina e São Paulo, onde a Secretaria Estadual da Saúde emitiu na semana passada uma nota técnica confirmando os benefícios das três vacinas autorizadas para aplicação no Brasil.
O alerta para o mal desse comportamento está em duas consequências principais, que podem colocar o programa de imunização a perder. Uma é o surgimento de mutações variantes mais violentas e mais transmissíveis do vírus, como as que apareceram na Índia, na África do Sul e no estado do Amazonas, aqui no Brasil. A outra é um atraso muito maior no alcance da imunização mínima necessária para frear a circulação do vírus, o que já aconteceu em países com vacinação mais avançada, a exemplo de Israel, Emirados Árabes, Estados Unidos e boa parte da União Europeia.
“Quando mais de 75% da população fica imunizada, o ritmo de adoecimento reduz a necessidade nas unidades de saúde e nas filas de UTIs. A vida econômica, social e educacional voltam a um ritmo mais prudente possível para nossa vida continuar. E essa escolha de vacina não é prudente num país como o nosso, onde temos um ritmo de vacinação muito reduzido, o que preocupa por todos esses pontos já citados anteriormente”, alerta Gilmara.
Selo Anvisa de qualidade
A infectologista assegura que os três imunizantes foram rigorosamente avaliados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cujos laudos atestam que os benefícios alcançados por eles são infinitamente maiores que os riscos. “Sabemos que, para a liberação de uma vacina, existem vários critérios que precisam ser respeitados e muito bem acompanhados, já que é um medicamento e há efeitos colaterais que precisam ser analisados e monitorados durante todo o tempo em que ela é administrada. A Anvisa, quando faz liberação de um produto, tem o cuidado de ver todas as características do produto, os resultados dos estudos pré-clínicos e clínicos, as evidências científicas disponíveis em relação aos produtos, os resultados provisórios e os ensaios clínicos que atendam aos critérios de eficácia e segurança para aquelas vacinas que estão sendo liberadas à população. Se a Anvisa libera, é porque essa vacina tem eficácia e efeitos que vão trazer a imunidade necessária para minimizar o risco de adoecimento na população”, ressalta a professora.
Ainda conforme Gilmara, são necessárias melhores estratégias de comunicação e esclarecimentos à população, para que ela compreenda a eficácia de todas as vacinas e que o mais importante agora é que todos estejam vacinados, independente da vacina. E que mesmo com a vacinação, os cuidados com a prevenção precisam ser mantidos. “As doenças vão continuar a existir. O que a Covid-19 nos trouxe e veio nos mostrar é que precisamos manter as medidas de segurança. O controle com o uso de produtos como álcool gel e a lavagem das mãos, são hábitos e costumes que vieram para ficar e nos ajudar a manter uma qualidade de vida, independente de qual vírus esteja circulando”, concluiu.
Asscom | Grupo Tiradentes