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Políticas de ESG viabilizam vagas afirmativas em postos de liderança

Empresas e poder público promovem programas de desenvolvimento de carreira em busca de viabilizar um mercado competitivo com mais equidade

às 18h56
O aumento da presença de negros nos quadros das empresas, principalmente os de gerência e liderança, conferem mais representatividade às próprias firmas (Foto: Drazen/Adobe Stock)
O aumento da presença de negros nos quadros das empresas, principalmente os de gerência e liderança, conferem mais representatividade às próprias firmas (Foto: Drazen/Adobe Stock)
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Um dos desafios que mais se impõem atualmente no mundo corporativo é garantir uma maior equidade e diversidade nas empresas, inclusive nas instâncias de liderança. Ele aparece principalmente nas relações entre profissionais negros e brancos no mercado de trabalho. Dados de um estudo realizado em 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a população negra, preta ou parda representa 53,8% dos trabalhadores no Brasil, mas ocupam apenas 29,5% dos cargos de gerência, gestão ou liderança. 

Preocupadas com esta realidade, grandes empresas já começam a desenvolver programas próprios de desenvolvimento de carreira para trabalhar a progressão de profissionais negros em busca de cargos de liderança. Nacionalmente, destacam-se alguns programas privados realizados por grandes companhias, além do programa LideraGOV, realizado recentemente pelo Governo Federal, por meio da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). 

A gerente do Unit Carreiras, Janaína Machado Tavares, analisa que esta tendência das empresas é uma busca delas para se adaptar às políticas de ESG (governança ambiental, social e corporativa), nas quais as empresas se engajam em práticas e políticas que priorizem a equidade, a diversidade e a sustentabilidade. Para ela, abrir mais espaço para pessoas negras e para outras comunidades historicamente discriminadas, como mulheres, indígenas e LGBTQIA+ dá a oportunidade de ampliar a diversidade no mundo corporativo. 

“É muito interessante trazer as pessoas, transformar, tornar os colaboradores muito mais diversos. Isso tem um ganho muito grande, até porque se as pessoas que consomem aquele produto são diversas, e eu quero produzir de uma maneira mais plena, que atenda públicos diferentes, eu preciso fazer com que os meus colaboradores sejam diferentes. Que pensem diferente, porque são os diferentes que vão fazer com que aquele produto seja inovador e atenda o maior público possível”, diz Janaína. 

Ela explica também que, além da cultura ESG, outro fator motivador para a ampliação de oportunidades passa por requisitos de compliance (conformidade com as leis e regras éticas vigentes) apresentados por órgãos como o Ministério Público do Trabalho (MPT), ou mesmo por grandes instituições financeiras, que exigem o cumprimento de cotas raciais e de gênero para conceder empréstimos a empresas.

“Isso é muito importante, porque para uma empresa estar de acordo com o compliance, para conseguir um empréstimo de um Banco Mundial por exemplo, ela tem que ter negros na gerência, ela tem que ter pessoas trans tendo representatividade dentro da empresa. E por isso vem surgindo os departamentos de diversidade, que são extremamente importantes para primeiro sensibilizar e atuar dentro das instituições e quebrar uma cultura de tantos séculos passados, de racismo, preconceito, exclusão, etc”, ressalta a gerente.

Desigualdade histórica

Esta desigualdade ainda existente nas empresas se dá principalmente por outro problema estrutural: a falta de equidade de condições entre a maioria dos estudantes negros e brancos. Janaína Tavares aponta que o Brasil ainda tem um grande lapso educacional e desigualdades de condições, que começam principalmente na educação pública. 

“A gente tem uma educação de base ainda muito frágil e que muitas vezes não acompanha as necessidades do mercado. E isso é muito grave porque cria um abismo entre as possibilidades de uma criança negra e as de uma criança branca, e acaba sendo extremamente desigual desde a infância pela questão econômica. Trazendo isso para a questão adulta, apesar de nós já temos algumas políticas públicas, elas ainda não são suficientes para que a gente tenha uma transformação mais rápida, para que o negro, o preto, ocupe cargos de gerente”, opina a especialista. 

Ela acrescenta que uma destas políticas é a adoção de cotas de vagas para negros e outras minorias em instâncias de gerência e liderança. A lógica segue o que já é adotado nas universidades e no serviço público, que reserva vagas para negros nos concursos públicos, através da Lei Federal 12.990/2014. Um projeto já em tramitação no Senado prorroga a vigência das cotas por mais 25 anos e aumenta as cotas de 20% para 30% do total de vagas. A previsão é de que ele vá para votação em plenário até junho deste ano, quando acaba a vigência da lei atual. “Eu sou uma das pessoas que defende a cota. Porque no início, a gente precisa delas para minimizar essa desigualdade”, conclui.  

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