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Obesidade é uma doença tratável, mas ainda associada à “preguiça”

Pacientes nesta condição são prejudicados por estigmas ainda presentes na população; a doença, está associada a outros fatores e exige tratamento multidisciplinar

às 17h21
A obesidade representa um grande fator de risco para várias doenças, o que exige acompanhamento médico e especializado (Africa Studio/Adobe Stock)
A obesidade representa um grande fator de risco para várias doenças, o que exige acompanhamento médico e especializado (Africa Studio/Adobe Stock)
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Ficar acima do peso pode ser banal ou inevitável para muitas pessoas. Já outras encaram esse fato como algo grave, incômodo ou desconfortável. Para os especialistas em saúde, trata-se de uma doença, a obesidade, e está entre as que mais crescem no mundo. Segundo o estudo Atlas Mundial da Obesidade 2023, divulgado pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation), mais de 4 bilhões de pessoas em todo o mundo serão obesas ou estarão com sobrepeso em 2035, o que deve incluir 400 milhões de crianças. No Brasil, o relatório mostra que estas pessoas devem chegar a 41%¨da população adulta daqui a 11 anos, com crescimento anual de 2,8%. 

A própria obesidade, em si, está relacionada na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), com o código E66 e dentro da classe de doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas. De acordo com a professora Francielle Temer de Oliveira, supervisora do Internato de Clínica Médica e docente do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit). Isso acontece por todas as características de alterações metabólicas e inflamatórias que constituem a obesidade. 

“É também muito pela contribuição e o grande fator de risco que a obesidade tem para o aparecimento de outras doenças importantes, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, doenças metabólicas, doenças inflamatórias e até neoplasias. A obesidade é uma doença crônica, do mesmo jeito que a gente fala de diabetes e de hipertensão, e extremamente comum, com uma frequência aumentando exponencialmente nos últimos anos, sendo considerada já uma grande pandemia”, explica Francielle.

Um fator complicador para o crescimento da obesidade está em um pensamento muito comum na maioria das pessoas, que associam-na muitas vezes a um fator comportamental, como se fosse apenas uma questão de “preguiça” ou “desleixo”. Francielle aponta que o desconhecimento geral sobre as bases, origens e funcionamentos da doença fez aparecer muitos estigmas associados a ela. “Tem muita coisa que a gente ainda não entende em relação às diferenças metabólicas interpessoais, por exemplo, entre respostas diferentes aos tratamentos. E talvez todo esse desconhecimento tenha levado ao estigma de que a pessoa é obesa porque ela quer, ela porque ela come, porque ela é preguiçosa…”, frisa. 

A professora acrescenta que muitas vezes, e por causa desse desconhecimento, até mesmo alguns profissionais da área de saúde acabam cometendo erros de abordagem com as pessoas obesas, quando dizem a elas que, para emagrecer, bastaria apenas mudar o estilo de vida, comer menos e fazer exercícios. “Isso acaba gerando uma frustração muito grande nos pacientes que não conseguem alcançar esses objetivos através apenas dessas mudanças, trazendo para eles uma carga emocional muito grande, porque eles começam a se ver realmente da forma como essas pessoas colocam, como um ‘fracassado’, ‘preguiçoso’ que não consegue parar de comer, ou não consegue fazer atividade física. E isso acaba só gerando mais dificuldade em tratar uma doença que é tão difícil por ser multifatorial, por ter uma base genética e fisiopatológica muito complexa e com tratamento de longo prazo, como toda doença crônica”, alerta. 

Tratamento correto

O tratamento contra a obesidade passa pela necessidade de um acompanhamento multidisciplinar, com a participação de médicos, nutricionistas, educadores físicos, endocrinologistas, e, em alguns casos, psicólogos, visto que a obesidade pode ser provocada por transtornos alimentares ou de saúde mental, como compulsões, ansiedade ou depressão. “Muitas vezes, esses pacientes vão precisar de acompanhamento psicológico e psiquiátrico no decorrer da doença, além do acompanhamento com o endocrinologista de pertinho, que vai ser o profissional mais adequado para poder tanto avaliar as comorbidades já apresentadas, as outras doenças, as outras complicações apresentadas pelo paciente, e assim dar o seu tratamento adequado, como o tratamento específico, medicamentoso, direcionado também à obesidade”, orienta Francielle.

Já o papel do nutricionista, nesse caso, terá seu foco na melhoria da qualidade da alimentação de cada paciente em um programa individualizado, isto é, adaptado aos hábitos, rotinas e  funcionamento desta pessoa. “Não adianta a gente vir com receita de bolo para todo mundo, um padrão que eu estou querendo dizer para todo mundo. Cada paciente tem o seu hábito alimentar, os seus horários. Claro que a proposta nutricional sempre é de mudanças na qualidade e na quantidade da alimentação, mas isso tem que ser feito adaptado ao perfil de cada paciente”, diz a professora, colocando nesta situação também o profissional de educação física, no que diz respeito à prática de atividade física. 

Um caminho que vai nesse sentido é a combinação da atividade física frequente com a reeducação alimentar que tem um peso maior no tratamento. A mudança na alimentação, de acordo com Francielle, é o fator de maior impacto na redução de peso, enquanto os exercícios contribuem para a manutenção do peso corporal após a redução. “Dá para ser os dois. Cada um tem um peso maior e mais importante de acordo com a fase do tratamento que o paciente tenha. Mas, se a gente tiver que escolher um, é realmente a alimentação. Para você ter um exercício que lhe proporciona uma perda de peso grande, esse exercício tem que ser muito intensivo. Isso vai ser muito difícil de ser alcançado pela maioria das pessoas. Mas ele vai ter um papel primordial na prevenção das doenças relacionadas à obesidade e um papel muito importante na manutenção do peso”, explica. 

A supervisora do Internato defende ainda a adoção de medidas de conscientização e campanhas públicas de educação e conscientização sobre a importância da alimentação saudável, da atividade física e, principalmente, sobre o que é realmente a obesidade. “Aí, a gente orienta para que esse paciente procure a ajuda médica e a ajuda especializada o mais precocemente possível, que ele não fique envergonhado se rotulando como um preguiçoso. Essa educação vai proporcionar que o paciente procure a ajuda apropriada mais precocemente e com isso ele tem um tratamento adequado”, conclui Francielle.

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