A perimenopausa é um período de grandes transformações no corpo e na mente da mulher. É uma fase que antecede a menopausa propriamente dita, e muitas vezes é marcada por alterações hormonais que trazem consigo sintomas físicos e emocionais. Embora ainda seja um tema pouco conhecido para muitos, entender essa transição é crucial para lidar com os desafios que ela apresenta.
Segundo a psicóloga e professora da Universidade Tiradentes (Unit), Keziah Costa, a menopausa não ocorre de forma abrupta, mas é um processo gradual conhecido como transição menopausal. “Há um período que dura de três a cinco anos antes e durante o primeiro ano da menopausa, chamado perimenopausa ou climatério, quando essa desaceleração começa”, explica.
Durante essa fase, as menstruações se tornam irregulares, o fluxo diminui e os ciclos se espaçam, até que cessam completamente. “Esse processo geralmente inicia entre os 30 e 40 anos, quando o corpo da mulher passa a produzir menos óvulos, e os ovários reduzem a produção de estrogênio, o principal hormônio feminino”, destaca Keziah.
Sintomas físicos e emocionais
As alterações hormonais na perimenopausa trazem uma série de sintomas físicos, como ondas de calor, suores noturnos, alterações no ciclo menstrual e ganho de peso. No entanto, são os sintomas emocionais que podem ter um impacto profundo na saúde mental. “Oscilações de humor abruptas, ansiedade, depressão e dificuldade de concentração são comuns durante a perimenopausa”, aponta Keziah.
Esses sintomas podem ser agravados por fatores psicossociais, como preocupações com o envelhecimento e mudanças nos papéis familiares e sociais. Questões como a saída dos filhos de casa ou a responsabilidade de cuidar de pais idosos podem intensificar sentimentos de solidão e perda de propósito. “Além das alterações hormonais, a aceitação das mudanças no corpo e na vida pode ser um grande desafio”, observa a psicóloga.
Durante a perimenopausa, as alterações hormonais afetam diretamente o cérebro, interferindo na regulação das emoções. Isso, somado a questões como a sensação de envelhecimento e a mudança nos papéis sociais, pode aumentar o risco de depressão e ansiedade. “Essas transformações no corpo e na vida podem levar a sentimentos de frustração, tristeza e ansiedade. Além disso, mulheres que já possuem histórico de transtornos mentais ou altos níveis de estresse são mais suscetíveis a desenvolver essas condições durante a perimenopausa. Fatores como traumas passados, baixa autoestima e falta de suporte social também contribuem para esse risco”, afirma Keziah.
As alterações hormonais e físicas também podem impactar a libido e a satisfação sexual, levando a dificuldades nos relacionamentos. “A imagem corporal e as expectativas sociais sobre a sexualidade feminina podem contribuir para sentimento de frustração ou desvalorização. Segundo alguns autores da psicologia do desenvolvimento, a perimenopausa pode ser um momento de reflexão profunda sobre a vida, envolvendo questões existenciais sobre o futuro, o legado pessoal e até o medo da morte ou da incapacidade física. Esse tipo de reflexão pode intensificar a angústia e a ansiedade”, relata.
Fatores de risco e sinais de alerta
Nem todas as mulheres experimentam a perimenopausa da mesma forma. Algumas são mais suscetíveis a transtornos como depressão e ansiedade devido a fatores como histórico familiar de doenças mentais, altos níveis de estresse e baixa autoestima. Esses fatores, em conjunto com as oscilações hormonais, aumentam o risco de dificuldades emocionais nessa fase.
“Durante a perimenopausa, é importante observar se há mudanças persistentes de humor, como tristeza ou irritabilidade constantes. Também é importante ficar atenta à ansiedade excessiva, dificuldade para dormir ou fadiga extrema. Se perceber que perdeu o interesse em atividades que antes gostava, está tendo dificuldade para se concentrar, ou notou alterações no apetite e no peso, isso pode ser um sinal. Além disso, o isolamento social e sentimentos de inutilidade ou culpa também são importantes. Se esses sintomas persistirem, é essencial buscar ajuda profissional”, orienta Keziah.
Manejo e tratamento
O tratamento para depressão e ansiedade durante a perimenopausa pode envolver uma combinação de abordagens. A terapia hormonal, prescrita por médicos, pode ajudar a equilibrar os sintomas hormonais. O suporte psicológico, especialmente através da psicoterapia, também é fundamental para o bem-estar emocional durante a perimenopausa.
“A psicoterapia oferece um espaço seguro e estruturado onde a mulher pode explorar e entender suas emoções, o que é crucial durante essa fase de transição. A psicoterapia ajuda a identificar e lidar com sentimentos de tristeza, ansiedade e estresse que podem surgir devido às mudanças hormonais e aos desafios da vida. Além disso, a psicoterapia pode auxiliar na adaptação a novas circunstâncias e papéis, como o envelhecimento e as mudanças na dinâmica familiar”, pontua a psicóloga.
Mudanças no estilo de vida também são importantes, como praticar exercícios físicos regulares, adotar uma alimentação saudável e usar técnicas de gerenciamento do estresse. Esses fatores ajudam a melhorar o estado emocional geral e complementam o trabalho feito na psicoterapia. “Primeiro, iniciar a psicoterapia pode ser muito útil para lidar com as mudanças emocionais. Manter uma rede de apoio com amigos e familiares também é importante para evitar o isolamento. Além disso, a prática regular de exercícios físicos e uma alimentação equilibrada ajudam a melhorar o humor e a saúde geral. Cuidar da qualidade do sono e consultar regularmente um médico para monitorar a saúde hormonal são essenciais”, elenca.
O suporte familiar e social é uma parte crucial para o bem-estar emocional durante a perimenopausa. A psicóloga destaca a importância da psicoeducação para familiares e amigos, para que eles possam entender melhor o que a mulher está passando. “A empatia e o suporte contínuo são essenciais para criar um ambiente acolhedor e positivo. Atitudes simples, como oferecer companhia em atividades físicas ou preparar refeições saudáveis, podem fazer uma grande diferença no cotidiano”, afirma.
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