Um acúmulo incomum de gordura, que muitas vezes é confundido com sobrepeso ou obesidade, mas provoca dores bastante desconfortáveis nos braços e nas pernas, principalmente para as mulheres. Assim é definido o lipedema, que entrou desde 2022 para a Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
No Brasil, a doença passou a ser mais conhecida a partir do caso da modelo e influenciadora Yasmin Brunet, que se queixava de inchaço e constantes dores nas pernas ao participar de um reality show e fez um tratamento com exercícios físicos e mudanças na alimentação. Segundo estimativa apurada em reportagem recente do programa Fantástico, da TV Globo, o lipedema atinge entre 10% e 18% das mulheres no mundo, incluindo pelo menos 9 milhões de mulheres no Brasil.
Os primeiros registros científicos da doença datam da década de 1940, mas a qualificação mais completa sobre ela veio há três anos atrás, com a entrada para a CID-11. Um dos documentos mais recentes neste sentido é o Consenso Brasileiro de Lipedema pela metodologia Delphi, elaborado e publicado em fevereiro deste ano pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).
“O lipedema é uma condição complexa que requer uma abordagem multidisciplinar para seu manejo. A conscientização e a educação sobre a doença são essenciais para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz”, define a professora-doutora Ingrid Cristiane Pereira Gomes, médica endocrinologista e docente do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).
Ela explica que o lipedema é uma doença crônica e sistêmica, caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo subcutâneo, principalmente nas pernas e braços, com exceção das mãos e dos pés. “Esse acúmulo é simétrico e bilateral, e a condição é frequentemente acompanhada de dor, sensibilidade e tendência a hematomas”, relata a médica.
Ainda de acordo com Ingrid, as causas exatas do lipedema não são completamente compreendidas. “Mas acredita-se que fatores genéticos, hormonais e inflamatórios desempenhem um papel significativo. A doença é mais comum em mulheres e pode ser desencadeada por eventos hormonais como puberdade, gravidez e menopausa”, frisa ela.
O distúrbio pode levar a várias complicações para o corpo e para a saúde em geral. Entre os principais, estão:
- Dor crônica e sensibilidade, que pode interferir nas atividades diárias e na qualidade do sono;
- Problemas de mobilidade, isto é, a movimentação pode ser dificultada pelo aumento do volume dos membros;
- Impacto psicológico, com baixa autoestima, ansiedade e depressão;
- Em estágios avançados, pode ocorrer linfedema, que é o acúmulo de líquido linfático nos tecidos
Frequentemente, o lipedema é confundido com a obesidade, em razão do aparente aumento do volume corporal. No entanto, segundo a professora Ingrid, as duas doenças apresentam características bem diferentes:
- Distribuição da gordura: No lipedema, a gordura se acumula de forma simétrica nas pernas e braços, poupando mãos e pés. Já na obesidade, o acúmulo de gordura é mais generalizado.
- Sensibilidade e dor: O lipedema é caracterizado por dor e sensibilidade ao toque, o que não é comum na obesidade.
- Os pacientes com lipedema tendem a desenvolver hematomas com facilidade.
- O lipedema não responde bem a dietas e exercícios convencionais, ao contrário do que acontece na obesidade.
Tratamento e prevenção
O tratamento da doença envolve várias opções, que no entanto devem ser analisadas e aplicadas conforme o estágio de cada caso. Em geral, elas envolvem mudanças no estilo de vida, como dieta balanceada e atividades físicas de baixo impacto, como caminhada, hidroginástica, natação, ioga, pilates e exercícios de fortalecimento muscular. Também são recomendadas atividades de fisioterapia e terapia compressiva, com uso de bandagens e meias de compressão. “A intervenção cirúrgica, através da lipoaspiração, pode ser considerada em casos avançados, mas deve ser precedida por tratamento conservador”, ressalta Ingrid, que trata desse assunto com mais detalhes em sua página no Instagram.
Já quanto à prevenção, a endocrinologista cita que não há formas conhecidas, mas a detecção precoce e o tratamento adequado podem ajudar a controlar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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