O Brasil enfrenta um desafio urgente: cerca de 16 milhões de brasileiros vivem completamente desdentados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018. Essa realidade escancara a desigualdade no acesso à saúde bucal e reforça a importância de políticas públicas efetivas e integradas. Diante desse cenário, a digitalização dos serviços odontológicos dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) surge como uma ferramenta promissora para ampliar o acesso e aprimorar os serviços odontológicos em todo o país, especialmente em regiões remotas.
Essa inovação foi um dos temas centrais da reunião que ocorreu em Brasília, nos dias 24 e 25 de março, na sede do Ministério da Saúde, e contou com a participação de importantes nomes da odontologia brasileira, incluindo a professora e coordenadora do curso de Odontologia da Universidade Tiradentes (Unit), Guadalupe Ferreira. Ela integra a Comissão de Assessoramento da Coordenação Geral de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, um grupo seleto composto por representantes de renomadas universidades. A Unit se destaca como a única instituição de ensino superior privada com representação nesta comissão.
Segundo Guadalupe, o encontro teve como objetivo avaliar as ações já executadas e planejar novas frentes para fortalecer a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB). “Eu, enquanto membro desta comissão, me sinto com a responsabilidade de representar tanto os cirurgiões-dentistas como a população na contribuição de elaboração de políticas públicas na área da saúde bucal. Esta reunião, especificamente, teve o objetivo de avaliar as ações já realizadas até o momento e planejar a execução de outras ações de importância nacional para a população”, explicou.
Tecnologia e inovação em pauta
A inclusão da saúde bucal no SUS Digital representa um salto em direção à equidade no cuidado odontológico. Por meio de ferramentas como prontuários eletrônicos, telessaúde, telediagnóstico e monitoramento remoto, é possível agilizar o atendimento, qualificar os serviços prestados e fortalecer a gestão em todos os níveis do sistema de saúde. Além disso, a digitalização permite rastrear precocemente doenças como o câncer de boca, oferecendo maior suporte técnico aos profissionais da rede e otimizando recursos.
Dentre os temas debatidos, a coordenadora do curso de Odontologia da Unit destacou a discussão sobre os investimentos financeiros destinados à saúde bucal e as estratégias para a distribuição desses recursos nos estados e municípios. Contudo, a pauta da saúde digital ganhou especial atenção. “A Saúde Bucal é uma rede transversal, com serviços e oferta de cuidados que se estende desde a atenção primária à saúde até a atenção hospitalar. As ações têm o objetivo de compor a integralidade das necessidades de saúde da população levando em consideração o conceito ampliado de saúde, que envolve bem-estar biopsicossocial”, afirmou a professora.
A inclusão da saúde bucal no SUS Digital foi apresentada pela Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, que também é cirurgiã-dentista. Segundo Guadalupe, essa integração representa um marco para o sistema público. “Todo esse contexto não tem como não remeter à transdisciplinaridade, impactando assim todas as áreas, umas com as outras. Dando um exemplo prático, com investimento em promoção à saúde, com políticas públicas como acesso à água tratada e fluoretada, a serviços de saúde que previnam dores e perdas dentárias, ao rastreamento precoce do câncer de boca, prevenimos adoecimento, internamentos hospitalares e até mortes. Isso tem ou não tem a ver com o bem-estar da população como um todo?”, indaga a professora.
Representatividade e compromisso
A presença da Unit nessa comissão é um reconhecimento do papel que a universidade desempenha no ensino, na pesquisa e na extensão voltada à saúde coletiva. “Ser representante da única instituição privada nesta comissão demonstra também o reconhecimento que a Unit tem nacionalmente, com credibilidade no ensino, na ética e na inovação que a instituição oferece aos seus colaboradores, alunos e à população como um todo, que utiliza os serviços prestados pela Unit nos estados em que ocupa”, reforça.
Essa representatividade também amplia o acesso da comunidade acadêmica às informações mais atuais e relevantes sobre políticas públicas ao mercado de trabalho e aos dados de indicadores de Saúde do Brasil. “Significa a inserção dos nossos alunos às questões nacionais de sua área específica, abrindo portas para o conhecimento, inovação e rede de relações que vão além da etapa de formação”, complementa Guadalupe.
A Universidade Tiradentes tem atuado diretamente na rede de atenção à saúde bucal por meio de estágios, projetos de extensão e atendimentos odontológicos à população. Além disso, a instituição já se antecipa às inovações do SUS Digital ao oferecer estrutura tecnológica avançada aos alunos e pacientes. Radiografias digitais, prontuário eletrônico do paciente e integração multidisciplinar nos atendimentos são algumas das práticas já adotadas
“Contribuímos com uma atuação baseada em evidência, elevando a cobertura de serviços à população, desde a atenção básica até atendimentos mais complexos. Isso prepara os futuros profissionais e contribui com a sustentabilidade, reduzindo resíduos e aumentando a precisão dos diagnósticos”, detalha Guadalupe.
Desafios e metas para o futuro
Com a aprovação da Lei 14.572/23, que rege a nova Política Nacional de Saúde Bucal, os próximos passos envolvem a implementação das diretrizes em todos os níveis federativos, com foco no acesso universal, na equidade e na integralidade da atenção à saúde. “Também é fundamental desenvolver políticas de educação permanente para os trabalhadores em saúde bucal, dentre outras ações que são de execução dos municípios, com o apoio e a contrapartida dos estados e do governo federal, garantindo que todos estejam preparados para atuar de forma qualificada e ética”, finaliza Guadalupe.
Leia também: Pesquisa do PPED propõe formação em competências digitais para professores