Mais do que uma atividade extracurricular, a iniciação científica é um instrumento essencial para o amadurecimento acadêmico, social e profissional do estudante universitário. Ao inserir o graduando no universo da pesquisa, essa modalidade de aprendizado estimula o desenvolvimento de habilidades essenciais para o futuro, tanto na academia quanto no mercado de trabalho, fomentando a curiosidade, o rigor metodológico e a capacidade de resolução de problemas complexos, além de moldar profissionais mais críticos, analíticos e engajados com a produção de conhecimento.
Nesse contexto, a Universidade Tiradentes (Unit) promoveu a Reunião de Implementação do novo ciclo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), contemplados pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE). Segundo a coordenadora de pesquisa da Unit, Adriana Karla Lima, foram concedidas 46 bolsas, sendo 27 para o PIBIC e 19 para o PIBITI.
“Embora tenham características diferentes, ambos são financiados pela Fapitec, que repassa diretamente os valores das bolsas aos alunos. Cada estudante contemplado recebe R$ 700 mensais durante 12 meses. Essas bolsas foram abertas a todos os cursos da universidade. Os alunos, junto aos professores contemplados, compõem o novo ciclo, que vai de abril de 2025 até março de 2026. Ao final, os resultados dessas pesquisas serão apresentados durante a Semana de Pesquisa, que acontece tradicionalmente em novembro”, explica.
Adriana pontua que esse momento inicial é fundamental para que os alunos compreendam suas responsabilidades e saibam conciliar as atividades acadêmicas com os desafios da pesquisa. “Apresentamos as normas e compromissos, tanto dos alunos quanto dos professores orientadores. O bom andamento da pesquisa depende muito desse momento inicial, é importante que todos compreendam suas responsabilidades, inclusive porque esses estudantes continuam com sua rotina normal de graduação, acumulando agora as atividades de pesquisa”, reforçou.
Pesquisa como ponte entre universidade e sociedade
Durante o evento, os bolsistas também foram apresentados, como exemplo, ao grupo de pesquisa “Comunicação, Educação e Sociedade”, liderado pelo professor doutor Ronaldo Linhares e representado, na ocasião, pelo professor doutor Luiz Rafael dos Santos Andrade. Membro do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED), Luiz Rafael contextualizou a importância dos grupos de pesquisa como espaços de estudo e investigação coletiva.
“Nosso grupo já conduziu diversas investigações sobre temas relacionados à tecnologia, à informação, à comunicação e, especialmente, à educação, tanto no ensino básico quanto no ensino superior. Fundado em 2002, o grupo reúne uma diversidade de integrantes: professores, mestres, doutores, estudantes de graduação e de iniciação científica. Essa variedade de formações é essencial porque permite múltiplos olhares e abordagens sobre um mesmo tema, o que enriquece o processo de produção de conhecimento”, destacou.
Além disso, o grupo mantém parcerias tanto internas quanto externas à universidade. “Atualmente, temos projetos em colaboração com a Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) e com a Secretaria Municipal de Educação de Aracaju (SEMED). Essas parcerias mostram que nossa atuação vai além dos muros da universidade. Os estudos realizados não ficam restritos à sala de aula ou ao ambiente acadêmico, eles dialogam com a comunidade, retornam para ela em forma de ações, de atenção, de escuta e de troca. A pesquisa precisa ser viva, transformadora, e só faz sentido se for construída com a comunidade e não apenas sobre ela”, complementa.
Ao mesmo tempo em que essa vivência acadêmica transforma o olhar do pesquisador, ela também o torna mais consciente de seu papel na sociedade. É o que defende o pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Unit, professor Ronaldo Linhares. “A universidade deve ser reconhecida como um espaço de produção ativa. Quando o estudante participa de projetos de pesquisa e extensão, ele expande sua visão de mundo e amadurece nos âmbitos social, emocional e profissional. Ingressamos muito jovens, mas saímos mais conscientes da nossa responsabilidade social e do impacto que nossa formação pode ter na vida das pessoas”, afirmou.
Jurimetria e LGPD nas relações de trabalho
Um dos estudantes contemplados com a bolsa no novo ciclo do PIBIC é Giovanni Henrique Oliveira, aluno do 3º período do curso de Direito da Unit. Ele vai integrar o projeto coordenado pelo professor de Direito Jéffson Menezes, que lidera o grupo de pesquisa Relações de Trabalho, Empresas e Novas Tecnologias (RENTec), vinculado ao CNPq. O estudo aprovado nesta edição do edital da Fapitec tem como foco a jurimetria, isto é, a análise quantitativa de decisões judiciais aplicada à proteção de dados pessoais nas relações de trabalho.
A proposta é investigar como os Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho têm interpretado e aplicado a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em suas decisões. O projeto, que se estende até março de 2026, é desenvolvido em colaboração com a professora Liziane Paixão, do Programa de Mestrado e Doutorado da Unit, e integra uma rede de pesquisa com o Centro Universitário de Brasília (Ceub) e a Faculdade de Patos de Minas, em Minas Gerais.
Para Giovanni, a participação no programa representa um marco importante na trajetória acadêmica. “Desde o meu primeiro período, eu já procurava saber mais sobre a pesquisa. Assim que entrei na universidade, tive professores que comentaram sobre o tema, e logo me interessei bastante”, contou. Segundo ele, fazer parte do grupo RENTec tem sido uma experiência enriquecedora, especialmente pelas discussões interdisciplinares sobre temas atuais como inteligência artificial e direito digital. “Hoje foi o pontapé inicial, mas quero muito ver como tudo vai se desenvolver daqui para frente”, completou.
De acordo com o professor Jéffson, o projeto está conectado a uma tendência crescente de uso de tecnologia para analisar grandes volumes de dados no campo do Direito. “Esse projeto busca ampliar o diálogo entre a jurimetria e o mundo do trabalho, sobretudo diante dos impactos que a proteção de dados pessoais têm gerado no contexto das relações laborais”, explicou. Ele destaca ainda que a participação de alunos de graduação é essencial para a renovação da pesquisa científica e a formação de novos pesquisadores. “É uma oportunidade de desenvolver um pensamento crítico e metodológico desde cedo, com acesso a dados reais e temas de grande relevância”, finalizou.
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