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Alunas de Psicologia promovem São João de escuta e acolhimento em instituição de Itabaiana

Estudantes do Campus Itabaiana desenvolveram atividades lúdicas com temáticas juninas no Instituto Fabinho do Abrigo, que atende a pessoas com transtornos mentais e dependência química na cidade serrana

às 20h45
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As festas juninas foram mote e inspiração para um projeto extensionista desenvolvido por estudantes de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit). Uma turma de 40 alunos do curso no Campus Itabaiana promoveu um evento lúdico para pessoas assistidos pelo Instituto Fabinho do Abrigo (IFA), uma instituição que acolhe pessoas com transtornos mentais e dependência química. A intervenção, que fez parte da disciplina Experiências Extensionistas 1 e teve orientação da professora Cândida Oliveira, envolveu todo o trabalho de preparo e realização de uma festa de São João, desde a confecção das decorações até a própria noite da festa em si. 

O evento foi o desdobramento das atividades realizadas ao longo do semestre no IFA, que está sediado em Itabaiana, no agreste sergipano, mas atende a praticamente todo o Estado de Sergipe. Fundado em 1987, a partir de uma associação de moradores do bairro São Cristóvão, na cidade serrana, ele teve seu estatuto modificado em 2017, ampliando sua área de atuação. 

Hoje, o instituto assiste a cerca de 80 pessoas em quatro Serviços de Módulos Residênciais e Assistenciais em Saúde Mental (sendo três em Itabaiana e uma em Itabaianinha), além de aproximadamente 40 pessoas na casa de passagem, que é o Centro de Acolhimento Santo Antônio dos Pobres. Ele promove atividades de reabilitação e reinserção social, através de contatos e trabalhos com os familiares, busca ativa do público alvo e encaminhamentos hospitalares (nos casos em que eles se façam necessários), além de palestras educativas sobre saúde, educação, ações de prevenção e apoio a comunidade.

No começo do semestre, a professora Cândida e os alunos de sua turma visitaram o IFA e elaboraram o projeto com os assistidos dos módulos residenciais, com base nas demandas apresentadas pelo fundador da instituição, Fábio de Jesus, o “Fabinho do Abrigo”, e pelo psicólogo responsável, Sabino Cunha. O projeto envolveu principalmente os assistidos que vivem nos módulos residenciais, que oferecem moradia de qualidade a pessoas com transtornos mentais e laços familiares e sociais fragilizados pelos consecutivos casos de internações psiquiátricas. A instituição explica que este modelo, além dos cuidados humanizados em saúde física e psicológica, oferece a possibilidade de resgate da identidade de cada assistido, visando uma futura reintegração dele à família e à sociedade. 

“Na Extensionista 1, que é o caso desses alunos da Psicologia, a gente trabalha duas competências: empatia e colaboração. Ajudamos os alunos a identificar as necessidades emergentes da comunidade. E aí, o Fabinho nos pediu atividades lúdicas e artísticas que trouxessem alegria e bons pensamentos para as pessoas atendidas. Então, elas desenvolveram arte com esses alunos. Teve muito trabalho manual, pintura, colagem, confecção de enfeites para decorar o instituto de forma por conta do período junino e muitas outras atividades”, explica Cândida.

Após a visita, os alunos foram divididos em cinco turmas, que iam ao IFA em dias e semanas alternadas para executar as atividades e, principalmente, ouvir os próprios residentes, que antes se queixavam da falta de festejar datas e festas importantes do calendário. O engajamento de todos nas atividades foi muito grande. “O que a gente deixou lá para eles foi um momento de muita alegria e felicidade. São pessoas que, em sua maioria, não recebem a visita dos seus familiares. Esse momento de a gente estar lá com eles é um momento alegre, de diversão. A participação dos alunos foi muito boa, porque todos se envolveram. É uma turma que realmente se empenhou, quis mesmo estar lá, quiseram contribuir, participar, aplicar o que eles estão aprendendo em sala de aula”, destaca a orientadora. 

“O IFA preza muito pelo contato com o meio acadêmico e se preocupa com a formação de novos profissionais comprometidos com uma saúde mental humanizada, em especial, os de Psicologia. Esse contato, ocasionado pelas práticas de extensão, para além da troca de conhecimentos, possibilitou aos residentes e acolhidos momentos de produções artísticas e lazer, tão importantes no processo de reabilitação psicossocial”, destaca o psicólogo responsável pelo instituto, Sabino Cunha. 

Aprender com o outro

Uma das participantes, a aluna Raissa Cunha Vieira, do terceiro período de Psicologia, explica que a ideia da decoração e da festa de São João surgiu como uma ferramenta simbólica de tradições e laços afetivos. “Desejávamos levar uma noite diferenciada e divertida para os moradores, com comidas típicas e salgadinhos que eles tanto mencionaram na nossa conversa, além de muito forró. Na intervenção em si, nossa preocupação foi atender todos da melhor maneira, sempre atentos a suas necessidades e limitações caso surgissem, e assim, fizemos uma noite que acreditamos ter sido maravilhosa para eles, da forma que foi para a gente”, disse ela.

Para a aluna Vitória Alves Almeida, também do terceiro período, a maior lição aprendida com o projeto é a escuta e a disposição de pôr-se no lugar do outro. “Através de dinâmicas, tivemos um contato direto com as suas histórias e o quão profunda são as histórias de cada um. Aprendi que as pessoas e as instituições precisam estar em conjunto sempre. Existem muitas pessoas marginalizadas e esquecidas pela sociedade, pessoas com histórias e grandes potenciais que são apagadas e rotuladas apenas pela sua patologia. O projeto de Fabinho é lindo e acolhe pessoas, mas ainda falta muito para tornar um projeto humanizado. Digo isso pois entendo que um instituto necessita da ajuda de terceiros sempre e as pessoas nem sempre estão dispostas a ajudar.”, afirma Vitória, que pretende desenvolver outros projetos pessoais para ajudar aos residentes dos módulos do IFA.

“Aprendemos demais com os moradores. Acho que o ensinamento mais importante foi ver eles como seres humanos assim como qualquer outro. Pode ser meio óbvio, mas é muito comum isso fugir do entendimento das pessoas. Parece que a maior necessidade deles é justamente essa, serem vistos e escutados de verdade, e a gente entendeu quão significativo é isso para a felicidade e o bem estar deles e de qualquer indivíduo. Então, enxergar verdadeiramente eles, com suas possíveis limitações e dores, mas também com suas habilidades, vontades e qualidades, possibilitou uma troca muito genuína de vivências deles conosco, e a gente espera ter formado novas delas que eles guardem com carinho”, acrescenta Raissa.

As equipes se preocuparam em deixar um legado que durasse muitos dias após a festa. Daí, surgiu a Caixa de Recursos, com uma boa quantidade de livros e jogos manuais para os internos e moradores utilizarem em seus dias de passagem na instituição. 

Cândida Oliveira frisa que as atividades de extensão, como as que foram desenvolvidas no Instituto Fabinho do Abrigo, permitem aos estudantes que exerçam os conhecimentos na prática, do ambiente de sala de aula e junto às demandas da sociedade. “É claro que eles não estão clinicando, pois ainda não têm a formação, mas eles começam a se inteirar. Isso integra na formação acadêmica, leva o conhecimento que eles estão adquirindo e faz com que eles comecem a produzir conhecimento na comunidade, além de ser uma interação entre a Academia e a Sociedade. A extensão complementa a formação dos estudantes, porque oferece experiências na prática, desenvolve competências acadêmicas como liderança, colaboração e pensamento crítico”, destaca a professora.

* Matéria alterada em 10/06/2025, às 19h20, para acréscimo de informações

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