Professores e estudantes da Universidade Tiradentes (Unit) se preparam para iniciar uma das missões mais desafiadoras: implementar e executar projetos em comunidades no coração da Amazônia. Essa experiência será vivenciada entre os dias 8 e 25 de julho, durante a Operação Amazonas, a ser realizada como parte do Projeto Rondon. A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Defesa e promove 15 dias de ações e projetos de extensão universitária em comunidades e pequenas cidades do interior do Brasil. Esta será a 13ª participação da Unit no Rondon desde a sua retomada, em 2005.
Desta vez, o grupo liderado pelos professores Isabelle Brito, de Nutrição e Gastronomia, e Nivaldo Moscoso, de Direito, é formado por oito alunos dos cursos de Medicina, Psicologia, Fisioterapia, Educação Física, Direito e Odontologia. Ele será enviado para Urucurituba, cidade de 24 mil habitantes que fica no leste do Amazonas, junto ao Rio Amazonas, a mais de 300 quilômetros da capital Manaus. Como parte da preparação prévia para o envio dos alunos, os professores fizeram uma viagem precursora a Urucurituba no início do mês de maio, quando eles visitaram a cidade, conversaram com os gestores da prefeitura local e observaram in loco as necessidades da população, que podem ser atendidas pelos projetos do Rondon.
“Encontramos principalmente demandas de oficinas ligadas a primeiros socorros, relações interpessoais, saúde mental, mediação de conflito e as ligadas à educação para atender aos professores, que seria a necessidade de capacitação e compreensão para identificar os primeiros distúrbios de aprendizagem e também alunos com necessidades especiais e a ativas e da sala de aula invertida”, detalhou Isabelle, destacando que o acesso à cidade se dá exclusivamente por meio fluvial. “A gente vai levar o que conhecemos, mas também aprender muito com essa comunidade ribeirinha. Toda forma de chegar até esse município é fluvial. A gente vai entender um pouco como isso funciona, toda a parte de saúde e toda assistência dada a essa comunidade”, conta.
Em cima dessas demandas, foi construído um projeto interdisciplinar, que integra conhecimentos dos mais variados cursos da universidade, a partir das experiências adquiridas nas outras edições da qual a Unit participou. Chegou-se a uma programação de cerca de 35 oficinas e ações voltadas para a saúde, educação, a cultura e o meio ambiente, incluindo alfabetização, capacitação profissional, educação ambiental, campanhas de vacinação, saúde mental, prevenção de doenças e resgate de culturas locais.
Para Nivaldo, o Rondon é uma oportunidade de integrar uma região do Brasil que necessita de serviços sociais básicos. “A ideia é que essa interdisciplinaridade entre as ciências possa contribuir para uma evolução emancipatória daquelas comunidades. Nós não estamos desenvolvendo uma perspectiva assistencialista, mas sim formando replicadores de conhecimento e deixando para essas comunidades os produtos finais em todos os nossos trabalhos. E aí nós vamos estar desenvolvendo uma série de oficinas que versam sobre esse potencial da extensão enquanto pilar da base universitária brasileira”, diz ele.
“A Unit já participa do Rondon há um bom tempo com a professora Ana Célia Góes, que foi a precursora. A gente vem desenvolvendo e aprimorando esse projeto que ela trouxe, e já estamos na nossa décima aprovação no Rondon. Vale ressaltar que, para essa edição, nós somos a única universidade do Nordeste que estará participando, e fomos classificados em sexto lugar dentre 22 instituições de todo o Brasil. Isso é motivo de orgulho, e estamos atuando com excelência e qualidade”, acrescenta Isabelle.
Atendendo a demandas
Em Urucurituba, os rondonistas da Unit farão parte do chamado Conjunto A, que engloba iniciativas nas áreas de cultura, direitos humanos, justiça, educação e saúde. Eles terão a companhia de uma equipe da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), de Uberaba (MG), que estará responsável pelo Conjunto B, dedicado às áreas de agricultura, tecnologia e produção, meio ambiente e trabalho.
Um dos projetos que serão levados ao Amazonas envolve a capacitação de gestores e profissionais de várias áreas, como educação, saúde e segurança, para a resolução de conflitos através da mediação e da negociação. “Nesses locais, como o acesso à justiça é muito difícil, nós estamos apresentando a esses municípios e treinando replicadores dentro da gestão municipal para que eles possam trabalhar com a mediação de conflitos e também com práticas circulares de justiça restaurativa. A mediação de conflitos é um método adequado de resolução tão eficaz quanto a própria decisão judicial. Em um local onde a gente tem dificuldade de ter a presença de um magistrado, um promotor de justiça e muitas vezes até de um advogado ou defensor público, é interessante que existam profissionais capacitados para resolução de conflitos”, argumenta Nivaldo.
Os sergipanos também vão levar conhecimentos nas áreas de Nutrição e Gastronomia. “Vamos capacitar merendeiras, serventes de hospitais, escolas, de espaços onde tem manipulação de alimentos, para falar um pouco de manipulação e higiene dos alimentos e trazer também um pouco desse equilíbrio nutricional, reduzindo a quantidade de sódio, reduzindo a quantidade de açúcares, gorduras e trazendo alternativas. Não é só reduzir, mas é de que forma a gente pode transformar para que a gente possa ter a mais saudáveis, mas com uma textura saborosa e com apresentação bem interessante”, explica Isabelle, adiantando que também vai propor uma “fusão gastronômica” entre o Norte e o Nordeste, através dos pratos típicos e elementos culturais de cada região.
Uma das participantes será a estudante Maria Beatriz Conceição Guimarães, do 7° período de Odontologia, que vai atuar em oficinas relacionadas a saúde bucal, saúde sistêmica e educação escolar, além de cuidar da organização, da contagem de pessoas, da entrega de produtos finais e da elaboração de relatórios diários. É a sua primeira participação no Projeto Rondon, para o qual se candidatou após seguir a dica de duas amigas.
Ela conta que já desejava participar do Rondon e se inspira em um exemplo familiar: uma das tias, que era missionária religiosa e passava longos períodos em países da África e da Ásia, muitos deles destruídos por guerras e desastres naturais. “A vida dela foi essa. O cuidar, o ensinar e aprender, acolher, levar esperança…. Isso sempre me encheu de orgulho e eu sempre quis seguir esse caminho. O Rondon está me dando a oportunidade de ser um pouco como ela. Claro que não é um país esquecido pela guerra nem nada do tipo. Mas o fato de estar lá, levar meus conhecimentos, aprender com eles, cuidar da população…. Eu me sinto como se estivesse começando a caminhar os passos dela e isso não tem preço”, emociona-se.
Ao todo, o Projeto Rondon vai reunir 276 professores e estudantes universitários de 26 instituições de ensino superior de todo o Brasil, em trabalho voluntário, acompanhados por oficiais das Forças Armadas. Eles estarão distribuídos por 12 municípios do interior do Amazonas, além da capital Manaus e de um Navio de Assistência Hospitalar (Nash) disponibilizado pela Marinha, que irá navegar pelas comunidades ribeirinhas. A Operação Amazonas será a sétima realizada pelo Rondon no estado, e a primeira desde 2011.
* Matéria alterada em 02/07/2025, às 10h33, para correção de informações
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