Uma dor incômoda ao engolir, a sensação de um “caroço” na garganta, febre que insiste em ir e vir. Quem nunca passou por isso? Esses sintomas, tão comuns no dia a dia, podem ser sinais de um problema que afeta milhões de pessoas: a amigdalite. Mas o que causa essa inflamação e quando ela se torna um alerta para a saúde? A amigdalite é a inflamação das amígdalas, duas glândulas localizadas na parte de trás da garganta, responsáveis por defender o organismo contra infecções.
Segundo o otorrinolaringologista Nelson D’Ávila e professor de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), as causas mais frequentes da inflamação são os vírus, como os da gripe e do resfriado, que causam a dor de garganta acompanhada de coriza, tosse e, às vezes, febre baixa. No entanto, outras causas podem levar à amigdalite, como bactérias, alergias, irritantes e até mesmo o uso excessivo da voz.
“A principal bactéria responsável pela amigdalite é a Streptococcus pyogenes, que causa a amigdalite bacteriana, aquela com placas de pus nas amígdalas. Além disso, alergias a poeira, pólen e pêlos de animais, irritantes como fumaça de cigarro e poluição, e até mesmo o refluxo gastroesofágico podem desencadear a inflamação”, explica o Dr. Nelson D’Ávila
Sintomas e tratamento
Nem toda dor de garganta é sinal de amigdalite. Segundo o Dr. Nelson, a dor de garganta comum, geralmente causada por vírus, vem acompanhada de outros sintomas de resfriado, como coriza e tosse. Já a amigdalite bacteriana se manifesta de forma mais intensa, com dor forte ao engolir, febre alta, placas de pus nas amígdalas, gânglios inchados no pescoço e mau hálito. “É importante procurar um médico para ter certeza do diagnóstico, pois o tratamento é diferente para cada caso”, alerta o especialista.
Ao contrário do que muitos pensam, nem toda dor de garganta precisa de antibiótico. “Os antibióticos só funcionam contra bactérias. A maioria das dores de garganta é causada por vírus, e nesses casos, o tratamento é para aliviar os sintomas. Já o tratamento sintomático inclui repouso, ingestão de bastante líquido, gargarejos com água morna e sal, analgésicos e antitérmicos para dor e febre, e anti-inflamatórios e pastilhas para a garganta. Já os antibióticos são reservados para casos de amigdalite bacteriana confirmada, sempre com receita médica”, explica Nelson.
Quando a amigdalite exige atenção especial
A amigdalite se torna um problema recorrente quando a dor de garganta acontece muitas vezes ao ano. De acordo com o Dr. Nelson D’Ávila, os critérios para considerar a amigdalite recorrente são:
- Sete ou mais episódios em um ano.
- Cinco ou mais episódios por ano, em dois anos seguidos.
- Três ou mais episódios por ano, em três anos seguidos.
A cirurgia de remoção das amígdalas, conhecida como amigdalectomia, é indicada em casos de amigdalite recorrente, abscessos que não melhoram com outros tratamentos, amígdalas muito grandes que dificultam a respiração ou a deglutição, e suspeita de tumor nas amígdalas.
“Existem alguns riscos caso a amigdalite bacteriana não seja tratada com antibiótico, podendo levar a complicações graves, como abscesso periamigdaliano, febre reumática e glomerulonefrite. Os critérios de recorrência são um guia importante para a retirada das amígdalas, mas cada caso é único. A decisão é tomada em conjunto com o paciente, avaliando a frequência, a gravidade das crises e o impacto na qualidade de vida”, explica o Dr. Nelson D’Ávila.
Cirurgia e recuperação
A cirurgia de amigdalectomia é feita sob anestesia geral, com diferentes técnicas disponíveis, como:
- Bisturi Frio: Usa lâminas tradicionais. “Particularmente, a que mais utilizo por estar associada à maior conforto pós-operatório”, comenta Nelson.
- Bisturi Elétrico: Usa calor para remover e cauterizar.
“A recuperação costuma levar de 10 a 14 dias e exige alguns cuidados essenciais. É fundamental evitar esforço físico, manter uma alimentação inicial à base de líquidos e pastosos frios, como sorvete, gelatina e iogurte, evoluindo gradualmente para alimentos mais consistentes, mas sem consumir opções duras, quentes ou ácidas. A hidratação deve ser reforçada com bastante ingestão de líquidos, enquanto a higiene bucal precisa ser feita com delicadeza, incluindo escovação cuidadosa e gargarejos suaves. O uso de analgésicos ajuda a controlar a dor, que é comum nos primeiros dias. Além disso, é importante retornar ao consultório para avaliação médica e acompanhamento da recuperação”, orienta Nelson.
Embora a cirurgia ajude a evitar infecções nas amígdalas, ainda é possível ter dor de garganta, mas por outras causas, como infecções virais na faringe (faringite). Além disso, em alguns casos, é possível evitar a cirurgia com tratamento prolongado com antibióticos, mudanças no estilo de vida e medicações para melhorar a imunidade. Além disso, medidas como alimentação saudável, hidratação, higiene, evitar irritantes e tratar alergias e refluxo podem ajudar a reduzir os episódios de inflamação.
“Alguns chás e gargarejos (como camomila, sálvia, gengibre) podem aliviar os sintomas, mas não há comprovação científica de que previnam as amigdalites. Eles podem ser usados como complemento, mas nunca como substituição ao tratamento médico. Em suma, a dor de garganta, embora seja um problema comum, requer atenção especial quando se manifesta de forma frequente ou intensa. O otorrinolaringologista é o profissional capacitado para diagnosticar a causa, indicar o tratamento mais adequado e, se necessário, avaliar a necessidade de intervenção cirúrgica. Portanto, não hesite em procurar ajuda médica caso tenha dúvidas ou preocupações relacionadas a esse sintoma”, recomenda o otorrinolaringologista.
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