Imagine uma doença que se esconde em alimentos aparentemente inofensivos, ataca o sistema nervoso e pode levar à morte em poucas horas. Essa é a realidade do botulismo, uma enfermidade rara, mas extremamente perigosa, que muitas vezes passa despercebida devido à falta de conhecimento sobre seus sintomas e formas de prevenção. Embora pareça algo fora de cogitação, o botulismo é uma doença real que exige atenção e medidas de precaução.
O botulismo é uma doença causada pela toxina da bactéria Clostridium botulinum, que provoca paralisia muscular ao inibir a transmissão de impulsos nervosos. Ela representa um sério risco à saúde, especialmente para grupos mais vulneráveis como a população de baixa renda e com menor acesso à informação. Segundo o médico intensivista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Dr. Gustavo Guedes de Carvalho, a bactéria pode estar presente em diversos ambientes naturais.
“A bactéria pode se encontrar em qualquer lugar da natureza, como no solo; em alimentos como vegetais, enlatados e embutidos ou mesmo animais que consumimos. Logo, conservar bem, cozinhar bem, adquirir alimentos com boa procedência, assim como a adequada limpeza de feridas pelo corpo fazem parte de uma boa prevenção”, recomenda o médico.
Sintomas e diagnóstico
A estimativa é que muitas pessoas podem carregar a bactéria sem apresentar sintomas imediatos. Eles geralmente se manifestam entre 12 horas e 5 dias após a ingestão da toxina. Entre os principais sintomas estão:
- Fraqueza muscular: Começando na cabeça e pescoço, progredindo para o restante do corpo.
- Visão dupla: Dificuldade para focar ou embaçamento da visão.
- Dificuldade para engolir e falar: Paralisia dos músculos da boca e garganta.
- Prisão de ventre: Incapacidade de evacuar os intestinos.
- Falta de ar: Paralisia dos músculos respiratórios em casos graves.
“É preciso prestar atenção a qualquer perda de força ou paralisia, seja súbita e descendente (da cabeça para os pés), como no caso do botulismo, ou progressiva e lenta. Diversos outros diagnósticos graves, como AVC ou Síndrome de Guillain-Barré, também podem apresentar perda de força ou paralisia”, aponta Gustavo.
Ao detectar qualquer um desses sinais clínicos, é necessário levar a pessoa rapidamente à emergência e fornecer uma história detalhada, incluindo o tempo de aparecimento dos sintomas, alimentos suspeitos consumidos e relatos de feridas, entre outros. “A cultura das fezes do paciente pode complementar o diagnóstico, evidenciando o crescimento da bactéria responsável. A eletromiografia também pode ser útil, demonstrando a perda ou paralisia dos músculos, enquanto a sensibilidade permanece preservada”, explica Gustavo.
Tratamento e recomendações
O tratamento do botulismo deve ser iniciado o mais rapidamente possível, idealmente dentro de sete dias após o início dos sintomas. “O tratamento deve ser realizado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com suporte clínico geral adequado e administração de soro antibotulínico. Esse tratamento básico é frequentemente associado ao uso de antibióticos, apesar de sua eficácia não ter sido demonstrada em ensaios clínicos. O uso de antibióticos é amplamente adotado, especialmente quando há feridas com causa subjacente. Além disso, pode ser necessário realizar o desbridamento das feridas ou lavagens intestinais”, orienta.
Outras medidas podem ser utilizadas como:
- Conservar adequadamente os alimentos: Seguir as instruções de conservação dos alimentos, especialmente conservas caseiras.
- Cozinhar bem os alimentos: Aquecer os alimentos a uma temperatura de pelo menos 74°C por pelo menos 10 minutos elimina a bactéria Clostridium botulinum.
- Evitar o consumo de mel por bebês: O mel pode conter esporos da bactéria que podem se desenvolver no intestino do bebê, causando botulismo infantil.
- Lavar bem as feridas: Manter as feridas limpas e secas para prevenir a contaminação por Clostridium botulinum.
O botulismo é uma doença grave, mas evitável. Através da conscientização sobre os riscos e da adoção de medidas preventivas, é possível se proteger. “É fundamental estar atento aos sinais e sintomas da doença, especialmente à fraqueza muscular progressiva e à dificuldade para engolir e falar. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, maior a chance de um tratamento eficaz”, ressalta o especialista.
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