Os surtos recorrentes de dengue no Brasil preocupam as autoridades nacionais de saúde e também chamam a atenção internacionalmente. Um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou o Brasil como líder mundial em casos de dengue, respondendo por cerca de 82% de todos os casos suspeitos. Ao todo, foram mais de 7,53 milhões registrados em 22 semanas epidemiológicas de 2024, desde janeiro, muito acima dos totais registrados em cada um dos outros países do continente. Só para se ter uma ideia, a Argentina ficou em segundo lugar no ranking, mas com cerca de 498 mil casos.
O número de casos do Brasil apenas neste ano já é muito maior do que o total registrado nas 52 semanas de anos anteriores: 3,08 milhões em 2023 e 2,36 milhões em 2022. Se contados os casos confirmados e as mortes, o Brasil também detém a maioria dos registros: Apenas neste ano, foram mais de 3,74 milhões de pessoas com dengue, com 3.325 mortes nas mesmas 22 semanas. Os dados são da Organização Panamericana de Saúde (Opas), vinculada à OMS, e foram atualizados até o último dia 6 de junho.
Em algumas regiões, como o Nordeste, a maior parte dos casos de dengue vem acontecendo entre o final do verão e meados do inverno, quando as chuvas acontecem com maior intensidade. A mesma preocupação aparece com mais força no Rio Grande do Sul, que ainda enfrenta as consequências das enchentes e tempestades que arrasaram mais de 460 cidades do estado. O Ministério da Saúde já prevê essa alta de casos por causa do aumento das temperaturas e das áreas com acúmulo de água – condições que favorecem a criação e a proliferação do mosquito aedes aegypti, agente causador da doença.
“Na verdade, é uma doença endêmica, e sabemos disso porque tem dengue desde a década de 1990 no nosso país, mas a gente vive um aumento bem importante no número de casos. O fato do tempo estar mais quente, com mais chuvas esparsas e maior possibilidade de coleções hídricas para reprodução do inseto, é alto o risco. Então a gente tem que ter muito cuidado, porque a forma mais efetiva de combater a dengue e outras arboviroses, como zika e chikungunya, é combater a proliferação do mosquito”, explica o infectologista Matheus Todt, do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).
Ele alerta também que o mosquito se prolifera através da água que esteja parada em qualquer local, independentemente de ela estar limpa ou não. “Qualquer água parada pode ser um reservatório. Então agora é imprescindível a gente ter cuidado todos, porque se eu tiver cuidado e meu vizinho não tomar esse cuidado, eu posso pagar por um erro alheio”, acrescenta Todt, referindo-se a cuidados básicos que qualquer pessoa pode manter em casa, como esvaziar, limpar e tampar recipientes que acumulem água.
As autoridades de saúde esclarecem ainda que todas as pessoas podem contrair dengue, mas existem grupos de pessoas que são mais vulneráveis à ação do aedes, como mulheres, gestantes e adolescentes. De acordo com o professor, eles têm algumas características fisiológicas que atraem mais mosquitos e os insetos em geral. “A pele mais quente, a capacidade de suar um pouquinho mais, a liberação maior de gás carbônico na respiração e alguns fatores hormonais atraem mais os mosquitos. Esses grupos são considerados grupos mais vulneráveis à picada do inseto e consequentemente adquirir dengue e outras arboviroses. Na verdade, isso é uma formação muito mais biológica do que médica, mas com o crescimento de doenças transmitidas por insetos, essas informações que eram mais do campo da biologia tornaram-se mais importantes na área médica”, destaca Matheus.
Vacinas disponíveis
O mesmo relatório da OMS aponta que a vacina contra a dengue deve ser vista como parte de uma estratégia integrada para o combate à doença e que inclui também o controle de vetores, a gestão adequada dos casos e o envolvimento comunitário. A OMS recomenda o uso da TAK-003, conhecida como Qdenga e atualmente oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através do laboratório japonês Takeda.
Segundo a entidade, a Qdenga é a única vacina disponível e deve ser aplicada em crianças de 6 a 16 anos em locais com alta intensidade de transmissão de dengue”. O imunizante começou a ser aplicado na rede pública de saúde em fevereiro deste ano. Em razão da quantidade limitada de doses a serem fornecidas pelo próprio fabricante, a vacinação é feita apenas em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Com informações de Agência Brasil e O Globo
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