As enchentes, além de causarem transtornos materiais e emocionais, também trazem consigo um sério risco à saúde da população: as doenças transmitidas por água e lama contaminadas. No Rio Grande do Sul, estima-se que 16 mil casos de leptospirose podem ter ocorrido após as enchentes de 2024. Entretanto, esse cenário pode se repetir em qualquer lugar alagado.
O médico infectologista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Matheus Todt, alerta que além da leptospirose, outras doenças tendem a aumentar após esses eventos, como hepatites virais (principalmente A), tétano, algumas parasitoses (como a giardíase) e infecções gastrointestinais. “Além dessas, os casos de arboviroses (Dengue, Chikungunya e Zika) também tendem aumentar (devido à maior proliferação do mosquito vetor), além de infecções respiratórias como a gripe”, explica.
Causas
- Leptospirose: Causada por uma bactéria presente na urina de ratos e outros animais, a leptospirose pode levar a febre alta, dor muscular, náuseas, vômitos e diarreia. Em casos graves, pode afetar rins e fígado.
- Hepatites virais (A): A água contaminada pode transmitir o vírus da hepatite A, causando fadiga, dor abdominal, náuseas, vômitos, icterícia (pele amarelada) e urina escura.
- Tétano: Causada por uma bactéria presente no solo e na água contaminada, o tétano provoca contrações musculares fortes e dolorosas, podendo levar à morte.
- Outras doenças: Giardíase (parasitose intestinal), infecções gastrointestinais, arboviroses (dengue, chikungunya e zika) e infecções respiratórias (gripe) também podem ser transmitidas por água e lama contaminadas.
A leptospirose, especificamente, é uma preocupação séria devido à sua transmissão pela urina de animais infectados, que se mistura à água das enchentes. Os sintomas comuns incluem febre, dor no corpo, náusea, vômitos e diarreia, mas podem variar dependendo da doença contraída. “Todos os indivíduos que tiveram contato prolongado com águas de enchentes devem permanecer vigilantes e procurar assistência médica ao primeiro sinal de sintomas”, ressalta Todt.
Embora o foco esteja nas enchentes recentes do Rio Grande do Sul, é crucial entender que esse cenário de saúde pública pode ocorrer em qualquer local afetado por inundações. “De forma geral os sintomas se iniciam por volta de 2 semanas (14 dias) após o contato com a água contaminada. As doenças como leptospirose, tétano e hepatite A são evitáveis se evitarmos o contato com essa água”, destaca.
Para aqueles envolvidos nas operações de limpeza após as enchentes, Todt aconselha precauções rigorosas, como o uso de botas, calças impermeáveis, luvas e, quando necessário, máscaras e óculos de proteção. “O contato com a lama contaminada representa um risco semelhante ao da água, por isso é essencial minimizar a exposição direta”, orienta.
Medidas de proteção:
- Mantenha o calendário vacinal atualizado: Vacinas contra tétano, hepatite A, influenza, COVID-19 e tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) são essenciais.
- Evite contato com água e lama: Use botas impermeáveis, calças compridas e luvas durante a limpeza da casa.
- Não consuma água ou alimentos contaminados: Beba apenas água potável e lave bem os alimentos antes de consumi-los.
- Descarte itens não laváveis: Utensílios pessoais como travesseiros, colchões e revestimentos de sofás que não podem ser higienizados adequadamente devem ser descartados.
- Limpe e desinfete: Após a enchente, lave e desinfete cuidadosamente a casa e todos os utensílios com água sanitária diluída.
- Cuide dos animais: Animais resgatados também podem estar doentes. Leve-os ao veterinário para avaliação e tratamento.
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