Uma pesquisa sobre nanopartículas de prata a partir de bacilos extraídos da areia de praia está entre os projetos da Universidade Tiradentes (Unit) que foram aprovados no recente edital do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE), promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A tese da pesquisadora Camilla Andrade Silva Valença, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial (PBI), terá uma parte de seus trabalhos desenvolvida no Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), em Rennes, na França.
A pesquisa de Camilla tem o objetivo de fazer nanopartículas de prata usando um extrato contendo produtos do metabolismo do Bacillus, uma espécie de bactéria isolada da areia da praia de Atalaia, em Aracaju. “Eu extraio os metabólitos produzidos dele, que tem atividades biológicas para aplicação biotecnológica. A perspectiva é que os conhecimentos adquiridos sobre uma bactéria local sejam aplicáveis no setor da biotecnologia. No meu caso, em específico, na obtenção de nanopartículas de prata que podem ter diversas aplicações no setor industrial”, explica. Uma das possíveis aplicações destas nanopartículas é a incorporação delas em um esmalte antimicrobiano, ou seja, a ser usado contra agentes causadores de infecções nas unhas.
Camilla passará seis meses, entre junho e dezembro deste ano, realizando seus trabalhos no INRA, instituto de pesquisa agropecuária criado em 1947 pelo governo francês. Composto atualmente por 17 centros de pesquisa e 13 departamentos científicos, ele também se dedica à ciência e tecnologia nas áreas de agricultura, alimentação e meio ambiente, constituindo-se como um dos principais do ramo na União Europeia. De acordo com ela, o instituto foi escolhido por ser referência na França em termos de pesquisas com Bacillus. Isso também foi possível a partir de parcerias mantidas pelas orientadoras da tese: as professoras Patrícia Severino, do PBI/Unit; e Sona Arun Jain, que passou pelo PBI e hoje leciona no Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
“A minha expectativa é de finalizar meus trabalhos conhecendo melhor minha bactéria, assim como fortalecer a parceria com a França, de forma a aprender tudo quanto for possível com eles e de alguma forma contribuir com o que tenho aprendido até então na minha carreira. Além disso, o doutorado-sanduíche representa a interação entre as culturas, na qual espero poder levar um pouquinho do Brasil comigo e absorver um pouquinho da França durante minha estadia lá”, falou a doutoranda, sobre o que espera desta etapa. A previsão é de que a tese de doutorado seja defendida em agosto de 2025.
Aprovação e sonho
O projeto de Camilla do PBI foi aprovado em duas seleções abertas para o PSDE/Capes. A primeira foi interna, feita em cada programa de stricto sensu da Unit, consistiu em análises da proposta de trabalho, do currículo, da carta de aceite do orientador na INRA e da comprovação da habilidade de comunicação em inglês. Com a maior pontuação, a aluna foi classificada para a segunda seleção, feita pela Capes com concorrentes de todos os programas de doutorado do Brasil.
Para a doutoranda, o fator determinante para a sua aprovação no doutorado-sanduíche foi a junção do currículo com a inovação do projeto a ser desenvolvido no exterior. “Ele será no sequenciamento e anotação do genoma inteiro da bactéria, assim como o mapeamento de genes que estejam relacionados com a produção de metabólitos bacterianos e consequentemente com a atividade antimicrobiana que o meu extrato está apresentando. Essa análise in silico é o que há de mais novo e de menor custo na área de microbiologia pois permite conhecer melhor o microrganismo analisado e assim permite facilitar sua otimização de processos relacionados”, afirma.
A pesquisadora fez toda a sua carreira acadêmica na Unit, sendo graduada em Nutrição e mestre pelo PBI, onde fez uma dissertação sobre a prospecção de moléculas de interesse biotecnológico produzidas por bactérias isoladas de manguezais sergipanos. Neste tempo, ela também participou de vários cursos, eventos e programas de mentoria, monitoria e iniciação científica. Agora, ela está prestes a realizar um sonho que a acalentava desde o mestrado.
“A Unit sempre me ofereceu toda a infraestrutura e corpo docente necessários para a realização da minha pesquisa com qualidade, que junto aos esforços dos professores da pós-graduação e dos alunos que contribuem com a pesquisa da universidade tornaram possível a mesma possuir tanta visibilidade frente ao MEC para concorrer a esse edital de bolsa do PDSE. Ter conseguido chegar até aqui é simplesmente a realização de um sonho”, comemora Camila.
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