Adaptabilidade, empatia e sensibilidade. Estas três palavras costumam figurar em meio às características que definem o perfil dos profissionais de educação, principalmente nos tempos em que as salas de aulas têm se tornado cada vez mais diversas e inclusivas. Mas a participação de alunos com algum tipo de transtorno do neurodesenvolvimento tem exigido também uma formação docente especializada, voltada à promover ambientes educacionais acolhedores e com estratégias pedagógicas moldáveis a cada diagnóstico.
Os transtornos do neurodesenvolvimento consistem em alterações dos processos iniciais do desenvolvimento cerebral, com efeitos durante a vida toda. A lista dos principais tipos engloba o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); Transtorno do Espectro Autista e distúrbios da aprendizagem. Em meio a este cenário, um dado preocupante: até 2022, aproximadamente 94% dos professores regentes não possuíam conhecimento específico na área da Educação Especial, de acordo com informações divulgadas pelo próprio Ministério da Educação (MEC), através do portal de notícias Terra.
Para a docente e coordenadora do curso de pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) aos Transtornos do Neurodesenvolvimento da Universidade Tiradentes (Unit) e professora das redes municipal e estadual, Patrícia de Sousa Nunes Silva, profissionais da área já começam a buscar pela especialização, cuja ausência no currículo pode acarretar em desafios maiores, dificultando, entre outros pontos, a identificação da existência e do tipo de transtorno e, consequentemente, o encaminhamento para outras áreas também importantes na formação social e pedagógica desses estudantes.
“A capacitação profissional se revela um instrumento essencial tanto para professores, quanto aos demais integrantes da comunidade escolar. A formação continuada nessa área permite identificar estudantes que apresentem transtornos, encaminhando-os para profissionais especializados, os quais promoverão meios e recursos para que superem dificuldades e alcancem melhor desempenho escolar e desenvolvimento socioemocional. Os educadores hoje sabem da importância da capacitação e têm investido nesse quesito. Quando não ocorre, a tendência é enfrentar grandes dificuldades em sala de aula, na práxis docente, na interação e relação socioafetiva”, avalia.
Capacitação para inclusão
Muito além de complementar o currículo dos profissionais da área, a Educação Especial possibilita a utilização de ferramentas que auxiliam o professor para, desde cedo, identificar possíveis desafios de aprendizagem, aplicando intervenções humanizadas e que vão de encontro às características individuais de cada aluno. Além disso, questões envolvendo a participação dos pais e responsáveis, bem como ajustes estruturais pelas instituições de ensino, devem estar inseridos em todo o processo de formação continuada.
“Todos esses são temas de discussão e perpassam pelas disciplinas no decorrer do curso de Pós-graduação da Unit. Pensamos em um currículo global, que traga reflexões do dia a dia da escola, da vivência e da experiência para além dos muros da universidade, trabalhando metodologias ativas, estudos de caso, atividades em campo e oficinas temáticas. Por fim, a matriz curricular apresenta estágios, os quais são realizados em parceria com a Clínica de Psicologia da Unit, levando nosso alunado a vivenciar na prática as suas aprendizagens”, exemplifica a docente.
Com isso em prática, os educadores terão uma vivência clara e objetiva dos principais desafios educacionais que, se contornados, poderão transformar positivamente o processo de aquisição do conhecimento entre os que já são capazes de demonstrar que condições neurobiológicas especiais estão muito distantes de serem barreiras para o aprendizado.
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