A busca por uma alimentação saudável e equilibrada é uma preocupação cada vez mais presente na vida das pessoas. No entanto, em um cenário repleto de informações conflitantes, muitos mitos sobre nutrição ainda persistem. Para esclarecer essas questões e orientar o público sobre escolhas alimentares mais saudáveis, a nutricionista e professora de Nutrição na Universidade Tiradentes (Unit), Carla Souza, compartilha algumas questões.
O café da manhã e a importância do desjejum
O mito de que pular o café da manhã ajuda na perda de peso é desmascarado pela especialista. O desjejum é fundamental para fornecer a energia necessária e evitar excessos nas refeições posteriores.
“Para perder peso você precisa de uma dieta Hipocalórica (com menos calorias que você consome atualmente). O café da manhã é de suma importância para o corpo ‘acordar’, ativar no cérebro (este é dependente de glicose para funcionar), além de iniciarmos nossas atividades diárias com mais disposição e energia. E salientar que, quem toma café da manhã geralmente evita exageros nas próximas refeições”, explica.
Gorduras saturadas ou gorduras insaturadas
A distinção entre gorduras saturadas e insaturadas é crucial. Enquanto as primeiras podem ser prejudiciais em excesso, as segundas são benéficas para a saúde cardíaca.
“As gorduras saturadas em geral são de origem animal e seu consumo realmente precisa ser moderado para a prevenção de doenças cardiovasculares. Já as insaturadas são em geral de origem vegetal, fazem bem ao coração e estão presentes nos azeites de oliva, oleaginosas, abacate e óleos vegetais. Também podemos encontrá-las em alguns peixes”, destaca.
Dietas restritivas: mitos e realidades
As dietas restritivas podem ser prejudiciais. A moderação e a busca por uma alimentação equilibrada são fundamentais para a saúde.
“Dietas restritivas não são aconselháveis, porque nosso corpo necessita de todos os macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios). A restrição, na maioria dos casos, leva a uma compulsão alimentar, portanto ela só deve ser realizada se houver uma patologia que seja necessário, não para o emagrecimento e saúde”, alerta a nutricionista.
Adoçantes artificiais e seus efeitos
O uso de adoçantes artificiais deve ser cauteloso, principalmente para quem busca emagrecer. O desmame do açúcar é uma alternativa mais saudável.
“Atualmente a OMS (Organização Mundial de Saúde) não recomenda adoçantes para fins de emagrecimento, somente para pacientes diabéticos, justamente para prevenção de efeitos deletérios a longo prazo. Para o emagrecimento, recomendo o desmame do açúcar! Só prescrevo o tipo de adoçante Stevia e para pacientes diabéticos”, alerta.
Ovos e o colesterol
Os ovos são um alimento nutritivo e não estão diretamente relacionados a problemas de colesterol, desde que sejam preparados de maneira adequada.
“O ovo é um superalimento, a clara é rica em proteínas e a gema é rica em gorduras boas, minerais e vitaminas. Os estudos mostram que ele não altera o colesterol, porém precisamos ficar atentos à forma de preparo para não fritá-lo com gordura saturada/trans (manteiga e algumas margarinas), porque a fritura aumenta nosso colesterol”, esclarece.
A Importância de fracionar as refeições
A ideia de que “comer de três em três horas” é saudável é confirmada pela especialista, que destaca os benefícios do fracionamento das refeições.
“É saudável sim! Fracionar a dieta (aumentar o número de refeições ao dia) evita longos períodos de jejum, ajuda na manutenção da glicemia, além de evitar exageros de alimentos durante as principais refeições. Geralmente quem faz poucas refeições ao dia, come grandes volumes em uma só refeição, e isso dificulta a digestão e pode engordar ainda mais”, enfatiza.
Dieta vegetariana e vegana: necessidades nutricionais
A dieta vegetariana e vegana pode ser saudável, mas é necessário atenção às deficiências de nutrientes e ao consumo de produtos industrializados.
“A dieta vegetariana é uma realidade, mas precisamos dosar sempre as vitaminas e minerais destes pacientes, justamente para suplementar as carências nutricionais deste grupo de pessoas, e sempre explicar o que as deficiências de micronutrientes podem causar. Os vegetarianos tendem a consumir também bastante produtos veganos industrializados, porém precisamos explicar a importância de ler os rótulos para evitar os alimentos ultraprocessados”, elenca.
Dieta sem glúten e os mitos associados
A dieta sem glúten não é necessária para todos e pode levar à compulsão alimentar. O foco deve ser em uma alimentação variada e equilibrada.
“A restrição sem necessidade, como já havia falado em outro momento, pode levar à compulsão. O importante é consumir uma dieta variada e saudável, além de calculada individualmente para a necessidade de cada paciente. Algumas pessoas emagrecem quando retiram o glúten, porque podem consumir menos calorias, mas isso é relativo, pois algumas farinhas ou alimentos sem glúten podem até ser mais calóricos que os que possuem glúten”, orienta Carla.
Comer tarde da noite e o ganho de peso
A relação entre comer tarde da noite e ganho de peso é contextualizada, enfatizando a importância da qualidade dos alimentos nesse período.
“O que vai fazer a pessoa aumentar o peso é o total de calorias do consumo diário, porém no período noturno o metabolismo já está mais lento, e isto pode dificultar a digestão e aumentar a absorção de calorias, se houve vários períodos de privação durante o dia, mas sempre devemos ficar atentos à qualidade de alimentos e preferir alimentos de mais fácil digestão para o período noturno”, infere.
A busca por informações nutricionais confiáveis
A necessidade de buscar orientações de profissionais de saúde é enfatizada, destacando a importância do acompanhamento individualizado para uma alimentação saudável e equilibrada.
“As pessoas precisam seguir orientações de profissionais nutricionistas, que são habilitados para o conhecimento em relação aos alimentos e nutrição. Seguir orientações de ‘blogueiros’, artistas na mídia e outras pessoas, pode levar a um sério risco à saúde. O que mais encontramos por aí são: dietas de modas; dieta da artista que emagreceu; entre outras. Sendo que a dieta precisa ser calculada de forma individual, porque as necessidades dos pacientes também são individuais”, reitera.
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