O programa Meninas na Ciência tem sido um catalisador para a mudança de percepção de jovens estudantes sobre o potencial de suas carreiras em áreas historicamente dominadas por homens. A iniciativa, que tem a Universidade Tiradentes (Unit) como participante ativa, busca inspirar e empoderar meninas a seguir caminhos acadêmicos e profissionais em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).
Dentro desse guarda-chuva, projetos específicos como o liderado pela professora Patrícia Severino, do Programa de Pós-Graduação em Biociência e Saúde (PBS), intitulado “Mulheres na Nanociência: Conhecimento e Inovação para Cientistas e Profissionais do Futuro”, é uma iniciativa de alcance nacional, presente em 12 estados e nas cinco regiões brasileiras. Ele conecta 80 pesquisadoras, 21 Instituições de Ensino Superior (IES), quatro empresas e 20 escolas de educação básica, impactando diretamente mais de 10.700 estudantes.
A principal proposta é estimular e apoiar a participação ativa de mulheres, incluindo aquelas de diferentes origens étnico-raciais, nas áreas de Nanotecnologia e STEM. “Buscamos ampliar a inserção de meninas em temas interdisciplinares desde a educação básica até o ensino superior, com a parceria entre pesquisadoras renomadas que já desenvolvem isoladamente atividades na educação básica neste tema ou têm interesse em se inserir”, explica a professora Patrícia Severino.
Desafios, conquistas e engajamento
Patrícia Severino ressalta que o maior desafio na execução do projeto tem sido garantir a continuidade do engajamento das alunas após a participação no programa. “Isso envolve a necessidade de estreitar os laços com escolas parceiras e oferecer suporte adicional para aquelas que demonstram interesse em seguir áreas científicas ou tecnológicas”, afirma. O acompanhamento de longo prazo e a orientação para ingresso no ensino superior e em programas de iniciação científica são pontos cruciais para a solidificação desse interesse.
Apesar dos desafios, as conquistas são significativas. A professora destaca o impacto direto na mudança de percepção das jovens sobre o potencial de suas carreiras. “Muitas alunas se sentem mais motivadas a ingressar no ensino superior, além do fortalecimento da presença feminina em áreas de ciência e tecnologia”, celebra. Segundo ela, o Meninas na Ciência tem sido um ponto de partida para o desenvolvimento dessas alunas, contribuindo para o aumento da representatividade feminina em áreas tradicionalmente dominadas por homens.
Impulsionando a Nanociência
O projeto “Mulheres na Nanociência” é uma rede robusta, coordenada nacionalmente pela Profa. Dra. Solange Fagon, vice-reitora da Universidade Franciscana. As atividades em Aracaju acontecem mensalmente na Universidade Tiradentes, no Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) e no Colégio Petrônio Portela.
O financiamento é um pilar fundamental para a execução das atividades, e o projeto conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com uma captação total de mais de um milhão de reais. Em Sergipe, o projeto oferece três bolsas para alunas do Colégio Petrônio Portela, no valor de R$ 300,00 cada. A seleção das bolsistas é feita com o auxílio da coordenadora do colégio, baseada no interesse e no desempenho acadêmico satisfatório.
O projeto está vinculado aos Programas de Pós-Graduação (PPGs) em Biociências e Saúde, Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) e Engenharia de Processos (PEP), contando com o envolvimento das professoras Patrícia Severino, Juliana Cordeiro e Adriana de Jesus Santos. “Os programas de pós-graduação desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e na execução de atividades de pesquisa no Meninas na Ciência, proporcionando aos alunos e docentes a oportunidade de orientar, mentorar e compartilhar suas experiências com as alunas participantes”, explica Patrícia.
A Professora Adriana de Jesus Santos, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP) da Unit, reforça o impacto de sua participação no projeto. “Dentro do projeto Meninas na Nanociência, atuo como parte da equipe, contribuindo com ações que envolvem desde oficinas até conversas sobre carreira, tecnologia e inovação. Mais do que levar conteúdo técnico, meu papel é mostrar na prática que meninas podem e devem ocupar espaços nas engenharias, nas ciências exatas, na pesquisa de ponta”, elenca. “É um privilégio participar de um projeto que impulsiona meninas a se enxergarem como futuras cientistas, engenheiras e líderes. A cada atividade, vejo os olhos delas brilhando, perguntas surgindo, curiosidades sendo despertadas. Isso me realiza”, completa.
O futuro da ciência
A experiência prática é um dos diferenciais do projeto. As meninas participam de atividades no FabLab do Tiradentes Innovation Center, explorando tecnologias inovadoras, e atuam no desenvolvimento de nanoformulações nos laboratórios da graduação, vivenciando práticas laboratoriais avançadas. “A próxima atividade será voltada para o empreendedorismo, proporcionando a elas uma visão prática sobre como transformar ideias inovadoras em soluções de negócios”, revela Patrícia Severino.
O engajamento das meninas tem sido notável, com alto nível de participação. “As alunas se mostram muito interessadas em explorar as áreas STEM, muitas vezes superando desafios de autoestima e estereótipos de gênero que costumam ser um obstáculo nessas áreas”, observa a professora Patrícia, que destaca o caso de uma aluna que descobriu seu interesse por biotecnologia e se apaixonou pela ideia de desenvolver soluções para problemas de saúde. Após participar do projeto, ela se dedicou a buscar mais informações sobre o campo, foi orientada por professores da universidade e agora busca ingressar em um programa de iniciação científica do ensino médio.
Para despertar o interesse e a curiosidade das meninas pela ciência desde a educação básica, a professora Adriana explica as estratégias. “Apostamos em estratégias que unem aprendizado, prática e encantamento. Entre as atividades que realizamos, desenvolvemos oficinas com jogos de tabuleiro produzidos na própria universidade no FabLab, com peças impressas em 3D. Esses jogos abordam conceitos da nanotecnologia e da engenharia de forma lúdica e acessível, o que facilita muito a compreensão e o engajamento”, infere.
Ela complementa que as alunas têm a oportunidade de manusear materiais como grafeno, nanotubos de carbono e fulerenos, e realizam oficinas de preparo de nanoformulações cosméticas. “Ao aliar teoria e prática com linguagem acessível e um ambiente acolhedor, conseguimos criar experiências que não apenas informam, mas inspiram essas meninas a se verem como futuras cientistas”, finaliza.
Os principais impactos percebidos nas alunas incluem uma significativa transformação no seu interesse e percepção sobre ciência e tecnologia. Muitas delas, que antes não viam essas áreas como opções de carreira, agora estão mais confiantes em seguir caminhos acadêmicos e profissionais. O programa também tem proporcionado um fortalecimento da autoestima e da autoconfiança das participantes, ajudando-as a superar barreiras de gênero e a perceber seu potencial para contribuir no campo científico. “Outro impacto importante é o aumento do pensamento crítico e da habilidade de resolver problemas, desenvolvidos por meio de atividades práticas”, acrescenta a professora Patrícia.
Equidade de gênero na ciência
A universidade enxerga o futuro do Meninas na Ciência de forma muito promissora, com a intenção de expandir e consolidar o projeto. Há uma forte perspectiva de institucionalizá-lo como um programa permanente, dada a relevância social e acadêmica da iniciativa. “A ideia é ampliar o alcance para mais escolas e municípios, promovendo a inclusão de um número maior de meninas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática”, afirma Patrícia Severino.
Para a professora Patrícia, estar à frente de um projeto como o Meninas na Ciência é uma oportunidade de contribuir para um futuro mais inclusivo. “É uma forma de promover igualdade de oportunidades, empoderando essas jovens com o conhecimento e a confiança necessários para seguir carreiras científicas”, pontua. O projeto, em sua visão, reflete um compromisso com a criação de um ambiente mais equilibrado e diversificado, ajudando a moldar uma geração de mulheres líderes e inovadoras.
A Professora Adriana de Jesus Santos deixa uma mensagem para as participantes: “Não importa de onde você vem, importa onde você quer chegar. Com foco, coragem e apoio, é possível sim construir um futuro brilhante na ciência, e eu estou aqui para ajudar a abrir esses caminhos”, diz.
A próxima fase do projeto “Mulheres na Nanociência” já está acontecendo e aborda o empreendedorismo, preparando as alunas para o mercado de trabalho e para a criação de suas próprias iniciativas. Além disso, está previsto o desenvolvimento de nanopartículas em laboratório e suas diversas aplicações. A longo prazo, a meta é que o programa se torne uma referência na promoção da equidade de gênero nas áreas científicas e tecnológicas, com impactos positivos no desenvolvimento regional e nacional.
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