O Dia das Bruxas, também conhecido como Halloween, é comemorado todos os anos no dia 31 de outubro. A festividade é popular nos países anglo-saxões (falantes de língua inglesa), mas tem suas origens no festival Samhain dos celtas. A comemoração marcava o fim do verão e era dedicada à colheita e aos mortos. Com o passar do tempo, a Igreja Católica adotou a data como véspera do Dia de Todos os Santos (All Hallows’ Eve) e, atualmente, a festa é marcada por crianças fantasiadas que saem em busca de doces e perguntam “doces ou travessuras?”.
Nas últimas décadas, a comemoração norte-americana vem ganhando espaço no Brasil por conta da comercialização de séries, filmes e elementos que marcam o famoso Dia das Bruxas. Buscando resgatar os elementos do folclore e da cultura nacional, foi estabelecido, também no dia 31 de outubro, o Dia do Saci, dedicado a um ser mitico negro e pequeno que tem apenas uma perna, usa um gorro vermelho e fuma cachimbo. De acordo com a lenda, ele habita as florestas e gosta de praticar travessuras com as pessoas.
O personagem, bastante divulgado pelos livros infantis do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948), foi escolhido para ter um dia próprio em 31 de outubro, no mesmo dia do Halloween, o que foi visto como uma forma de valorizar a cultura nacional e minimizar um cenário de sobreposição cultural proporcionada por meios de comunicação e outras influências que acabam, por vezes, priorizando outra cultura. Assim, o Dia Nacional do Saci-Pererê foi estabelecido com a Lei Federal 2.479/13, depois de 10 anos de tramitação nas esferas do Executivo e do Legislativo.
Debate das tradições
Para o historiador e cientista político Thiago Vasconcellos Modenesi, professor da Faculdade Tiradentes (Fits Goiana), ressalta que o Brasil é um país com diversas lendas, mitos e de ricas tradições, que precisam ser cada vez mais reconhecidas e valorizadas. “Nós somos o país do Curupira, da Mula-sem-cabeca, da Perna Cabeluda, do Boto Rosa, do Saci Pererê e muitos outros. Tais personagens estão vinculados, via de regra, à nossa flora e fauna, nossos costumes. Afirmar nossas lendas é afirmar a nacionalidade e as nuances do nosso povo”, disse ele.
Comemorações como Cosme e Damião em 26 de setembro (para os católicos) e 27 de setembro (para o Candomblé e a Umbanda) são similares ao Halloween, com a utilização de ‘doces e travessuras’, e não ganham destaque como as festividades norte-americanas, ainda que seja realizada a distribuição de doces para as crianças como forma de homenagear os santos ou cumprimento de promessas realizadas.
Fatos como esses abrem campo para debates nas redes sociais e na mídia sobre a importância e valorização da cultura nacional, e também, sobre a preferência que boa parte da população tem a tudo que se remete à cultura estrangeira. “Há sempre uma pressão dos costumes estadunidenses sobre os outros países do mundo, isso sempre foi muito forte no Brasil, ao ponto de absorvemos vários estrangeirismos, como “mouse”, “Aids” e “hot-dog”, isso se estabeleceu desde o século XX, através do cinema, músicas e similares”, diz Modenesi.
Apesar dessa pressão, algumas iniciativas somadas à Lei do Saci atendem ao objetivo de fortalecer e representar a cultura e a mitologia nacional. Um exemplo citado pelo historiador é a série brasileira ‘Cidade Invisível’, criada pelo diretor de arte Carlos Saldanha e exibida na Netflix, que foi sucesso de público e de crítica ao abordar as lendas do folclore brasileiro com uma roupagem atual e moderna. “Creio na força de nossas tradições, na valorização de nossa cultura, espelho de nosso país nas suas mais variadas formas, algo bastante forte em terras tupiniquins”, afirma Thiago.
Asscom | Grupo Tiradentes