A técnica de peeling de fenol não é nova, mas sua banalização nos últimos anos é preocupante, voltando ao centro das atenções após a trágica morte de um jovem durante o procedimento, realizada por um profissional sem habilitação em uma clínica sem autorização sanitária. Este incidente ressalta a necessidade de uma regulamentação rigorosa e a importância de procurar profissionais qualificados para realizar este tipo de tratamento.
O peeling de fenol, conforme explica a médica dermatologista, Thâmara Morita e professora do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), é um tratamento eficaz para rugas e flacidez avançada, que promove a renovação celular por meio da descamação profunda da pele. “É indicado para pessoas com envelhecimento facial severo, que se apresenta como rugas profundas, manchas e alteração de textura da pele. Alguns casos de cicatrizes de acne também podem ser tratados com o peeling de fenol”, explica Thâmara.
Este procedimento deve ser realizado exclusivamente por médicos dermatologistas e cirurgiões plásticos com conhecimento técnico e habilitação adequados. “O fenol não é adequado para áreas extensas, pois pode ser absorvido sistemicamente através da pele, com risco de efeitos nocivos no coração, sistema circulatório, rins e fígado. Para ser realizado em todo o rosto, por exemplo, está indicado monitorização cardíaca, pois a substância pode provocar efeitos cardiotóxicos, inclusive arritmia e parada cardíaca. Também está indicada hidratação intravenosa, para prevenir altas concentrações da substância na circulação”, detalha.
Diferentemente dos peelings superficiais, que não apresentam riscos de complicações graves e podem ser utilizados em qualquer área do corpo, o peeling de fenol atinge camadas mais profundas da pele, causando uma queimadura química que leva ao rejuvenescimento. “Ao contrário dos peelings mais suaves, que podem exigir uma série de sessões, o peeling de fenol é feito geralmente em uma sessão única”, elenca Thâmara.
Cuidados essenciais
Thâmara destaca a importância de avaliar a saúde do paciente antes do procedimento, buscando por contraindicações como doenças cardíacas, renais ou hepáticas. O acompanhamento psicológico também é fundamental, pois o peeling causa desconforto durante a aplicação e exige repouso prolongado na recuperação.
“É preciso realizar profilaxia contra reativação do vírus 1-2 dias antes do peeling, em pessoas com história de herpes simples nos lábios. Durante as primeiras semanas, deve-se evitar sair de casa, enquanto a pele ‘queimada’ vai se soltando, e uma nova surge em seu lugar. Os cuidados com curativos são essenciais, para evitar infecção por fungos ou bactérias. Em seguida, a pele fica avermelhada por cerca de 30-90 dias, a depender de cada organismo, e a proteção solar deve ser rigorosa, para evitar manchas”, orienta.
A escolha de um profissional médico habilitado e de um local com autorização da Vigilância Sanitária é crucial para a segurança do paciente. O peeling de fenol deve ser realizado em ambiente hospitalar ou clínico com estrutura para lidar com possíveis intercorrências. “Um peeling de fenol pode evoluir com complicações como infecções, cicatrizes, manchas definitivas, arritmia e até parada cardíaca. Antes de realizar qualquer tratamento na pele, é importante certificar-se que o profissional é habilitado para este procedimento”, elenca.
O procedimento exige precauções como evitar pacientes com doenças crônicas, exposição recente ao sol, uso de isotretinoína, predisposição a quelóides e peles de tipo IV a VI, de acordo com a classificação de Fitzpatrick ou instabilidade psicológica. “Para a realização de um peeling de fenol em todo o rosto, por vezes, indica-se que o paciente esteja sob monitorização cardíaca e recebendo hidratação com soro venoso”, recomenda.
É importante estar atento a sinais como edema, exsudação, crostas e dor intensa após o procedimento. Em caso de dúvidas, procure avaliação médica imediata. “Nos primeiros dias após a realização de um peeling de fenol, são esperados edema, exsudação e crostas. Alguns pacientes também podem apresentar dor após o peeling e precisam usar analgésicos. Em caso de dúvidas sobre a intensidade da dor, do inchaço e da secreção, está indicada uma avaliação médica com prioridade”, pontua a médica.
Alternativas ao peeling de fenol
Para quem busca resultados similares com menos riscos, existem alternativas como lasers fracionados ablativos e radiofrequência microagulhada. “Nas últimas décadas, tratamentos com lasers superaram os peelings profundos devido ao maior controle da profundidade da pele, menor risco de toxicidade sistêmica e efeitos adversos menos graves. Tecnologias como lasers fracionados ablativos (erbium e CO2) e radiofrequência microagulhada tratam envelhecimento e cicatrizes de acne com resultados similares, embora exijam mais sessões”, recomenda
Influência das redes sociais e recomendações
A popularização de procedimentos estéticos em redes sociais aumenta a demanda por esses tratamentos, mas também pode levar a escolhas inadequadas de profissionais. “Nem sempre nas redes são mostradas as intercorrências possíveis. Muitas pessoas escolhem um profissional com base no número de seguidores, esquecendo de verificar sua competência técnica e habilitação”, alerta Thâmara.
Por conta disso, é fundamental pesquisar, buscar informações confiáveis e consultar um profissional qualificado para tomar decisões conscientes. A médica oferece as seguintes recomendações:
- Informe-se: Entenda o procedimento, os cuidados e os riscos envolvidos.
- Escolha um profissional: Busque um médico dermatologista ou cirurgião plástico habilitado.
- Verifique o local: Certifique-se de que a clínica possui autorização da Vigilância Sanitária.
- Priorize a segurança: Opte por procedimentos realizados em ambiente adequado, com equipe médica preparada para lidar com intercorrências.
“É fundamental manter rigorosa fiscalização aos estabelecimentos e profissionais que prestam esse tipo de serviço, para garantir que estão atendendo os critérios definidos por lei e por órgãos de controle. Do mesmo modo, as entidades responsáveis precisam ampliar o controle de comercialização de medicamentos, equipamentos e insumos de uso médico que têm sido vendidos indiscriminadamente, permitindo que pessoas realizem e anunciem a oferta de serviços para os quais não estão qualificadas”, finaliza.
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