Os projetos de iniciação científica desenvolvidos na Universidade Tiradentes (Unit) dedicam-se a encontrar e desenvolver novas fontes que podem ser usadas na geração de energia e no desenvolvimento de novos produtos, a partir do processamento de biomassas e outros resíduos. Uma destas fontes é a Moringa oleifera Lam, conhecida popularmente como moringa, acácia-branca, lírio branco ou quiabo-de-quina. Uma pesquisa de iniciação científica, desenvolvida pela aluna Fernanda França dos Santos, do oitavo período de Fisioterapia, estuda a produção de filmes biodegradáveis usados na conservação de alimentos, a partir de materiais como a farinha desengordurada e o óleo extraído das sementes desta planta.
O trabalho é desenvolvido como parte da tese de doutorado que está sendo desenvolvida pela aluna Danivia Endi Santana Souza, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), com orientação da professora-doutora Cleide Mara Faria Soares, também do PEP. E também inserida no contexto de estudos realizados pelo grupo de pesquisa BIPAF (Biorrefinaria de Produtos Alimentícios e Farmacêuticos), formado no PEP e registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). os estudos contaram ainda com os laboratórios de Engenharia em Bioprocessos (LEB) e de Pesquisa em Alimentos (LPA), ambos do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP)
As pesquisas realizadas por esse grupo concentram-se na promoção do reaproveitamento integral de biomassa, aliando práticas de produção aos princípios da economia circular e da sustentabilidade. “Esses estudos exploram aplicações sustentáveis e a substituição de materiais plásticos convencionais por alternativas biodegradáveis. E fazem parte de uma iniciativa mais ampla voltada ao desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis, com base em recursos naturais do nordeste brasileiro”, explica Cleide.
Muito presente em estados como Maranhão, Piauí, Ceará e Pernambuco, a moringa é uma planta rica em compostos bioativos como flavonoides e ácidos fenólicos, com sementes que contêm até 40% de óleo. A aluna explica que, depois do processo de remoção do óleo, a farinha desengordurada se destaca por ser rica em proteínas e fibras, com aplicações na indústria alimentícia e farmacêutica.
No projeto de iniciação científica, os filmes, também conhecidos como plástico-filme, foram desenvolvidos e produzidos a partir da farinha e do óleo que foram extraídos da semente de moringa. “Após a remoção do óleo, realizada com etanol e assistida por micro-ondas, a farinha desengordurada é utilizada para criar filmes biodegradáveis. Esses filmes são obtidos pela combinação de polímeros naturais com aditivos plastificantes, melhorando propriedades mecânicas e de barreira”, detalha Fernanda.
Durante os experimentos, os materiais foram aplicados em frutas típicas do Nordeste, como caju, mamão, mangaba e acerola, consideradas perecíveis. Para a professora, a pesquisa determinou as melhores condições de extração do óleo, validou o reaproveitamento eficiente da farinha desengordurada e comprovou a eficácia dos filmes biodegradáveis como substitutos às embalagens plásticas convencionais para a conservação de alimentos.
“O reaproveitamento da farinha desengordurada, combinado com a adição de óleo à formulação dos filmes, aumentou sua hidrofobicidade, espessura e flexibilidade, devido à interação do óleo com a estrutura polimérica da farinha. Os filmes demonstraram ser completamente biodegradáveis no solo, reforçando sua viabilidade como material sustentável. Além disso, foram eficazes na conservação das frutas, retardando a deterioração e inibindo o crescimento de fungos. Assim, os objetivos propostos pela pesquisa foram plenamente alcançados, confirmando o potencial das sementes de moringa oleifera como uma matéria-prima promissora”, diz Cleide, acrescentando que a produção de filmes biodegradáveis atende um nicho de mercado relevante para a conservação de frutas regionais.
Experiência na IC
A professora Cleide Mara destacou a dedicação e o comprometimento desempenhados, desde a execução experimental até a análise e apresentação dos resultados, pela aluna Fernanda França, que atuou no projeto como bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI) do CNPq. “O que mais chama a atenção em sua atuação é a capacidade de apresentar os resultados de sua Iniciação Científica com criatividade, determinação e clareza, superando os desafios científicos com excelência. Além disso, seu interesse genuíno em contribuir para soluções ambientalmente responsáveis reforça seu potencial como pesquisadora. Sua participação foi essencial para a obtenção de resultados promissores, evidenciando sua habilidade em conectar a pesquisa científica a impactos práticos e sustentáveis para a sociedade”, elogia.
Por sua parte, Fernanda destacou a experiência da iniciação científica como uma experiência transformadora, que foi possível a partir da infraestrutura, do apoio acadêmico e da orientação científica viabilizadas pela Unit. “Aprendi a trabalhar de forma independente, eficiente e gerenciando atividades, e assumindo responsabilidades importantes com foco em resultados. A convivência com colegas e orientadores me ensinou o valor do trabalho em equipe, fortalecendo habilidades de comunicação e colaboração. Além disso, entender como funciona a pesquisa científica, desde a elaboração até a apresentação, foi enriquecedor e despertou em mim um grande interesse pela ciência”, definiu ela.
* Matéria alterada em 22/01/2025, às 14h55, para acréscimo e correção de informações
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