A pesquisa científica na área de educação ajuda a identificar demandas e possibilidades de melhorias nas práticas e nas condições de trabalho para professores que atuam em sala de aula. Um exemplo disso está na dissertação de mestrado que está sendo desenvolvida pelo professor e jornalista José Amorim da Silva Filho, aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (PPED/Unit). Ele conduz uma pesquisa para mapear as competências digitais dos professores da rede municipal de ensino da cidade de Barra do Choça, no sudoeste da Bahia.
O estudo, que tem a orientação do professor-doutor Ronaldo Nunes Linhares, quer identificar os desafios enfrentados pelos docentes no uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs), fornecendo subsídios para a construção de uma proposta de formação docente específica para o contexto local. “O estudo analisa como as TDICs impactam as práticas pedagógicas e propõe estratégias para aprimorar a formação continuada dos docentes. Por meio de reflexões e leituras sobre as tecnologias atuais, busca contribuir para uma educação mais dinâmica, integrada às novas linguagens e aos avanços tecnológicos”, explica Amorim.
A pesquisa é realizada a partir de um questionário online que foi aplicado para os professores dos anos finais do Ensino Fundamental que atuam nas escolas do município baiano. Este questionário é o DigCompEdu, um quadro de competência digital para educadores que foi desenvolvido pela União Europeia. De acordo com o mestrando, trata-se de uma pesquisa com abordagem quanti-qualitativa, considerando o contexto educacional do município de Barra do Choça. O questionário foi respondido até o último dia 31 de março e seus resultados já entraram na fase de análise.
No entanto, segundo Amorim, “os dados preliminares indicam que alguns professores apresentam dificuldades no uso de tecnologias digitais em sala de aula, especialmente na integração desses dispositivos às suas práticas pedagógicas”. Entre os principais desafios detectados, estão a falta de formação específica para o uso pedagógico das TDICs; a infraestrutura inadequada em algumas escolas; a dificuldade em adaptar as metodologias tradicionais para um ensino mais interativo e tecnológico; e a resistência à mudança, por parte de alguns docentes, devido à insegurança no manuseio das ferramentas digitais.
Com base nisso, a dissertação do pesquisador prevê ainda a realização de grupos focais e uma proposta de formação continuada embasada em duas teorias: a “Roda da Pedagogia”, que sugere aplicativos disponíveis que trabalhem objetos educacionais em dispositivos móveis, e a “Taxonomia de Bloom”, que sistema de classificação de objetivos educacionais que ajuda a organizar o ensino e a aprendizagem. Tais teorias foram respectivamente criadas pelo desenvolvedor australiano Allan Carrington e pelo pedagogo norte-americano Benjamin Bloom (1913-1999).
“Esta pesquisa propõe uma formação continuada baseada em metodologias ativas, utilizando a Roda da Pedagogia, como um guia para integrar ferramentas digitais ao ensino de forma significativa. Além disso, sugere o uso de inteligência artificial (com a Roda da Pedagogia IA), gamificação e aprendizagem baseada em projetos para tornar o aprendizado mais dinâmico e eficiente”, destaca Amorim, considerando que a formação digital docente é essencial para a modernização da educação e impacta diretamente a qualidade do ensino na rede pública, alinhando-o à realidade digital dos alunos.
“Sempre enfatizo que, sem formação continuada, os professores terão dificuldades em acompanhar as rápidas transformações da sociedade contemporânea. A proposta não se limita a uma única rede de ensino; pelo contrário, pode ser adaptada e implementada em diferentes contextos educacionais. Esse é o grande diferencial do estudo: sua capacidade de expansão com as devidas adequações. A longo prazo, espera-se que essa formação contribua para um ensino mais inovador, preparando os estudantes para os desafios do século XXI”, acrescenta o autor, que tem graduação em Geografia e em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Vitória da Conquista (BA).
A dissertação faz parte da linha de pesquisa “Educação e Comunicação” do PPED, que investiga a relação entre educação e os processos midiáticos. A defesa está prevista para acontecer em dezembro deste ano.
Parceria firmada
A realização da pesquisa de José Amorim motivou uma parceria firmada entre a Unit, o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) e a Prefeitura Municipal de Barra do Choça, através da sua Secretaria Municipal de Educação. O Acordo de Cooperação Técnica entre as partes foi proposto a partir de uma sugestão do orientador Ronaldo Linhares, e assinado no mês passado.
“A parceria surgiu da minha própria vivência como professor da rede municipal, onde eu já havia conduzido formações sobre o uso das TDICs com os docentes. Essas experiências despertaram meu interesse em aprofundar a temática, levando-me a ingressar no mestrado. Com a pesquisa em andamento e a definição do tema, busquei a Semed para fortalecer o estudo, contando com seu apoio na sensibilização dos professores para participarem do diagnóstico de competências digitais por meio do DigCompEdu”, explica o mestrando.
Segundo a Prefeitura local, a pesquisa da Unit irá se desdobrar em um relatório técnico com base nos dados coletados, que servirá de base para a construção de um modelo de formação continuada voltado ao fortalecimento das práticas pedagógicas mediadas pelas TDICs. “O projeto representa um passo significativo na qualificação dos professores, permitindo que a rede municipal desenvolva estratégias mais eficazes para a integração da tecnologia no ensino”, informa a Semed de Barra do Choça.
O município baiano tem cerca de 38 mil habitantes e fica a menos de 30 quilômetros de Vitória da Conquista, cidade da qual foi emancipado em abril de 1963. Com quase toda a sua economia baseada na agricultura, ele ficou conhecido como um dos maiores produtores de café no Norte e Nordeste do Brasil.
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