Em um mundo cada vez mais conectado, a velocidade com que informações circulam é surpreendente. Mas nem tudo que reluz é ouro, e a disseminação de notícias falsas, as famosas fake news, se tornou um desafio crescente. Você já parou para pensar como se proteger dessa enxurrada de informações duvidosas? Foi justamente essa questão que motivou o estudante de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit), Cauê Elias Santos Nascimento, a mergulhar no universo da desinformação durante sua Iniciação Científica.
Pensando em estratégias para lidar com esse problema, Cauê se debruçou sobre as técnicas de “debunking” e “prebunking”. Mas o que significam esses termos? O “debunking” pode ser entendido como a ação de desmentir uma informação falsa que já se espalhou, mostrando o que é incorreto. Já o “prebunking” adota uma abordagem mais preventiva, funcionando como uma espécie de “vacina psicológica”. Ele ensina as pessoas a identificarem como as fake news são construídas, por onde são divulgadas e por quem, preparando-as para reconhecer a desinformação antes mesmo de acreditar nela.
“A motivação surgiu do meu interesse por conteúdos sobre notícias falsas. Lembro de ter ouvido um episódio do podcast de educação científica Naruhodo e, algum tempo depois, ao ler um artigo científico escrito por alguns amigos e pelo professor Rodrigo Machado, percebi que ambos mencionaram a técnica de prebunking. Isso despertou minha curiosidade, então comecei a pesquisar mais a fundo e descobri que era um tema inovador”, comenta Cauê.
Da inspiração à construção do projeto
A ideia de transformar esse interesse em pesquisa científica surgiu de forma natural para Cauê, que desde o início do curso já aliava a visão científica da psicologia aos seus estudos. A participação em projetos de iniciação à docência em outra instituição também o preparou para a pesquisa. Ao decidir formalizar a ideia, ele buscou a orientação da professora Ariane Brito, que se mostrou fundamental no desenvolvimento e andamento da pesquisa, incentivando o grupo.
A Iniciação Científica, que se estendeu do 4º ao 6º período, consumiu um ano de dedicação, com a elaboração do projeto em três meses. A pesquisa, inicialmente planejada para ser dividida em duas partes – uma revisão bibliográfica sobre fact-checking e debunking, e uma intervenção online quase-experimental com a técnica de prebunking –, teve sua execução modificada.
“Nosso projeto teve que ser executado somente com a primeira parte, a revisão bibliográfica; o comitê de ética sugeriu que o experimento tivesse um direcionamento diferente do que queríamos”, explica Cauê. Apesar da adaptação, a revisão bibliográfica trouxe um novo desdobramento. “Os principais resultados da nossa revisão sobre fact-checking e debunking nos mostram que os métodos de construção e disseminação das notícias falsas são comuns e se repetem,” destaca o pesquisador. Um exemplo disso é a influência da proximidade com quem compartilha a notícia e a forma como a informação é apresentada na percepção de veracidade.
Aplicabilidade dos resultados e impacto acadêmico
Apesar das limitações na execução da parte experimental, a pesquisa oferece importantes reflexões sobre como combater a desinformação, especialmente entre os jovens. Cauê ressalta a importância de desconfiar das notícias, principalmente as que chegam via WhatsApp, e de buscar fontes confiáveis de checagem de fatos. “Se manter informado sobre o tema das fake news e entender como funciona a propagação de conteúdo falso, como é criado, quem geralmente cria e divulga essas informações, é um grande começo para se prevenir”, orienta.
Cauê acredita que as redes sociais e a mídia têm um papel crucial no combate às fake news, e que as técnicas investigadas em sua pesquisa já são amplamente utilizadas e aprimoradas nesses ambientes. “É uma guerra que evolui diariamente para os dois lados com o avançar da tecnologia. Atualmente existem agências de checagem de fatos que trabalham para inúmeras instituições de jornalismo, por exemplo”, enfatiza.
O estudante de Psicologia demonstra entusiasmo em continuar pesquisando esse tema no futuro, reconhecendo sua relevância e o impacto psicológico da desinformação na sociedade brasileira. Seus próximos passos incluem a busca por um mestrado, impulsionado pela publicação de um artigo científico como resultado da Iniciação Científica. “A princípio, pretendo retomar esse tema no futuro pois é muito amplo, atual, ainda pouco pesquisado no Brasil e causa muito dano psicológico na nossa sociedade; também pretendo seguir carreira acadêmica partindo para o mestrado, e como tivemos o artigo publicado, já garantimos ponto na seleção para pós-graduação”, prevê.
Iniciação Científica abre portas
A experiência na iniciação científica também teve um impacto significativo em sua trajetória acadêmica. “Participar de Iniciação Científica mudou a minha visão e perspectiva dentro da área da psicologia, principalmente no entendimento de como funciona a vida e produção acadêmica, além disso me deu a possibilidade de seguir pesquisando esse tema e direcionando o futuro para essa área”, conta Cauê.
O estudante aponta que a Iniciação científica não é só para quem quer seguir a vida acadêmica, é algo que acho imprescindível a qualquer estudante interessado em aprender mais sobre sua própria área. “Estar próximo à ciência é estar próximo de entender uma das formas que o conhecimento é produzido, o que lemos nos livros da graduação é fruto de pesquisa, além disso, ainda é mais uma oportunidade de aplicar o conhecimento de forma prática”, finaliza.
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