As mudanças climáticas e os apelos urgentes por medidas que recuperem o meio ambiente e revertam os efeitos do aquecimento global abriram nas últimas décadas um novo campo de desenvolvimento econômico e social: a bioeconomia. Trata-se de um modelo que aproveita e utiliza recursos biológicos renováveis para produzir alimentos, energia, produtos industriais e serviços. É uma área que desperta a atenção de muitos países e organismos internacionais, que vêm discutindo o tema como uma estratégia importante de políticas públicas.
Recentemente, o G20 (grupo que reúne países com as 20 maiores economias do mundo) criou a “Iniciativa de Bioeconomia”, um espaço de discussões onde emissários de cada país ou organismo discutem questões e ideias sobre o uso sustentável da biodiversidade, o papel da bioeconomia na promoção do desenvolvimento sustentável e como a ciência, tecnologia e inovação podem ser utilizadas nesse sentido. Em uma de suas primeiras reuniões, ocorrida no dia 7 de maio em Brasília (DF), os integrantes da mesa estimaram que os negócios baseados no modelo têm um potencial de movimentar cerca de US$ 7,7 trilhões por ano em todo o mundo.
A professora Juliana Cordeiro Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial (PBI) da Universidade Tiradentes (Unit), explica que o conceito de bioeconomia “abrange a utilização sustentável de biomassa, biotecnologia e processos biológicos para criar soluções inovadoras que substituam materiais e processos tradicionais, reduzindo a dependência de recursos fósseis e minimizando impactos ambientais”. É um modelo que se apresenta sob as mais variadas formas, que dialogam com os chamados “setores tradicionais” da economia (primário, secundário e terciário).
“Na agricultura e pecuária, por exemplo, ela aparece na forma da produção sustentável de alimentos e matérias-primas renováveis, levando em consideração aspectos ambientais e ecológicos, observando oportunidades”, explica Juliana, citando como exemplo o desenvolvimento de biofertilizantes e controle biológico de pragas. “A bioeconomia se correlaciona intrinsecamente com agricultura e pecuária, promovendo práticas sustentáveis e a produção de biomassa. Aqui podemos também ver a possibilidade do uso de economia circular, onde resíduos podem virar oportunidades de negócio”, acrescenta.
Na área de saúde, farmacêutica e cosmética, destaca-se o uso de biotecnologia para desenvolver medicamentos, vacinas e terapias, além de produtos naturais como fonte de princípios ativos de medicamentos e produtos para cuidados pessoais. Já na indústria, sobressaem-se o desenvolvimento de bioplásticos, bioquímicos e biomateriais. Na área energética, a principal atividade é a produção de biocombustíveis, bioenergia e biogás. E na própria área ambiental, destaca-se a realização de tecnologias para tratamento de resíduos e recuperação de ecossistemas. Estas atividades também passam por serviços relacionados à pesquisa, desenvolvimento, consultoria ambiental e comercialização de produtos bioeconômicos.
Para a professora, existe um grande potencial para o crescimento das atividades bioeconômicas, tanto no Brasil quanto no mundo. “Para que essas atividades sejam mais consolidadas, são necessários incentivos governamentais (através de políticas públicas que promovam a bioeconomia), investimento em pesquisa e desenvolvimento (através do apoio financeiro para inovação tecnológica), infraestrutura adequada (com instalações e tecnologias para produção e processamento de biomassa), parcerias público-privadas (que é a colaboração entre governo, empresas e instituições de pesquisa) e educação e Capacitação, pela formação de profissionais qualificados”, destaca Juliana.
Formação necessária
Entre os profissionais mais demandados nas áreas ligadas à bioeconomia, e cujas vagas de trabalho estão em ampla expansão, estão cientistas, biólogos, químicos, engenheiros, técnicos e operadores de bioprocessos, profissionais de vendas e marketing de produtos bioeconômicos, consultores em biotecnologia e especialistas em sustentabilidade e gestão de resíduos.
Para contemplar as demandas de formação e qualificação de profissionais para atuação na área de biomedicina, a Unit mantém os cursos de graduação em Farmácia, Biomedicina e Engenharias, além de três programas de pós-graduação stricto sensu que estão entre os mais bem-conceituados do país, e que obtiveram resultados de excelência nas avaliações mais recentes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes): os de Biotecnologia Industrial (PBI) e de Engenharia de Processos (PEP) têm o conceito 6, equivalente ao padrão internacional. Já o de Saúde e Ambiente (PSA) está com a nota 5, correspondente à excelência nacional.
Além dos três programas, a Unit faz parte da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), uma rede de núcleos de pesquisa formada por 35 instituições e cerca de 200 pesquisadores dos nove estados do Nordeste e do Espírito Santo, que mantêm em conjunto um programa de doutorado em quatro áreas: Biotecnologia em Agropecuária, Biotecnologia em Saúde, Biotecnologia em Recursos Naturais e Biotecnologia Industrial. Este programa também é avaliado com o conceito 5 da Capes.
Também com ações que contemplam o incentivo à bioeconomia, a Unit mantém um incentivo à pesquisa aplicada e ao desenvolvimento de patentes, através de uma parceria com a Agência de Gestão de Inovação e Tecnologia (Agitec), ligada ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). Através dos próprios programas de pós-graduação e de outros núcleos, como o Unit Carreiras e o Tiradentes Innovation Center, a instituição firma uma série de parceria com empresas e startups ligadas à indústria, colaborando para a viabilização de estágios e projetos conjuntos.
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